Entre os festivais brasileiros que conseguiram atravessar décadas, poucos mantêm uma identidade tão clara quanto o Festival MADA. Fora do eixo Sudeste, o evento potiguar firmou presença no calendário da música ao longo de 27 edições consecutivas, enquanto acompanhava a transformação da cena e do próprio mercado.
Neste ano, o MADA acontece nos dias 17 e 18 de outubro, na Arena das Dunas, em Natal (RN), com um line-up que inclui Liniker, Marina Sena, Boogarins, Don L, Rachel Reis, Melly e a estreia do projeto Dominguinho, que reúne João Gomes, Mestrinho e Jota.pê.
Criado em 1998, o festival nasceu com foco nas movimentações da cena local, depois regional, e com o tempo passou a integrar o circuito nacional. A proposta de refletir os caminhos da nova música brasileira continua presente, agora com novas ferramentas de escuta e curadoria. A edição de 2024 reuniu 34 mil pessoas, gerou mais de 1.150 empregos diretos e impactou R$ 18 milhões na economia local, além de alcançar mais de 60 milhões de espectadores com transmissões ao vivo e redes sociais.
Aposta em encontros e novos formatos
Entre os destaques da programação deste ano está a estreia ao vivo de Dominguinho, projeto formado por João Gomes, Mestrinho e Jota Pê. Criado originalmente como um trabalho audiovisual intimista, gravado em formato de roda entre amigos, o repertório inclui releituras de faixas como “Pontes Indestrutíveis” (Charlie Brown Jr.), “Flor” (de Mestrinho e Erivaldo Júnior) e um medley com sucessos de João Gomes em novos arranjos. A passagem para o palco amplia o alcance da proposta, que articula referências entre tradição e produção contemporânea.
A presença de artistas em diferentes fases da carreira reflete o foco da curadoria do festival em manter diálogo com o cenário atual e abrir espaço para novas linguagens.
“Chegar aos 27 anos com uma programação tão conectada ao presente é motivo de orgulho. O MADA nunca foi um festival preso à nostalgia — nosso olhar está sempre voltado para o agora e para o que ainda está por vir”, afirma Pedro Barreira, diretor artístico do festival.
“Essa curadoria parte dessa urgência: não buscamos tendências embaladas, mas artistas que estão abrindo novas trilhas, na estética, no discurso, na forma de se colocar no mundo. O MADA.25 não é uma comemoração do que fomos, é uma celebração do que estamos nos tornando — e isso passa por escutar o agora com desejo, coragem e junto ao nosso público”, completa.

Curadoria orientada por escuta e dados
Segundo Pedro, a formação do line-up é um processo que envolve análise de dados, escuta direta nas redes sociais e acompanhamento contínuo do que vem sendo produzido em diferentes regiões.
“A curadoria do MADA sempre se mostrou atenta ao que vem sendo produzido na música contemporânea brasileira. Desde 1998, o festival nasceu com esse foco — inicialmente voltado à cena musical de Natal, expandindo-se depois para o Nordeste e, em seguida, para o cenário nacional”, explica.
A escolha de nomes passa por múltiplas etapas e considera tanto o momento artístico quanto o potencial de conexão com o público.
“Artistas como Rachel Reis, Melly e João Gomes são exemplos de talentos que chegaram ao line-up a partir dessa escuta constante. E isso é algo que talvez nem todo mundo saiba: hoje, ao montar o line-up, levamos em consideração dados de engajamento, comportamento do público nas redes e até sugestões diretas de fãs”, diz Pedro.
“Esse cruzamento tem sido essencial para mantermos uma curadoria relevante e atual”, complementa.
Ele também observa que essa prática não é apenas uma resposta ao comportamento digital, mas parte de uma visão mais ampla do papel dos festivais.
“Essa troca com o público tem sido fundamental para construirmos line-ups cada vez mais assertivos — tanto artística quanto comercialmente”, afirma.
Alcance nacional e impacto regional

O MADA tem atraído um público diverso, com quase metade da audiência de 2024 vinda de fora do Rio Grande do Norte. Estados do Nordeste, como Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia, formam a maior parte desse fluxo, mas há também público expressivo de São Paulo, Rio de Janeiro e outros centros urbanos. Visitantes internacionais também compõem a plateia, com destaque para turistas de Portugal, Espanha e Estados Unidos.
Esse alcance tem efeitos diretos na economia local. Segundo dados da produção, o festival movimentou R$ 18 milhões em 2024, com geração de empregos, ocupação hoteleira, ampliação de serviços e aumento no consumo em setores como transporte, alimentação e cultura.
O evento também inclui ações voltadas à sustentabilidade, em parceria com o IDEMA (Instituto de Defesa do Meio Ambiente do RN), empresas de reciclagem e cooperativas de catadores. A operação logística busca reduzir os resíduos e incentivar práticas mais responsáveis entre público, fornecedores e equipe.
Com patrocínio de Budweiser, Guaraná Antarctica, Governo do RN e Lei Câmara Cascudo, o festival mantém seu modelo de financiamento baseado em parcerias institucionais e apoio da iniciativa privada. A venda de ingressos já está disponível pelo site da Ingresse, e novos nomes devem ser anunciados ao longo das próximas semanas.
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