Brian Wilson, fundador dos Beach Boys, morreu nesta quarta-feira (11), aos 82 anos. A informação foi confirmada pela família por meio de comunicado oficial. Diagnosticado com esquizofrenia e, mais recentemente, com um distúrbio neurocognitivo severo, Wilson encerra uma trajetória marcada por inovações que ultrapassaram o universo do grupo e deram forma a parte do que se tornou padrão na indústria fonográfica.
Entre 1963 e 1967, o músico transformou o papel do estúdio de gravação, introduziu novas formas de organização sonora e estabeleceu métodos de produção que seriam replicados nas décadas seguintes. Ao lado dos Beach Boys, compôs sucessos que fizeram transições importantes do rock de rádio para um modelo mais sofisticado, no qual arranjo, engenharia de som e narrativa conceitual passaram a ser elementos centrais do processo criativo.
O estúdio como centro do processo criativo

Wilson foi um dos primeiros produtores populares a abandonar o modelo de gravação ao vivo no estúdio e fragmentar suas sessões em pequenos blocos sonoros, montados depois na pós-produção. Essa lógica, comum em produções contemporâneas, era vista como radical na época. A faixa “Good Vibrations”, lançada em 1966, foi montada a partir de sessões feitas em quatro estúdios diferentes, com músicos distintos, e custou cerca de 70 mil dólares — um valor altíssimo para os padrões da década.
O resultado foi uma canção com estrutura não linear, transições abruptas de atmosfera e um uso inédito de efeitos como o electro-theremin, que antecipava a estética psicodélica dos anos seguintes. O processo de composição com “feels” — blocos sonoros independentes — desenvolveu um modelo que hoje é base para a construção de músicas em camadas, especialmente na música pop e eletrônica.
Inovações harmônicas e narrativas
Com o disco “Pet Sounds” (1966), Brian Wilson adotou uma abordagem quase sinfônica para a música pop, usando elementos de música erudita, jazz e vanguardas experimentais. As harmonias vocais passaram a ter função de condução emocional e não apenas decorativa, e o uso de instrumentos como harpa, claves, tímpanos e até latas industriais expandiu o vocabulário da produção musical.
Além disso, Brian Wilson consolidou o conceito de álbum como obra coesa, com sequência e temática definidas — uma estrutura que inspirou os Beatles em “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e passou a ser adotada por diversas bandas nos anos 1970. O uso de interlúdios, reprises e ambientações sonoras aproximou a linguagem da música pop da música de concerto, redefinindo expectativas comerciais sobre o formato de um disco.
Emoção e vulnerabilidade como linguagem estética
Brian Wilson também ajudou a consolidar a vulnerabilidade emocional como parte da linguagem musical pop. Em faixas como “Don’t Worry Baby” e “In My Room”, ele tratou de temas como ansiedade, medo e isolamento, em contraponto ao imaginário ensolarado da Califórnia. Isso representou uma quebra de padrão para o período, em que a produção masculina era centrada em confiança e energia juvenil.
Essa dimensão subjetiva passou a ser explorada como valor artístico por artistas e bandas posteriores, como Bruce Springsteen, R.E.M. e Weezer, mesmo que em estilos totalmente diferentes. O modelo de composição que parte do conflito interno e se traduz em arranjos grandiosos se tornou recorrente em discos conceituais e também no pop mais confessional dos anos 2000.
Impacto técnico e institucional

A forma como Brian Wilson comandava as gravações também antecipou o papel moderno do produtor musical. Em vez de se limitar à função de engenheiro de som ou intérprete, ele acumulava responsabilidades como autor, arranjador, coordenador de estúdio e curador de repertório. A partir dele, o produtor passou a ser reconhecido como coautor da obra — modelo depois adotado por nomes como Phil Spector, Quincy Jones, Timbaland e Jack Antonoff.
O impacto técnico de suas produções também contribuiu para avanços na engenharia de som. A exigência de precisão na captação de múltiplas camadas e a manipulação de fita analógica forçaram os estúdios a adaptarem seus equipamentos. Técnicas como gravação com “baffles” (isolamento parcial), microfonação em proximidade extrema e uso criativo de reverb passaram a ser padronizadas em sessões comerciais.
Legado na indústria e na formação artística
Além da influência direta em bandas como Beatles, Fleetwood Mac, Vampire Weekend e Passion Pit, o trabalho de Brian Wilson é estudado em escolas de produção musical e engenharia de som como modelo de ruptura com o formato tradicional de gravação. Sua obra, especialmente “Pet Sounds” e “Smile”, é analisada por sua contribuição à arquitetura sonora da música popular moderna.
Apesar dos conflitos internos da banda, disputas jurídicas e longos períodos de reclusão, Wilson manteve sua relevância criativa com lançamentos solo, turnês retrospectivas e projetos especiais. Mesmo quando já demonstrava sinais de fragilidade, seguia sendo uma figura central na história da música gravada.
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