O cantor, compositor e multiartista Edy Star, conhecido por sua trajetória irreverente e por desafiar normas sociais e de gênero desde os anos 1970, morreu nesta quinta-feira, 24 de abril de 2025, aos 87 anos.
O artista baiano estava internado em São Paulo após sofrer um acidente doméstico na semana anterior. Ele faleceu em decorrência de complicações clínicas, incluindo insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda.
Figura singular da contracultura brasileira, Edy foi o único integrante ainda vivo do disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” (1971), projeto ao lado de Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. O álbum, considerado um marco da música experimental brasileira, desafiou padrões estéticos e morais em plena ditadura militar.
Da Bahia para o Brasil
Nascido Edivaldo Souza em Juazeiro, Bahia, em 10 de janeiro de 1938, Edy iniciou sua trajetória artística na infância, na Rádio Sociedade da Bahia. Ainda adolescente, já demonstrava uma mistura de talento cênico e ousadia estética que marcaria toda sua carreira. Nos anos 1960, migrou para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo, passando a integrar o circuito cultural de vanguarda.
Sua presença constante em teatros, boates e rádios foi marcada por uma performance fora dos padrões da época. Edy levava aos palcos referências do cabaré, da chanchada e do teatro de revista, usando figurinos exagerados e desafiando convenções sexuais e de gênero.
Contracultura e liberdade
O auge da sua visibilidade veio na década de 1970, com o disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, que combinava sátira, experimentação sonora e crítica social. Apesar de não ter obtido sucesso comercial na época, o projeto se tornou cult ao longo dos anos. Edy também participou da montagem brasileira de The Rocky Horror Show e lançou seu primeiro álbum solo, “Sweet Edy”, em 1974.
Nas décadas seguintes, dividiu-se entre o teatro, a televisão e a música. Na década de 1990, mudou-se para a Espanha, onde atuou como produtor de espetáculos e seguiu com trabalhos artísticos. De volta ao Brasil, relançou o álbum “Sweet Edy” e lançou “Cabaré Star” em 2017, com produção de Zeca Baleiro, e “Meu amigo Sergio Sampaio” em 2023.
Reconhecimento em vida

Nos últimos anos, Edy Star teve sua trajetória celebrada com novos projetos. Em janeiro de 2025, mês em que completou 87 anos, foi lançado o livro “Eu só fiz viver: a história oral desavergonhada de Edy Star”, do historiador Ricardo Santhiago, em parceria com Igor Lemos Moreira e Daniel Lopes Saraiva. A obra recupera sua história com base em depoimentos e memórias do próprio artista, além de registros históricos.
A biografia traz à tona passagens marcantes da sua carreira e vida pessoal, desde a infância na Bahia até os tempos em que viveu como imigrante na Europa. O livro também inclui o prefácio da amiga e cantora Maria Alcina, reforçando os laços afetivos e artísticos que marcaram sua trajetória.
Homenagens e novos projetos
Mais recentemente, Edy havia concluído a gravação de um disco em homenagem a Raul Seixas, seu antigo parceiro musical. O projeto está em busca de financiamento coletivo para ser lançado e promete ser mais um tributo afetivo à memória de uma amizade que atravessou décadas.
A morte de Edy Star ocorre em um momento em que sua obra voltava a ser discutida e valorizada por uma nova geração de artistas e pesquisadores. Seu nome está definitivamente ligado à luta por liberdade de expressão, visibilidade LGBTQIA+ e inovação artística no Brasil.
Legado para além da música
Edy Star será lembrado não apenas por sua produção musical, mas por sua postura pública. Foi o primeiro artista brasileiro a assumir publicamente sua homossexualidade em um período de forte repressão. Suas performances foram resistência política e cultural, abrindo espaço para outras vozes dissidentes no campo da arte e da música.
Com uma carreira que cruzou fronteiras e rompeu tabus, Edy deixa uma marca inapagável na história da cultura brasileira. Sua vida foi uma celebração da autenticidade e da liberdade criativa, atributos que inspiram ainda hoje artistas, pesquisadores e fãs.
Informações sobre o velório e homenagens públicas serão divulgadas em breve.
- Leia mais:
- Pablo Marçal é condenado por uso indevido de música de Dexter durante campanha eleitoral
- Edy Star morre aos 87 anos e deixa legado de liberdade e irreverência na música brasileira
- Fyre Festival cancela nova edição e anuncia venda da marca
- Paula Fernandes assina com a Opus Entretenimento e mira expansão da carreira com novos projetos
- YouGov revela que música é o formato de áudio mais ouvido por 86% dos brasileiros