Independentes mostram força em novo relatório sobre música na América Latina

Novo estudo do OLMI e WIN mostra que artistas ligados a selos independentes têm mais ouvintes e receitas em plataformas digitais.
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Nathália Pandeló
OLMI e WIN publicam relatório sobre música independente na América Latina
OLMI e WIN publicam relatório sobre música independente na América Latina (Crédito: Reprodução)

O sucesso digital de artistas latino-americanos está diretamente ligado à atuação de selos independentes, segundo novo relatório apresentado nesta terça-feira (8) pela Worldwide Independent Network (WIN) e pelo Observatório Latino-Americano da Música Independente (OLMI). O estudo foi conduzido entre 2023 e 2024 e analisou dados de oito países da região, com foco em distribuição digital e sustentabilidade econômica de músicos que atuam fora do circuito das grandes gravadoras.

A pesquisa aponta que artistas que trabalham com selos independentes apresentam maior número de ouvintes mensais e geram mais receita em plataformas digitais do que aqueles que lançam sua música de forma totalmente autônoma. A presença de infraestrutura local, como distribuidores digitais, está diretamente associada a níveis mais altos de profissionalização, renda e conhecimento da cadeia de valor digital.

Importância do suporte estrutural

Para a CEO da WIN, Noemí Planas, os dados confirmam a relevância do suporte oferecido pelos selos. 

“Esses resultados reforçam a noção de que o apoio estrutural e financeiro que os selos oferecem aos artistas é fundamental para seu sucesso no ecossistema musical. Investimentos públicos e privados para promover uma infraestrutura musical profissional na região são fundamentais para garantir o crescimento de todos os agentes.”

O relatório também revela que 60% da receita dos artistas latino-americanos ainda depende de apresentações ao vivo, o que evidencia a fragilidade do setor frente a crises como a da pandemia. 

Mesmo com o crescimento do streaming, a diversificação das fontes de renda é considerada essencial para reduzir a vulnerabilidade econômica dos profissionais da música.

Baixa rentabilidade no streaming

Apesar de mais de 60% dos artistas declararem obter alguma receita com streaming, menos de 10% conseguem gerar mais de US$ 5 mil por ano com essa fonte. A análise de dados de Chile, Costa Rica, Equador e Paraguai mostra que apenas 30% dos artistas ultrapassam a marca de 500 ouvintes mensais, o que os torna suscetíveis às recentes reformas nas plataformas de streaming, que passam a desmonetizar conteúdos abaixo de 1000 execuções.

Essa situação afeta principalmente os independentes, que, em muitos casos, dependem de agregadores digitais voltados ao modelo “faça você mesmo” (DIY). Além disso, 32,2% dos artistas entrevistados distribuem suas músicas por meio de empresas que se integraram — ou estão em processo de integração — a grandes gravadoras, demonstrando uma tendência de consolidação de mercado.

Noemí Planas, CEO da WIN, e Cristóbal Dañobeitia, diretor do OLMI (Crédito: Divulgação) independentes
Noemí Planas, CEO da WIN, e Cristóbal Dañobeitia, diretor do OLMI (Crédito: Divulgação)

Risco de concentração e desafios regionais

O relatório reforça que a existência de uma estrutura profissional de apoio é determinante para o desenvolvimento do setor. Selos independentes contribuem com expertise, contratos mais transparentes e estratégias de distribuição mais eficazes. Além disso, permitem que artistas tenham acesso a redes e eventos que ampliam sua visibilidade e oportunidades.

Segundo Planas, as constantes aquisições de grandes gravadoras no campo independente pede cautela.

“A consolidação no campo musical é preocupante por seu impacto na disseminação da música independente latino-americana, especialmente no mercado digital, onde vemos cada vez menos operadores independentes. A concentração de poder, informação e canais de acesso nas mãos de três grandes multinacionais se traduz em condições piores para os independentes, como modelos de streaming que desmonetizam seus conteúdos e que eles não têm outra escolha senão aceitar”.

Educação e colaboração como caminhos para independentes

A profissionalização do setor passa também pelo fortalecimento de redes colaborativas, como associações de classe e eventos da indústria musical. 

“O relatório reafirma a necessidade de consolidar um ecossistema profissional, informado e colaborativo na América Latina. A união entre agentes-chave e o investimento em educação, pesquisa e tecnologia são essenciais para garantir um crescimento equitativo e sustentável”, afirma Cristóbal Dañobeitia, diretor do OLMI.

Intitulado “La música independiente en Latinoamérica: cadena de valor y distribución digital”, o estudo foi desenvolvido por uma equipe interdisciplinar do OLMI em colaboração com associações como ABMI (Brasil), IMICHILE (Chile) e AMI PY (Paraguai), além de instituições como a AMPROFON, a Sociedad Chilena de Autores e Intérpretes Musicales (SCD), a Aliança Francesa da Costa Rica e a Universidad de los Andes.

A pesquisa destaca a importância de políticas públicas e iniciativas do setor privado que promovam o fortalecimento da cadeia produtiva da música independente. O foco em formação, capacitação e troca de conhecimento aparece como uma estratégia concreta para enfrentar os desafios estruturais enfrentados por artistas e produtores na região.

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