O consumo de música está cada vez mais fragmentado, e o domínio absoluto de superestrelas já não é tão forte quanto antes. Com o crescimento dos nichos, os artistas precisam encontrar formas de criar laços mais profundos com sua base de fãs para gerar engajamento e aumentar a monetização. O conceito de superfãs vem ganhando espaço nesse contexto, pois esses ouvintes, além de acompanhar um artista, se veem representados por ele.
O novo relatório da MIDiA Research, “The Superfans of Music Superstars | Identity and Cut-through”, analisou como essa identificação funciona na prática. A pesquisa ouviu mais de 2.000 consumidores nos Estados Unidos e indicou que a chamada “ressonância de identidade” — a sensação de que a conexão com um artista reflete quem a pessoa é — impacta diretamente o consumo.
Segundo o levantamento, fãs que sentem essa identificação têm maior probabilidade de comprar discos de vinil, CDs e produtos licenciados do que aqueles que interagem apenas pelas redes sociais.
Três caminhos para criar superfãs
A pesquisa identificou três estratégias principais para construir um fandom forte. Cada uma tem vantagens e desafios, dependendo dos objetivos do artista.
1. Fortalecer a marca do artista

Essa abordagem coloca a identidade do artista em primeiro plano, construindo um universo estético e conceitual que vai além da música. A conexão com o público ocorre mais pelo que o artista representa do que apenas pelas canções.
Charli XCX é um exemplo citado no relatório. Com a criação da identidade “Brat”, ela estabeleceu uma marca própria que cria forte relação com seu público, reforçando o senso de pertencimento entre os fãs.
No entanto, a pesquisa aponta que essa estratégia pode ter um impacto menor em termos de streaming diário, já que a relação dos ouvintes com a música pode ser menos intensa do que com a figura pública do artista.
2. Streaming e engajamento

Outro caminho é a priorização da música em detrimento da construção de uma identidade visual ou narrativa marcante. Nesses casos, os artistas precisam lançar músicas frequentemente para manter a atenção do público e garantir números expressivos nas plataformas de streaming.
O relatório aponta que o lançamento de álbuns, em vez de singles isolados, costuma ser mais eficaz para criar um vínculo duradouro e aumentar a base de ouvintes recorrentes.
Embora essa abordagem possa garantir bons números de streaming, pode ter um impacto menor em vendas de produtos físicos e ingressos. Como a conexão dos fãs é mais com a música do que com a figura do artista, a monetização tende a ser mais dependente da performance digital.
3. O equilíbrio entre música e imagem

O modelo mais difícil de alcançar, mas também o mais lucrativo, é aquele que equilibra identidade e música. Artistas que conseguem estabelecer uma presença marcante enquanto mantêm alto engajamento musical tendem a construir uma base fiel e disposta a consumir diferentes tipos de produtos.
O relatório cita Taylor Swift como exemplo de artista que une forte identidade e alto consumo de streaming. Entre os artistas analisados, ela apresentou o maior nível de identificação entre superfãs e um dos índices mais altos de ouvintes diários.
No entanto, sua presença nas redes sociais é inferior à de outros nomes do estudo, o que reforça que curtidas e compartilhamentos nem sempre são o melhor indicativo de engajamento real.
Monetização e fidelização
Independentemente do caminho escolhido, o relatório da MIDiA aponta que a chave para um fandom sustentável é entender o que faz um público se conectar com um artista. Superfãs não são apenas consumidores ocasionais, mas sim ouvintes dispostos a investir tempo e dinheiro na experiência oferecida.
Construir essa relação exige consistência, seja na comunicação da marca do artista, na frequência de lançamentos ou na criação de experiências exclusivas para o público. Em um cenário onde o crescimento de assinantes de streaming começa a desacelerar, apostar em superfãs pode ser um diferencial na receita de artistas e gravadoras.