O mercado da distribuição musical mudou drasticamente na última década. Antes, selos e artistas independentes tinham poucas opções além das grandes gravadoras para colocar suas músicas no mercado. Com a ascensão das distribuidoras digitais, a autonomia dos artistas aumentou, mas também trouxe novos desafios, como a concorrência acirrada e a necessidade de conhecimento estratégico para se destacar.
Arthur Fitzgibbon, diretor da ONErpm no Brasil desde 2012, acompanha essas transformações de perto. Sob sua liderança, a empresa tem se posicionado como uma das principais distribuidoras independentes, oferecendo ferramentas que permitem que artistas tenham mais controle sobre suas carreiras. Diferente das distribuidoras ligadas a grandes gravadoras, que buscam dominar o mercado, a ONErpm aposta na entrega de soluções tecnológicas para otimizar a performance de catálogos e faixas.
Ter uma distribuição eficiente é essencial para qualquer projeto musical. Mais do que apenas subir faixas para as plataformas de streaming, um bom trabalho de distribuição envolve planejamento, estratégia de marketing, gerenciamento de royalties e proteção contra fraudes. Empresas do setor oferecem esse suporte, mas o sucesso depende da forma como os artistas e selos utilizam essas ferramentas. Entender esse processo e adotar boas práticas pode ser a diferença entre um lançamento bem-sucedido e uma música que passa despercebida.
A seguir, Arthur Fitzgibbon explica,com exclusividade ao Mundo da Música, as tendências da distribuição digital para 2025 e o que artistas e selos podem fazer para se destacar no streaming.
Entrevista: Arthur Fitzgibbon (ONErpm)
Mundo da Música: Quais avanços tecnológicos na distribuição musical você acredita que terão maior impacto para selos e artistas independentes em 2025? Alguma ferramenta ou tendência específica está ganhando mais relevância?
Arthur Fitzgibbon: Eu vejo sim uma tendência de negócios acontecendo no mercado. Isso vem acontecendo há uns dois anos pelo menos, onde há a retomada das grandes corporações de música em obter controle do mercado fonográfico. Não é à toa que você vê movimentos das multinacionais adquirindo outras distribuidoras, outras empresas, comprando catálogos, e isso tem acontecido com os fundos de investimento também, onde o artista, que detém o controle da sua obra, ele fica sem muitas opções. Então, as empresas que se mantêm independentes, elas estão um passo à frente.
Puxando o assunto um pouco para o lado da ONErpm, há quase dez anos estamos fazendo isso, entregando ferramentas como o skip rate, o royalty share, e alinhando outras empresas ao grupo da ONErpm, como a Diverge, que é uma empresa de playlists, como uma editora que trabalha junto, tudo isso ainda deixando o artista com o controle.
Então, a tendência que eu vejo é de uma retomada do controle pelas grandes corporações de música, e as empresas que ainda são independentes estão entregando cada vez mais ferramentas, como a gente tem feito há muitos anos.
MM: Com o aumento da competitividade no mercado de streaming, que estratégias os selos e artistas podem adotar para se destacarem em um cenário de catálogos cada vez mais amplos?
Fitzgibbon: Eu acho que os artistas e os selos dos empresários brasileiros deveriam seguir uma tendência mundial que existe, em que se planeja com muita antecedência. Então, o artista internacional hoje, ele tem os próximos meses e anos já planejados, quando ele vai lançar um produto, ele já começa dois meses antes a fazer o pré-save, ele começa a se planejar muito antes, isso é resultado de um time muito bem entrosado e que entende do gênero musical específico.
Então, hoje, o artista precisa ter uma equipe de marketing e A&R dedicada ao gênero exclusivo dele. Não adianta uma equipe atender funk, gospel e MPB ao mesmo tempo. Precisa fazer com antecedência e precisa ter uma equipe especialista no gênero musical. Então, quem faz com antecedência e quem faz com maior conhecimento realmente vai dar um passo à frente de 90% do mercado.
MM: A inteligência artificial vem sendo usada tanto para potencializar a criação musical quanto para fraudes, como distribuição de faixas sem autorização. Como as distribuidoras, incluindo a ONErpm, estão se preparando para reforçar o combate a práticas ilegais no próximo ano?
Fitzgibbon: Na ONErpm, nós somos muito preocupados com fraudes, não só feita por inteligência artificial – porque ela é uma ferramenta que se for bem utilizada, ela auxilia o artista, auxilia o selo. Mas, tem que ter uma limitação, então, existe uma ferramenta chamada Sound Matching, que a gente faz uma varredura para entender se essa música não está sendo utilizada como fraude, para poder evitá-las. Lembrando que as plataformas, DSPs, não querem músicas neste sentido, que sejam 100% criadas por inteligência artificial. Usadas como uma ferramenta, daí sim, como foi o caso de muitos indicados ao Grammy, mas, na ONErpm, as nossas ferramentas de upload já fazem esse filtro e a gente tem uma equipe especializada também, não só para músicas criadas 100% por inteligência artificial, mas também para proteção aos direitos autorais dos artistas, para que sejam respeitados e eles tenham sua remuneração de acordo e justificada.
MM: Para artistas e selos em crescimento, que boas práticas você recomendaria para otimizar a distribuição e ampliar o alcance a novos públicos em 2025?
Fitzgibbon: Para 2025, tanto os artistas, como os selos, eles vão ter que focar, primeiro, em fugir dos atalhos. A indústria musical sempre ofereceu atalhos, seja pagando por estar em posições privilegiadas, contando com a compra de números fictícios, esperando que o resultado aconteça em um dia, uma semana, em um mês – lembrar que, quando a gente fala de uma carreira artística na música, ela é uma construção, então os catálogos mais valiosos que temos hoje são catálogos de 10, 20, 30, 40, 50 anos – não catálogos que nasceram no mês passado.
O artista tem que entender também que o dinheiro serve para impulsionar e não necessariamente ficar preso, o artista tem que pensar em como ele vai se comportar financeiramente nos próximos cinco anos, como ele vai dividir esse investimento nos próximos anos. Então, o artista não tem que se angustiar quando o resultado não acontece em um dia, uma semana, um mês – que são muitos casos, tipo ‘Não entrei em uma playlist’, mas, isso não tem problema nenhum, trabalhe o seu público, foque na sua audiência, faça o marketing em espiral, cresça um pouquinho aqui, depois vai andando um pouquinho mais, vai crescendo e vai fazendo. Esse marketing em espiral vai conquistando a cada lugar, a cada momento, um terreno maior ali, e aí, você utilizando essa maneira, enquanto o mercado brasileiro ainda está em crescimento no streaming, vai ficar mais forte.
É interessante falar isso, porque quanto mais lançamentos tem, mais artistas tem, mais músicas tem, menos as pessoas estão se desenvolvendo nessa parte de business e negócios, e isso faz com que quem se desenvolva, dê um passo gigantesco à frente, dois passos gigantescos à frente de quem não está preparado. E eu não estou só falando de artistas grandes, é o artista pequeno, que está começando ali, ele tem que se planejar com muita antecedência – quando eu falo antecedência, é distribuir sua música dois meses antes do lançamento, trabalhar o impulsionamento, conquistar os seus fãs dois meses antes e fazer isso com frequência.
Hoje, singles sempre foram muito bons nos últimos 10 anos, mas, se vocês notarem os artistas que tem mais se destacado e se mantido firmes por mais tempo são artistas que estão vindo com álbuns e de todos os gêneros, de funk, de trap, de pop, de axé, de forró, de brega, todos, tá?
Então, pensar em álbum hoje é um negócio muito importante para o artista – single é legal, ele dá sustentação, mas, o álbum vem para consolidar a vida artística.