Independentes manifestam preocupação com aquisição da Downtown pela UMG

Anúncio da compra de mais uma empresa pela Universal Music Group levanta alerta entre independentes sobre impacto no mercado musical na venda da Downtown
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Nathália Pandeló
Virgin Music Group e Downtown - logos

A recente tentativa da Universal Music Group (UMG) de adquirir a Downtown Music Holdings acendeu um sinal de alerta entre representantes do setor independente. A IMPALA e outras organizações têm expressado preocupação com os impactos dessa consolidação, especialmente na redução de alternativas para artistas e selos independentes. Tanto que publicaram uma nota conjunta – também envolvendo o Beggars Group e a A2IM – tornando pública essa questão.

O negócio, que envolve a Virgin Music Group, ocorre logo após a UMG adquirir a [PIAS], outra grande distribuidora independente. Essa sequência de aquisições gera incerteza sobre o futuro da diversidade musical e sobre a capacidade de labels independentes competirem em um mercado cada vez mais fechado sob o guarda-chuva das majors.

Concentração de mercado no centro das críticas

Helen Smith, presidente executiva da IMPALA, afirmou que essa movimentação da UMG representa um desafio significativo para o equilíbrio no mercado. 

“Esta é mais uma apropriação de mercado. Esperamos que as autoridades de concorrência em jurisdições-chave realizem investigações completas e bloqueiem esses acordos. Chegou a hora de reduzir a posição de mercado da UMG para o que já foi estabelecido. Esta é uma enorme apropriação de participação de mercado pela UMG e reduz seriamente as rotas independentes para o mercado. Esperamos que a nova Comissão Europeia estabeleça o padrão internacionalmente.”

Para ela, além de enfraquecer a competitividade, as aquisições da UMG limitam as opções para artistas e selos acessarem distribuição digital e negociação de contratos. Smith destacou que a perda de grandes players como Downtown e [PIAS] prejudica diretamente a diversidade no setor musical.

Líderes do setor apontam efeitos preocupantes

Martin Mills, fundador do Beggars Group, criticou a estratégia da UMG ao usar a marca Virgin para atrair independentes. 

“O uso cínico da marca Virgin, que antes era sinônimo de empreendedorismo independente, não deve esconder o fato de que isso se trata de domínio e controle absolutos. Paradoxalmente, a postura centrada no artista da UMG significa que ela já prejudicou milhões de artistas cujos direitos agora estão adquirindo. Este é mais um passo no caminho da pretensão da UMG de ser a fada madrinha dos independentes. Mas há um lobo sob essa capa.”

Outros representantes do setor reforçam que o impacto vai além da questão financeira. A consolidação reduz a liberdade criativa e coloca em risco o equilíbrio que sustenta a diversidade musical global.

Impacto no Brasil e em mercados emergentes

Músico e artista independente toca na rua
Crédito: Josh Appel/Unsplash

Na América Latina, as aquisições também geram preocupação. Felippe Llerena, presidente da ABMI (Associação Brasileira da Música Independente), alertou sobre os efeitos da concentração no Brasil, mencionando exemplos recentes como a compra da Som Livre pela Sony. Ele destacou a importância de proteger um ecossistema independente, permitindo que artistas e empresas cresçam de forma sustentável.

“A recente aquisição por grandes corporações de empresas que, até recentemente, eram independentes, é um alerta vermelho para toda a comunidade global da música independente. The Orchard, AWAL, Som Livre, Proper Music, Altafonte e agora Downtown Music são exemplos de como o capital multinacional está remodelando o setor. A ABMI acredita que é nosso dever proteger e promover um ecossistema independente, onde artistas, selos e empresas possam criar de forma livre e sustentável. Nossa luta é pela valorização da música como arte, cultura e expressão, e não como um simples produto de mercado.”

Cecilia Crespo, representante da ASIAr (Asociación de Sellos Independientes de Argentina), chamou atenção para o impacto na distribuição de royalties e no uso de dados de comportamento dos artistas. Para Crespo, a concentração de mercado prejudica a competitividade e amplia as desigualdades no setor.

“A concentração não apenas tem um impacto negativo na forma como as plataformas distribuem royalties para artistas e detentores de direitos (com base na participação de mercado), mas também no uso não regulamentado de dados e na inteligência derivada da análise desses dados e do comportamento de todos os atores envolvidos (artistas, públicos e usuários).”

Expectativas para ações regulatórias

A pressão sobre os reguladores cresce à medida que organizações como WIN e A2IM pedem intervenções mais firmes. Noemí Planas, CEO da WIN, criticou a abordagem da UMG, classificando-a como uma “extração de riqueza dos independentes”. Ela enfatizou a necessidade de equilibrar o poder de negociação para evitar distorções no mercado.

O histórico da UMG, que enfrentou restrições durante a compra da EMI em 2012, é frequentemente citado como precedente para possíveis medidas. Contudo, há dúvidas se essas limitações serão suficientes para conter a atual onda de consolidações.

O futuro do mercado musical independente

Enquanto UMG, Sony e Warner seguem ampliando suas aquisições, o debate sobre o impacto dessas operações se intensifica. Para muitos, a sobrevivência do setor independente depende de regulamentações mais rigorosas que protejam a diversidade e garantam um mercado competitivo.

A busca por equilíbrio no mercado não é apenas uma questão comercial. Para artistas e executivos, manter a diversidade musical é essencial para preservar a riqueza cultural e a inovação que definem a indústria global.

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