Foi dada a largada. A partir deste mês, o brasileiro festeja o São João, uma tradição religiosa que ganhou novos desdobramentos, com interpretações regionais por todo o país. Não é para pouco: as tradicionais festas juninas — em alguns lugares, julinas e até agostinas — são uma força motriz de comunidades e cidades inteiras. Tal como o Carnaval em outros pontos do país, estes eventos envolvem músicas específicas, fantasias e muito imaginário popular. As marcas, é claro, já notaram o potencial desse mercado.
Do interior nordestino às capitais do Sudeste e Sul, as festas juninas atraem milhões de visitantes, fortalecem a economia local e aquecem toda uma cadeia produtiva. Com patrocínios cada vez maiores, transmissões ao vivo e programações mais robustas a cada ano, os eventos preservam tradições e movimentam cifras altas. Segundo dados do Ministério do Turismo, as festas juninas de 2023 reuniram mais de 26,2 milhões de pessoas e injetaram R$ 6 bilhões na economia nacional.
A comparação com o Carnaval, portanto, não é exagerada. Em uma pesquisa da JLeiva Cultura & Esporte, divulgada em janeiro de 2025, 78% dos entrevistados nas capitais brasileiras afirmaram ter participado de festas juninas nos últimos 12 meses, contra 48% que frequentaram eventos de Carnaval. Em nenhuma capital o Carnaval superou o São João em adesão, evidenciando uma mudança de comportamento no calendário afetivo e cultural do país.
São João já é data sagrada no calendário do mercado musical
Com a consolidação das festas juninas como os eventos populares mais prestigiados do Brasil — um fenômeno que é tudo, menos recente —, a indústria da música vem aproveitando essa janela com inteligência. O mês de junho passou a ser, para muitos artistas, um período de alta temporada, com agendas cheias de shows em circuitos juninos e lançamentos temáticos voltados ao público forrozeiro.
Não por acaso, gravadoras, distribuidoras e plataformas de streaming também percebem o aumento de interesse por faixas associadas ao São João, com artistas do forró, piseiro e sertanejo figurando entre os mais ouvidos do mês.
O impacto também é perceptível na arrecadação de direitos autorais. Em 2023, o Ecad distribuiu R$ 5,5 milhões em direitos relativos a execuções públicas durante as festas juninas — um aumento de 54% em relação ao ano anterior, beneficiando mais de 17 mil compositores, intérpretes e produtores.
Além dos artistas, toda a cadeia de eventos ao vivo também se beneficia: técnicos de som, iluminadores, montadores de palco, profissionais de segurança e alimentação encontram no São João uma das principais fontes de renda do ano.
Os maiores eventos de São João do país

De norte a sul, as festas juninas se multiplicam em formatos diversos, com forte identidade regional. Algumas cidades, no entanto, se destacam pela grandiosidade, capacidade de público e repercussão nacional. Abaixo, uma seleção com os sete eventos mais emblemáticos do São João brasileiro.
São João de Campina Grande (PB)
Autointitulada “O Maior São João do Mundo”, a festa transforma a cidade paraibana em um imenso arraial urbano entre os meses de maio e julho. No Parque do Povo, a programação reúne centenas de atrações. Em 2024, a festa atraiu cerca de 3 milhões de pessoas e gerou mais de mil horas de música ao vivo.
São João de Caruaru (PE)
Concorrente direta de Campina Grande, Caruaru realiza uma das festas mais tradicionais e populares do Brasil. Reconhecida pelo Guinness World Records como o maior evento regional ao ar livre do mundo, a edição de 2024 movimentou R$ 688 milhões e recebeu 3,7 milhões de visitantes em 72 dias de programação.
A programação extensa incluiu mais de 1.300 atrações culturais distribuídas em 27 polos espalhados pela cidade, tanto na zona urbana quanto na rural. Essa ampliação do período festivo reflete o crescimento e a importância do evento, que gerou mais de 15 mil empregos diretos e indiretos, consolidando-se como um dos maiores e mais impactantes eventos juninos do Brasil.
Mossoró Cidade Junina (RN)
A festa junina de Mossoró é marcada pela valorização da cultura local e pela encenação do espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, que revive a resistência ao bando de Lampião. Em 2024, a cidade atraiu 1,3 milhão de visitantes. Para 2025, já são esperados mais de R$ 377 milhões em movimentação.
São João de São Luís (MA)
No Maranhão, o São João é celebrado ao longo de mais de 60 dias, com manifestações como Bumba Meu Boi, tambor de crioula e quadrilhas. Em 2025, a programação inclui diferentes formatos de festa popular, com destaque para arraiais oficiais espalhados pela capital e interior do estado.
São João de Nóis Tudim (SP)
Organizado pelo Centro de Tradições Nordestinas (CTN), o São João de Nóis Tudim é considerado o maior festejo junino da cidade de São Paulo. A edição de 2025 acontece de 31 de maio a 27 de julho, com entrada gratuita, apresentações de quadrilhas, vila cenográfica, parque de diversões e shows de forró.
São João de Curitiba (PR)
Em sua edição inaugural, em 2024, o São João de Curitiba se consolidou como o maior do Sul do país, atraindo mais de 30 mil pessoas ao Parque Barigui. A programação mistura tradição nordestina com a cultura local curitibana, apostando em experiências gastronômicas e apresentações como a da quadrilha Luar do Sertão, de Alagoas.
São João de Santo Antônio de Jesus (BA)
Conhecida como a capital do forró no Recôncavo Baiano, Santo Antônio de Jesus realiza uma das festas mais animadas do estado, com dezenas de atrações musicais nacionais e regionais. Em 2025, o evento será realizado entre 19 e 24 de junho, ocupando a praça principal da cidade.
O São João brasileiro é hoje uma das maiores vitrines culturais e econômicas do país. Seja em cidades do interior ou em capitais, os festejos são fonte de renda, celebração e manutenção da identidade popular. Para os profissionais da música e do setor de eventos, o mês de junho se tornou sinônimo de trabalho intenso. E, claro, de oportunidades que, bem aproveitadas, podem render frutos o ano inteiro.
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