YouTube paga US$ 8 bilhões à indústria da música no último ano e lança ferramenta para detectar deepfakes

YouTube diz ter aumentado os ganhos dos artistas e selos enquanto testa sistema que identifica conteúdos gerados por IA com rosto ou voz de criadores.
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Nathália Pandeló
YouTube Music introduz novidades para celebrar 10 anos
YouTube Music introduz novidades para celebrar 10 anos (Crédito: Reprodução)

O YouTube anunciou duas medidas com impacto direto no meio musical: um recorde de US$ 8 bilhões pagos à indústria da música entre julho de 2024 e junho de 2025, e o lançamento de uma ferramenta de detecção de deepfakes voltada para criadores do Programa de Parcerias da plataforma. As novidades reforçam dois pontos centrais do momento atual do streaming: a necessidade de transparência sobre como o dinheiro chega a artistas e selos e o avanço da inteligência artificial sobre direitos de imagem e voz.

Segundo o chefe global de música do YouTube, Lyor Cohen, o valor pago ao setor representa um crescimento de cerca de 33% em relação ao último balanço divulgado, que somava US$ 6 bilhões. A empresa afirma que esse resultado é fruto do modelo “de dois motores”, baseado em publicidade e assinaturas do YouTube Music e do YouTube Premium. Ainda assim, a distribuição desse montante entre artistas, gravadoras e editoras continua a ser tema de debate dentro do setor.

YouTube na tela de um celular
(Crédito: Free Stocks)

Como o dinheiro chega aos artistas

Os pagamentos do YouTube à indústria são divididos entre as receitas geradas por anúncios e assinaturas. Parte significativa vem do uso de músicas em vídeos criados por fãs, como covers, remixes e Shorts. Nesses casos, o sistema de gestão de direitos Content ID identifica automaticamente o uso de faixas registradas e direciona a receita proporcional ao detentor dos direitos.

Na prática, isso significa que um artista pode receber mesmo quando sua música aparece em conteúdos de terceiros. O dinheiro é repassado aos titulares cadastrados, normalmente por meio das gravadoras, distribuidoras ou sociedades autorais que intermediam o processo. O modelo é considerado uma das principais fontes de receita para artistas independentes que têm catálogos amplamente utilizados em vídeos de usuários.

O YouTube afirma ainda ter mais de 125 milhões de assinantes entre o Music e o Premium e 2 bilhões de usuários logados assistindo vídeos musicais mensalmente. Apesar do crescimento, o pagamento por uso individual continua mais baixo que o de serviços puramente musicais, como o Spotify ou a Apple Music. Especialistas apontam que o volume e a diversidade de conteúdo da plataforma compensam essa diferença, tornando o YouTube uma vitrine essencial para novos artistas e um complemento relevante de receita para os já consolidados.

Lyor Cohen YouTube
Lyor Cohen, head global de música do YouTube (Crédito: Divulgação)

Ferramenta contra deepfakes

Paralelamente ao anúncio financeiro, o YouTube iniciou a implementação de uma ferramenta para detectar vídeos gerados por inteligência artificial que reproduzem rosto ou voz de criadores sem autorização. O recurso está em fase inicial e disponível apenas para integrantes do Programa de Parcerias, mas deve se expandir nos próximos meses.

O processo começa com a verificação de identidade: o criador precisa confirmar seus dados, enviar um documento e gravar um breve vídeo de selfie. Depois, o sistema monitora automaticamente o uso de imagem e voz, listando os resultados na aba “Likeness” do YouTube Studio. Caso identifique conteúdos suspeitos, o usuário pode solicitar a remoção por violação de privacidade ou registrar um pedido de retirada com base em direitos autorais.

A ferramenta funciona de forma semelhante ao Content ID, mas voltada para proteger a imagem pessoal e a voz. Segundo a plataforma, ela foi desenvolvida em parceria com a Creative Artists Agency (CAA) e busca evitar casos de uso indevido, como vídeos que simulam falas, opiniões ou apoios comerciais de artistas sem consentimento.

Imagem de um robô tocando piano ao lado do logotipo do YouTube, simbolizando a interseção entre tecnologia e música na plataforma.
‘Acreditamos que a IA deve aprimorar a criatividade humana, não substituí-la’, diz YouTube. Foto: Unsplash

Limites e implicações para o mercado

Embora o sistema represente um avanço na tentativa de controlar os efeitos da IA generativa, o YouTube reconhece que ele ainda não é capaz de identificar todas as manipulações. Imagens de baixa qualidade ou conteúdos alterados de forma sutil podem escapar da detecção. A empresa também permite que criadores desativem a ferramenta a qualquer momento, interrompendo o monitoramento em até 24 horas.

Para músicos e profissionais do setor, a novidade reforça a importância de acompanhar o uso de voz e imagem nas plataformas digitais. A criação de versões sintéticas de artistas já provocou disputas legais recentes em outros serviços, e a implementação de mecanismos como este tende a influenciar negociações futuras entre plataformas, gravadoras e titulares de direitos.

Os dois anúncios mostram o equilíbrio que o YouTube tenta manter entre expansão econômica e responsabilidade tecnológica. De um lado, a plataforma se consolida como uma fonte de receita; de outro, busca limitar os riscos trazidos pela inteligência artificial ao mesmo ecossistema que ajuda a sustentar.

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