O mercado europeu de música física registrou um novo salto na popularidade dos discos de vinil em 2025. De acordo com a Key Production, principal agência de manufatura física musical da Europa, o número de pedidos de produção de vinil cresceu 50% entre janeiro e maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024. Além disso, a quantidade média por encomenda aumentou 41%.
A empresa, que atende majoritariamente o setor independente, afirma que o interesse por vinil não está restrito aos grandes lançamentos das gravadoras tradicionais. A tendência aponta para um movimento mais amplo de revalorização da música física, alimentado também pelo comportamento de novas gerações.
Os dados chegam meses após o anúncio da British Phonographic Industry (BPI) de que, pela primeira vez em 20 anos, as vendas de música física no Reino Unido tiveram crescimento anual (1,4%) em 2024. O avanço foi liderado pelos discos de vinil, com aumento de 9,1% nas vendas de álbuns, marcando o 17º ano consecutivo de crescimento no formato. A desaceleração na queda de vendas de CDs, que caíram apenas 2,9%, também contribuiu para o resultado positivo.
Gerações mais jovens impulsionam formato físico
Segundo a CEO da Key Production, Karen Emanuel, o sucesso atual do vinil tem relação direta com o público mais jovem.
“Em uma era dominada pelo streaming, são as gerações mais novas que continuam a impulsionar a demanda por música física”, declarou Emanuel. Para ela, o vinil oferece uma experiência mais autêntica, com apelo sensorial e emocional que os formatos digitais não conseguem replicar. “Transforma a música em algo tangível — algo para segurar, exibir, colecionar e se conectar de forma mais profunda.”
A pesquisa encomendada pela empresa, com mais de dois mil entrevistados no Reino Unido, revelou que 46% das crianças da Geração Alpha (de 1 a 16 anos) já escutam música em formatos físicos. O mesmo percentual se aplica a pais que afirmam que seus filhos escutam CDs. Em relação aos discos de vinil, 38% dos pais disseram que seus filhos ouvem o formato, e 36% afirmaram que as crianças sabem usar uma vitrola.
O dado reforça o papel do vinil como elemento de iniciação musical, especialmente no contexto doméstico. Não se trata apenas de nostalgia ou colecionismo: há uma formação cultural em desenvolvimento, baseada na escuta ativa e na relação tátil com o suporte físico.
Record Store Day reforça cenário favorável

Outro termômetro importante foi a edição de abril do Record Store Day, que se consolidou como a maior e mais bem-sucedida da história do evento em seus 18 anos de existência. O crescimento da data, focada em lançamentos exclusivos em vinil e no incentivo às lojas independentes, reflete o engajamento do público e o fortalecimento do setor.
A Key Production é responsável por prensagens e embalagens de artistas como Oasis, Nick Cave, Alt-J, Idles, Little Simz, Ezra Collective, PJ Harvey e Raye, esta última com o álbum de estreia vencedor do BRIT Awards. A variedade no perfil dos clientes reforça a diversidade de nichos que o vinil hoje atende: do indie ao pop, do rock ao jazz contemporâneo.
Cultura da escuta e conexão física
Para Karen Emanuel, o fenômeno não deve ser interpretado como modismo passageiro.
“Não é uma tendência temporária; reflete uma mudança cultural mais profunda”, afirmou. A executiva, que também foi eleita a Empresária do Ano pela Music Week, acredita que os formatos físicos ocupam hoje um espaço de valor simbólico em meio à saturação digital. “A música física não é mais considerada uma relíquia do passado — é parte do futuro, e veio para ficar.”
Na mesma linha, Jo Twist, CEO da BPI, reforçou a importância do formato na formação de novos públicos.
“É maravilhoso ver a próxima geração de fãs de música já desenvolvendo amor pelo vinil e apreço pelo CD, que, ao lado do streaming, fazem parte da incrível variedade de formas de descobrir e ouvir música”, disse Twist.
O avanço dos discos de vinil como escolha relevante para jovens e crianças em plena era do streaming mostra que o mercado fonográfico vive um momento de reconfiguração. O formato físico, longe de ser substituído, ganha novas funções e sentidos no imaginário musical contemporâneo.
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