O Universal Music Group (UMG) e a Sony Music anunciaram uma parceria com a SoundPatrol, laboratório de pesquisa especializado em grandes modelos musicais, para combater o uso não autorizado de obras por geradores de música baseados em inteligência artificial. A iniciativa busca proteger os artistas diante de um cenário em que casos de violação de copyright e disputas judiciais contra startups de IA musical se tornam cada vez mais frequentes.
Segundo a SoundPatrol, o diferencial está em sua tecnologia de “neural fingerprinting” (impressão digital neural), ainda em processo de patente. O modelo, descrito como “forense para áudio e vídeo”, utiliza embeddings neurais mapeamentos numéricos) que capturam e analisam semânticas musicais, permitindo identificar a influência de músicas originais em conteúdos criados parcial ou totalmente por IA. Essa inovação vai além das soluções tradicionais de fingerprinting, que se limitam a encontrar trechos idênticos em gravações já conhecidas.
Como funciona a tecnologia
O sistema proposto pela SoundPatrol traduz elementos musicais, como acordes e melodias, em representações numéricas, facilitando a comparação entre músicas humanas e conteúdos derivados por IA. Assim, passa a ser possível detectar cópias exatas e versões alternativas como covers, remixes e composições derivadas de modelos generativos.
De acordo com o laboratório, a aplicação prática da ferramenta pode ajudar não só gravadoras e editoras, mas também plataformas de streaming e centros de pesquisa que buscam evitar violações de direitos autorais. A expectativa é que o mecanismo seja integrado de forma preventiva, criando camadas adicionais de controle sobre o que é disponibilizado ao público.
Declarações das majors
Para o chairman e CEO da UMG, Sir Lucian Grainge, a iniciativa reforça a posição da companhia em equilibrar inovação e proteção de artistas.
“Estamos constantemente focados em viabilizar a IA, trazendo ao mercado as muitas oportunidades comerciais e criativas que beneficiarão nossos artistas, ao mesmo tempo em que estabelecemos ferramentas eficazes para protegê-los. Trazer soluções para a mesa que apoiem toda a indústria está no centro de nosso relacionamento com a SoundPatrol, que compartilha nosso compromisso de salvaguardar a integridade criativa e o trabalho de nossos artistas.”
Na mesma linha, o presidente de negócios digitais globais da Sony Music, Dennis Kooker, ressaltou a importância de combinar inovação e proteção.
“As possibilidades da IA apresentam oportunidades para artistas e criadores quando usada da maneira correta. Estamos comprometidos em navegar por esse cenário em desenvolvimento protegendo o trabalho deles e, ao mesmo tempo, explorando o potencial inovador dessas tecnologias. Nossa colaboração com a SoundPatrol é sobre respeitar os direitos dos artistas para construir um ecossistema sustentável e igualitário para todos.”
Entendendo a SoundPatrol

A SoundPatrol foi fundada na Califórnia em 2025, mas sua origem está ligada a pesquisas conduzidas na Stanford University. O laboratório reúne acadêmicos de renome em inteligência artificial, machine learning e cibersegurança, como Percy Liang, Chris Re e Dan Boneh, além de engenheiros vindos de instituições como Carnegie Mellon e UC Berkeley. Entre seus cofundadores estão Walter De Brouwer, que atua como CEO, e Michael Ovitz, executivo de longa trajetória na indústria do entretenimento.
De Brouwer defendeu a necessidade de preservar a propriedade intelectual na era da IA generativa.
“A IA generativa está transformando a música de maneiras extraordinárias, mas, se abandonarmos os direitos autorais, corremos o risco de separar os artistas da propriedade de seu próprio trabalho. É obrigatório alimentar proativamente os embeddings profundos dessas assinaturas neurais nas infraestruturas de streaming para que os proprietários possam manter o controle, a autenticidade e a monetização de sua propriedade intelectual na era da IA generativa. Eliminar os direitos autorais para acelerar a IA é como mudar a velocidade da luz para avançar a física – isso interpreta mal as leis fundamentais que sustentam a criatividade.”
Já Ovitz chamou a parceria de um marco para a indústria:
“Esta é uma enorme vitória para todos os artistas no universo criativo. Um dos principais problemas que sempre afetou os artistas foi a proteção de seus direitos de propriedade intelectual. A SoundPatrol respondeu ao problema de longa data do roubo de propriedade intelectual ao criar um laboratório de ponta com capacidades de fingerprinting neural que podem identificar todos os fluxos de conteúdo transmitidos diretamente, seja de forma isolada ou misturada, em tempo real. Esta é a primeira tecnologia de seu tipo implementada para proteger todos os detentores de direitos autorais e criadores de qualquer tipo de propriedade intelectual.”
Impactos no mercado
O anúncio ocorre em meio a uma onda de processos movidos por entidades como a Recording Industry Association of America (RIAA) contra empresas de IA, incluindo a Udio e a Suno, acusadas de treinar seus modelos com músicas protegidas por copyright sem autorização. Nesses casos, a dificuldade em comprovar a infração tem sido um dos principais obstáculos legais.
A expectativa é que os dados fornecidos pela SoundPatrol sirvam como respaldo técnico em disputas judiciais, oferecendo provas baseadas em algoritmos para identificar similaridades entre criações humanas e conteúdos gerados por IA. Além disso, a tecnologia poderá fortalecer a negociação entre majors, plataformas e startups, ao impor novos parâmetros de transparência e responsabilização no mercado musical.
Próximos passos
A SoundPatrol também anunciou que vai desenvolver ferramentas adicionais para terceiros, incluindo plataformas digitais, com foco em prevenção de violações. O objetivo é criar um ecossistema criativo mais sustentável, no qual artistas possam monetizar suas obras com maior segurança, mesmo diante do avanço das tecnologias generativas.
O movimento das majors reforça uma tendência: enquanto buscam explorar o potencial criativo e comercial da inteligência artificial, as gravadoras pressionam para que a tecnologia avance sem colocar em risco os direitos autorais que sustentam toda a cadeia musical.
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