Udio lança ferramenta que imita estilo de músicas já existentes e reacende debate sobre direitos autorais

Nova funcionalidade da Udio permite criar composições com base na “identidade sônica” de faixas pré-existentes. Empresa alega que só aceita conteúdos controlados pelo usuário.
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Nathália Pandeló
Udio

A plataforma de geração musical por inteligência artificial Udio anunciou o lançamento de duas novas ferramentas. A principal delas, chamada Udio Styles, permite criar músicas a partir da “identidade sônica” de faixas já existentes. A novidade chega em meio a um cenário de forte questionamento jurídico, com a empresa sendo alvo de processos por suposto uso indevido de obras protegidas por direitos autorais.

Mesmo sob disputa legal, a Udio tem mantido foco no desenvolvimento de soluções para criadores independentes e comerciais. Com o Styles, a promessa é facilitar o processo criativo para quem precisa manter uma estética sonora consistente em projetos como trilhas sonoras, publicidade, música de fundo e podcasts.

Como funciona a Udio Styles

A funcionalidade permite que os usuários façam upload de um trecho de áudio e usem esse material como referência para gerar novas músicas com instrumentação, timbre e atmosfera semelhantes. A intenção é oferecer um fluxo de criação mais fluido e direto, sem a necessidade de longas descrições textuais para capturar o “clima” desejado.

Segundo declaração da empresa publicada no site Music Business Worldwide, “em vez de lutar com comandos de texto para tentar capturar uma vibração, agora você pode simplesmente mostrar à Udio exatamente o que está procurando”. 

A empresa afirma que a ferramenta foi projetada para funcionar apenas com músicas que os usuários “possuam ou controlem”, como forma de evitar violações de direitos autorais.

Reações da indústria e limitações

A funcionalidade foi bem recebida por alguns músicos que já experimentaram a plataforma. Para o tecladista Jordan Rudess, vencedor do Grammy, “a nova funcionalidade Styles da Udio torna esse processo incrivelmente intuitivo — você pode alimentá-la com suas próprias ideias musicais e ouvir instantaneamente como elas ganham forma em uma variedade de gêneros”. Ele complementa: “Não é apenas inspirador — abre sua mente para novas possibilidades e ajuda você a evoluir como artista”.

Ainda assim, há dúvidas sobre como a Udio pretende garantir que apenas conteúdos controlados pelo usuário sejam utilizados. A empresa não detalhou mecanismos técnicos ou de fiscalização que impeçam o uso indevido de faixas protegidas. Isso levanta preocupações em relação à possível replicação não autorizada de obras de terceiros.

Atualização do modelo e foco em produtividade

Programa com faixas sonoras - Udio

Além da ferramenta Styles, a empresa lançou uma nova versão de seu modelo de geração musical, o Allegro v1.5. A atualização promete aumentar em 30% a velocidade de criação das faixas, mantendo a qualidade e a coerência do áudio gerado. Para Andrew Sanchez, cofundador da Udio, os recursos são voltados a “ajudar os criadores a explorar sua identidade musical e fazê-lo mais rápido”.

A melhoria é estratégica para o posicionamento da Udio no mercado, especialmente em relação a concorrentes como a startup Suno. Enquanto a Suno se destaca por sua capacidade de replicar vozes humanas com forte apelo emocional, a Udio aposta em áudio de alta fidelidade e ferramentas avançadas de personalização sonora.

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Processos e tensão jurídica

Em 2024, a Udio e a Suno foram processadas por três das maiores gravadoras do mundo: Sony Music Entertainment, Universal Music Group e Warner Records. As empresas acusam as plataformas de terem treinado seus modelos de inteligência artificial com gravações protegidas por direitos autorais, sem autorização prévia.

As gravadoras argumentam que esse tipo de prática pode prejudicar o valor das obras artísticas originais, inundando o mercado com conteúdo automatizado. Em sua defesa, as duas empresas de IA alegam que o uso dos materiais se enquadra na cláusula de “uso justo” da legislação dos Estados Unidos. Também afirmam que as ações judiciais são uma tentativa de barrar a inovação e eliminar concorrência.

Discussões legais sobre obras criadas por IA

O caso da Udio reacende discussões sobre a titularidade de obras criadas por inteligência artificial. Juristas apontam que, segundo a legislação atual, músicas geradas exclusivamente por máquinas não são protegidas por direitos autorais nos Estados Unidos. No entanto, se houver participação humana relevante no processo criativo, o conteúdo pode ser considerado elegível para proteção.

A ausência de uma regulamentação clara sobre a produção musical por IA expõe lacunas legais em um setor em rápida transformação. A Udio, ao condicionar o uso da Styles a conteúdos controlados pelos próprios usuários, tenta contornar o impasse, mas ainda há incertezas sobre a eficácia dessa política.

A trajetória da Udio evidencia a tensão entre inovação tecnológica e a preservação de direitos criativos. A forma como esse e outros casos serão resolvidos pode influenciar e até ditar os rumos do futuro da produção musical e novas regulamentações para o uso de inteligência artificial na indústria.

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