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UBC homenageia Lia de Itamaracá com o ‘Troféu Tradições’

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Redação

A União Brasileira de Compositores (UBC) realiza no dia 6 de junho, na Casa de Francisca, localizada no Palacete Teresa, a terceira edição do ‘Troféu Tradições’. O evento irá homenagear Lia de Itamaracá, considerada a mais célebre cirandeira do Brasil. 

Patrimônio Vivo de Pernambuco, Lia de Itamaracá é Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco.  A estrela, que negritou a história da cultura popular brasileira e será enredo no Carnaval 2024 da Império da Tijuca, no Rio de Janeiro, e da Nenê de Vila Matilde, em São Paulo, receberá a honraria das mãos da cantora e Diretora Presidente da UBC Paula Lima.

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O show contará com participações especiais e será transmitido ao vivo pelo canal da UBC no YouTube. No palco a artista de 79 anos apresentará seus grandes sucessos, como ‘Desde Menina’, ‘Meu São Jorge’, ‘Eu Sou Lia Minha Ciranda Preta Cirandeira’, ‘Dorme Pretinho’, ‘Nagô Nagô’, entre outras.

Para Lia, receber o troféu é uma honra e é muito importante que essas homenagens sejam feitas em vida.

 “Eu venho levando essa ciranda de Pernambuco para todo Brasil e para o mundo há 50 anos. Vou fazer 80 ano que vem, então é muita estrada e muita história que venho trazendo na bagagem. Eu estou muito feliz e maravilhosa com tudo isso que está acontecendo, as homenagens mostram que a luta de Lia valeu a pena”, afirma Lia de Itamaracá.

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Lia de Itamaracá. Foto: Ytallo Barreto.

Segundo Paula Lima, a escolha de Lia vem de encontro à proposta do ‘Troféu Tradições’ em valorizar e enaltecer grandes artistas fundamentais para a música brasileira.

 “A UBC acredita em música, arte e cultura e em 2021 criou o Troféu, que já homenageou mulheres potentes do nosso cenário, para além do tempo, com sonoridades brasileiríssimas. O Troféu propõe diversidade e respeito ao gênero. Este ano, com muita alegria, vamos homenagear a obra e a arte da essencial e única Lia de Itamaracá. Em 2024, Lia completa 80 anos e também será homenageada por escolas de samba do Rio e de São Paulo. Viva a música brasileira e a grandiosa Lia de Itamaracá!”, celebra Paula Lima.

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Paula Lima. Foto: Divulgação

Diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco comenta que o prêmio se confirma como um radar regional para as riquezas musicais do Brasil, especialmente as protagonizadas pelo olhar feminino. 

“Nos enche de orgulho homenagear personagens fundamentais da construção de nossa música e história. Nesta terceira edição vamos comemorar a mais célebre cirandeira do nosso país, uma referência máxima do gênero”, afirma Marcelo Castello Branco.

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Marcelo Castello Branco. Foto: Divulgação

Esta é a terceira vez que o ‘Troféu Tradições’ destaca uma compositora. Na primeira edição do prêmio, em 2021, a UBC homenageou Anastácia, conhecida como “Rainha do Forró”. Já no segundo ano, em 2022, a artista eleita para receber o prêmio foi Dona Onete, fenômeno Paraense que conquistou o Brasil e o mundo.

Segundo dados divulgados na edição deste ano do estudo ‘Por Elas Que Fazem a Música’, realizado pela própria UBC, o relatório ratifica uma persistente desigualdade de gênero no Brasil. 

Trazendo como referência a base de dados da UBC acerca da distribuição de direitos autorais, o levantamento aponta que, apesar do aumento da quantidade de associadas, o total distribuído para as mulheres no ano de 2022 cresceu pouco em relação ao ano de 2021, se comparado ao valor dos homens, fazendo com que elas representassem apenas 10% desse valor.

Quem é a maior cirandeira do Brasil?

Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, em 12 de janeiro de 1944, filha de uma empregada doméstica e de um agricultor, Lia conta que desde muito nova sabia que queria ser uma cantora. 

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Lia de Itamaracá. Foto: Divulgação

Atualmente com seu canto potente e inconfundível, entoa cirandas clássicas que embalam as danças brasileiras desde os anos 70, quando estreou profissionalmente no palco. Detentora do saber de um bem cultural, a ciranda, titulada Patrimônio Imaterial do Brasil, Lia sempre ousou ao quebrar as regras que comumente se aplicam aos chamados artistas da cultura popular.

Lia começa sua trajetória revolucionando o próprio fazer da ciranda. Num tempo em que eram os mestres cirandeiros que ditavam o tom da brincadeira, tendo o improviso como característica imprescindível, a artista sobe ao palco decidida a ser a maior intérprete do gênero. Sai vitoriosa do primeiro festival de Cirandas de que participou, em 1974, no Pátio de São Pedro, celeiro dos maiores cirandeiros do Estado, e dali não para mais.

Ainda cozinheira do Bar Sargaço, na praia de Jaguaribe, uma das mais populares da Ilha de Itamaracá, Lia virou uma espécie de embaixadora da cultura de Pernambuco. A guerreira também trabalhou numa escola pública do próprio bairro como merendeira, função que exerceu até se aposentar. A musiquinha que ouvia dos alunos era uma paródia do maior hino da ciranda de todos os tempos: “Essa ciranda quem me deu foi Lia”, composição do mestre cirandeiro Antônio Baracho, que deu fama a artista. 

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Lia de Itamaracá. Foto: Divulgação

Participando de outros festivais de ciranda que passaram a acontecer na própria ilha, viajando para representar Pernambuco em outros estados, fazendo apresentações nos ciclos festivos do São João, Lia foi construindo sua trajetória.

O disco ‘Lia de Itamaracá Rainha da Ciranda’ foi lançado com bastante repercussão na mídia nacional, no ano de 1977, pela gravadora pernambucana Rozenblit. No entanto, desse trabalho a cirandeira só viu a relativa fama e míseros 25 exemplares, que rapidamente se esgotaram, após serem distribuídos com familiares, amigos e pessoas que lhe ajudaram a gravar o primeiro LP. Lia atravessou os anos 80 com respeitável reconhecimento mas poucos convites ou remunerações justas para suas apresentações.

Nos anos 1990, graças à revolução trazida pelo Movimento Manguebeat, liderado por Chico Science, Lia volta à cena grandiosa, a partir de uma apresentação memorável no festival Abril pro Rock de 1998. A cirandeira havia sido ovacionada por uma plateia que provavelmente nunca havia estado numa roda de ciranda. Quase vinte anos depois do primeiro disco, e um novo gerenciamento de carreira, e a artista grava ‘Eu Sou Lia’, lançado nos anos 2000. Na sequência, realiza sua primeira turnê por terras estrangeiras. Foram sete shows em Paris onde o disco ganhou uma versão por selo francês  além de mais shows em Berlim.

O CD ‘Ciranda de Ritmos’, em 2008, consolida a imagem da artista popular que tem a ciranda por base, mas transita por gêneros como coco e maracatus. O disco passa a moldar as apresentações ao vivo de Lia, que leva para o palco uma seleção preciosa de canções populares e tradicionais dos ritmos que passa a interpretar. 

Após mais de dez anos, chega o álbum ‘Ciranda sem Fim’, de 2019, o quarto e mais recente registro fonográfico da cirandeira mais famosa do Brasil. Com produção musical de DJ Dolores, seu repertório ofereceu um desafio a Lia: cantar novas sonoridades, indo além da cirandas e cocos, sem se desvirtuar de suas referências fundamentais. O trabalho, lançado em CD, vinil e disponível em todas as plataformas de streaming, apresenta um hibridismo sonoro com execuções orgânicas da banda tradicional de Lia em harmonia com beats eletrônicos, guitarra, bateria e canções contemporâneas.

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Lia de Itamaracá. Foto: Divulgação

Prestes a completar 80 anos de vida, Lia  segue fincada na tradição.No ano em que lançou o disco ‘Ciranda sem Fim’, também subiu em outro palco: desta vez, para receber do reitor e de dirigentes dos mais diversos departamentos de estudos da Universidade Federal de Pernambuco, o título de Doutora Honoris Causa, um reconhecimento pelos seus saberes, trocas, repasses de toda uma vida dedicada à cultura e, consequentemente, à educação.

 

SERVIÇO

TROFÉU TRADIÇÕES UBC

Terceira edição: homenagem à Lia de Itamaracá

Data e horário: 06 de junho, às 21h30

Local: Casa de Francisca (R. Quintino Bocaiúva, 22 – Sé, São Paulo – SP)

Vendas: Pixel Ticket

Transmissão ao vivo através do Youtube da UBC