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“Todo mundo tem pressa de ser o próximo a brilhar”, revela Dj Meme em entrevista

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Redação

Ele é um do um dos pioneiros do mercado da música eletrônica no Brasil, destaque no House Music do país, o carioca Meme começou aos 11 anos e já soma mais de 1.500 remixes de diversos artistas, 12 medleys, 25 produções de single, 23 produções de álbuns, 19 produções de single como musico/arranjador.

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Com 23 discos de ouro, 15 discos de platina, 3 discos de diamante, 8 indicações para melhor DJ de house no Brasil, Dj Meme bateu um papo com o POPline.Biz é Mundo da Música e falou sobre as mudanças da indústria em diversos aspectos, seja a partir do surgimento de novos festivais de música ao protagonismo do digital. Questionado sobre os desafios e oportunidades para DJs no atual ecossistema musical, Meme comentou:

“Os desafios de qualquer profissão mudam o tempo todo, e normalmente a tecnologia acaba sendo a grande responsável por isso. Por exemplo: Quando aos 11 anos de idade eu comecei minha carreira de DJ, o grande desafio era conseguir os discos certos para poder tocá-los, pois as músicas boas demoravam a chegar no Brasil. Mesmo os DJs mais experientes não tinham tanta facilidade, a não ser que viajássemos para comprar, ou conseguíssemos algum amigo comissário de bordo que os trouxesse de fora. Esse era sempre o grande trunfo”, destacou Dj Meme.

E completa: “Quem tinha um amigo assim, tinha tudo semanalmente, porém ser DJ não era algo popular, então a competição era relativamente branda. Ninguém queria tocar discos atrás de um bar ou num quadrado no alto de uma boate. Era coisa sem glamour para aficionados”.

Segundo ele, em 2022 aconteceu o oposto: “Por causa do ambiente digital, qualquer música pode estar em suas mãos rapidamente, e muitas vezes sem custo, incluindo aquelas antigas que nunca conseguimos ter em vinil”.

“Hoje se você estiver numa balada e escutar uma música que goste, basta ligar o app SHAZZAM que ele descobre 90% das músicas que rodam nas mãos dos DJs, mas por outro lado, essa facilidade somada à popularidade que o nosso trabalho ganhou junto ao público fez com que meio planeta queira ser DJ, então a o novo desafio aparece aí: A fila é gigante, e todo mundo tem pressa de ser o próximo a brilhar”, destacou.

DJ Meme 6
Dj Meme | Foto: Divulgação

Novo prejeto: resgate e reconstrução

Com o single “Estrelar” que antevê o surgimento do seu novo álbum, Dj Meme pincela referências das décadas de 60, 70 e 80 com uma roupagem atual, em um movimento ao mesmo tempo de “resgate e reconstrução”. Questionado se essa seria a metáfora da sua carreira atualmente, o artista revela que curiosamente, nunca havia parei para fazer uma análise da sua carreira ou como ela se movimenta nesse longo timeline.

“Normalmente estou sempre olhando para a frente, mas que certamente eu mantenho meus pés no presente trazendo comigo a bagagem histórica da minha experiência, isso é um fato. Como poderia ser diferente? Como não utilizar tudo o que aprendi? Porque não mostrar ao público um pouco do que eu conheço? Afinal DJ é justamente isso, um professor de música atemporal. Eu abraço o meu passado sim, mas vivo para o hoje e essa história está longe de acabar virando um resgate de carreira. Não vejo graça nisso”, destaca.

Ele ainda comentou sobre os lados do consumo musical: “Devo aplaudir a quantidade de plataformas que disponibilizam músicas que jamais seriam ouvidas e as que nunca mais tiveram atenção. Nunca se fez tanta música quanto hoje e vários artistas tem sua liberdade garantida sem precisar entrar nas filas atrás de gravadoras”.

Ouça “Estelar”:

Em seu novo álbum, Dj Meme apresenta elementos do boogie, disco, soul, bossa nova, que direcionam o público para um grande repertório artístico. Sobre o seu processo criativo e como foi a experiência para a criação desse projeto – que conta com um clipe dirigido por André Coutrim, o artista explica que esperou ganhar anos de experiência para acreditar que conseguiria produzir um disco homenageando a música que seus pais escutavam em casa e que acabou o influenciando também. “Levei anos procurando a hora certa para fazer esse disco”.

“Entenda que um produtor musical quando faz um disco, é por pura diversão, mas é a interpretação dele sobre aquelas músicas. É como comprar um videogame novo e não dormir até zerá-lo do seu jeito. Cada um tem um jeito. Eu não me sentia pronto para tal missão, mas tinha o desejo de fazê-lo com essa diversidade de gêneros, e na real eu fui incentivado pela cantora Cris Delanno a começa-lo”.

“Um dia ele me ligou e a conversa foi assim: “Você tem que pular sem rede. Tem que começar anyway, senão nunca vai fazê-lo”. Eu disse: “Mas Cris, eu não sei nem por qual musica devo começar…talvez uma composição nova, talvez um cover de algo ja conhecido. Eu ainda não descobri o caminho a seguir. Qual vc gostaria de cantar ?”. Ela respondeu: “Hmmm…sempre quis cantar Estrelar, do Marcos Valle”. Pronto. Desliguei o telefone, montei meu equipamento que estava guardado em casa, pois eu acabava de entregar o imóvel onde ficava meu estúdio, e comecei a programar um beat e um bassline”, revela.

“Foi surpreendente testar meus limites e aprender mais ainda sobre produção musical com uma enormidade de cantores, músicos, letristas, engenheiros de gravação, e dezenas de pessoas talentosas de vários lugares que contribuíram nesse álbum. Uma belezura!”, completa.

TikTok: impulsionando hits atemporais

Analisando o consumo musical hoje em plataformas como o TikTok, que também ajuda a impulsionar hits atemporais, por exemplo, Dj Meme confessa que é “Sou fã numero 1” da rede social de vídeos curtos.

“Eu acordo todos os dias vendo pelo menos 40 minutos de vídeos antes de levantar. Além dos vídeos de animais que eu adoro”, brinca.

“É bom ver que muitas músicas voltam à cena por conta do resgate que esses vídeos fazem. Mas, por outro lado, tenho visto um erro gravíssimo sendo cometido ao perceber que algumas pessoas acabam achando que agora música tem que ser feita pensando no formato Tiktok, contendo apenas a duração suficiente para tornar-se “usável” nas plataformas com a alegação de que “ninguém tem mais tempo para escutar mais do que 2 minutos e meio de música”. WTF?!”, diz.

E faz uma comparação: “então devo entender também que a partir de agora devemos criar pratos com menos comida, ver somente filmes de curta metragem, tomar garrafas de cerveja e vinho pequeninas, fazer viagens mais curtas e, obviamente, um sexo mais ra-pi-di-nho porque ninguém tem mais tempo de curtir seus prazeres?”.

“Desde quando deixamos alguém mandar nisso? Quem agora decide por nós quanto tempo leva o nosso prazer e a duração que a introdução de uma música tem que ter? Calma aí, meus queridos, “analistas-de-números-sentados-dentro-de-um-escritório”, nem tudo é produto. Nem toda música é boring. Ninguém deixa de escutar uma música boa porque ela tem 1 minuto a mais, e disso eu garanto que entendo sem olhar para números”, comenta Dj Meme.

Ele destacou que acha “uma graaaande tolice” esse formato mercadológico de criar música e que não entende “quem se beneficia de tal coisa”. Segundo ele, basta olhar para o cinema onde atualmente os grandes filmes de Hollywood tem sido produzidos com 2 a 3hs de duração, e se não couber na tela, viram até séries com 2 meses seguidos de episódios onde você te que esperar a semana seguinte para continuar.

“Alguém levanta do cinema quando passam-se 45 minutos de filme? Alguém paga ingresso e pede que o show da Duda Beat ser mais curto do que é? Se a resposta for sim para alguma delas é sobre exceção, e não regra. Investir no prazer dos outros sempre deu lucro. Restringi-los é armadilha certa”, finaliza.