O recente cancelamento de ingressos da turnê do Oasis no Reino Unido colocou a Ticketmaster novamente no centro de uma polêmica. A empresa afirmou que bilhetes adquiridos por bots automatizados foram identificados e anulados, afetando shows em Manchester e Londres. Fãs que compraram ingressos para o Heaton Park e o Wembley Stadium relataram ter recebido e-mails da Ticketmaster notificando o cancelamento, o que gerou insatisfação, especialmente entre aqueles que garantem ter comprado de forma legítima.
Entre os casos, uma fã da Espanha relatou ter perdido mais de £ 3.000 (mais de R$ 21 mil) investidos em ingressos, passagens e hospedagem para assistir ao show do Oasis em Wembley. A Ticketmaster disponibilizou um formulário para que os clientes contestem os cancelamentos, mas o episódio levantou dúvidas sobre a eficácia das medidas contra bots e a confiança dos consumidores na plataforma.
Medidas contra robôs e o impacto no mercado
A Ticketmaster enfrenta investigações da Competition and Markets Authority (CMA) no Reino Unido sobre a venda de ingressos para o Oasis, focando em práticas como o preço dinâmico. Os preços dos ingressos subiram de £ 150 (cerca de R$ 1073) para £ 355 (aproximadamente R$ 2540) em pouco tempo. Além disso, o CEO da Live Nation, Michael Rapino, revelou que a Ticketmaster foi alvo de “bilhões” de tentativas de compra por bots durante a venda da turnê.
Para tentar conter o problema, a empresa implementou medidas como o registro prévio dos compradores antes da liberação das vendas do Oasis, amplamante aguardadas. Ainda assim, muitos fãs que seguiram as regras afirmam ter sido prejudicados. O episódio também reacendeu a discussão sobre a revenda de ingressos em sites não autorizados, o que Ticketmaster e See Tickets afirmam estar combatendo com o cancelamento de milhares de bilhetes.
Por outro lado, a própria Ticketmaster tem sido criticada por práticas como taxas abusivas e preços dinâmicos, que dificultam o acesso de fãs com menor poder aquisitivo a grandes eventos. Esse modelo de precificação, que ajusta os valores conforme a demanda, tem sido visto por muitos como uma forma de elitizar o acesso a shows e espetáculos.
O reflexo no Brasil: o que pode acontecer?
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O episódio levanta questões sobre o que poderia ocorrer no mercado brasileiro. O Brasil também enfrenta problemas com bots e revenda de ingressos a preços abusivos. Plataformas de venda já implementam medidas para combater a prática, mas a eficácia dessas ações ainda é questionada.
Com o crescimento de shows internacionais no Brasil, situações semelhantes à do Reino Unido podem surgir. Para os shows do Oasis em São Paulo, por exemplo, os ingressos se esgotaram em menos de cinco horas, com muitas filas online. Fãs que compram ingressos por meios oficiais poderiam ser afetados caso medidas de segurança não sejam bem calibradas. Além disso, o mercado secundário de ingressos no Brasil é menos regulamentado do que em outros países, o que poderia complicar a questão.
Além das fraudes digitais, o Brasil também enfrenta críticas em relação à transparência na formação de preços. O uso de preços dinâmicos e cobrança de taxas administrativas elevadas dificultam o acesso do público a eventos culturais. Esse cenário coloca as tiqueteiras sob constante escrutínio de fãs e órgãos públicos.
Transparência e legislação nos EUA e possíveis impactos globais
Nos Estados Unidos, um projeto de lei busca obrigar os vendedores de ingressos a exibir o preço final desde o início da compra. A legislação também pede que a Federal Trade Commission (FTC) revise a aplicação do BOTS Act de 2016, que visa combater a compra automatizada de ingressos, mas cuja eficácia é questionada.
Caso leis mais rigorosas sejam adotadas internacionalmente, o Brasil pode seguir o exemplo para regular o mercado de ingressos. Com a frequência de eventos de grande porte no país, medidas para proteger o consumidor e garantir a venda justa se tornam cada vez mais relevantes. A próxima etapa dependerá da pressão de consumidores e da resposta das plataformas de venda.
Em um cenário global onde o acesso a eventos culturais está cada vez mais sob análise, as práticas das tiqueteiras precisarão evoluir para garantir transparência e justiça na comercialização de ingressos. O comportamento das empresas frente a essas questões poderá definir o futuro da experiência de shows ao vivo em todo o mundo.