O mercado global de assinaturas de streaming de música seguiu em expansão em 2024, atingindo 818,3 milhões de usuários — um crescimento de 11,6% em relação ao ano anterior. Os dados, divulgados no relatório “Music subscriber market shares Q4 2024” (Quotas de mercado de assinantes de música no quarto trimestre de 2024”), da MIDiA Research, mostram que o Sul Global foi o principal motor desse avanço, respondendo por 78,4% das 84,8 milhões de novas assinaturas. Enquanto isso, a receita das gravadoras cresceu apenas 6%, evidenciando uma desconexão entre o aumento de usuários e a monetização.
O “Sul Global” abrange países em desenvolvimento da América Latina, África, Ásia e Oceania, onde o crescimento de assinaturas de música digital está acelerando, mas com a receita por usuário mais baixa que no Ocidente.
De forma geral, a liderança do Spotify se manteve sólida, com 32,2% da quota de mercado, seguido pela chinesa Tencent Music Entertainment (14,7%). Plataformas como YouTube Music se destacaram pelo crescimento acelerado, enquanto serviços como Apple Music e Amazon Music perderam participação.
A mudança reflete uma reconfiguração geográfica do consumo: mercados maduros, como EUA e Europa, perderam espaço para regiões emergentes, onde preços mais baixos e estratégias de conversão impactam o valor por usuário.
Sul Global domina crescimento, mas ARPU preocupa
Quase oito em cada dez novos assinantes de música em 2024 vieram de mercados fora da Europa e América do Norte — um aumento significativo em relação a 2020, quando essas regiões representavam 52,3% do total.
Hoje, o Sul Global responde por três quintos das assinaturas mundiais, com destaque para o Oriente Médio e Norte da África (crescimento de 22,8%) e a África Subsaariana (22,6%). A China, quinto maior mercado, teve alta de 9,6% na receita, segundo a IFPI (International Federation of the Phonographic Industry, ou Federação Internacional da Indústria Fonográfica, em português).
No entanto, esse avanço não se traduz em ganhos proporcionais para as gravadoras. Como explicou Mark Mulligan, diretor-gerente e analista sênior da MIDiA Research:
“As receitas ainda estão concentradas no Ocidente, mas o crescimento de usuários agora vem consistentemente de outras regiões”.
O menor poder aquisitivo e a preferência por catálogos locais reduzem o Average Revenue Per User (ARPU), ou seja, Receita Média Por Usuário, criando um desafio para detentores de direitos ocidentais.
Spotify mantém domínio, YouTube avança e Apple perde fôlego

Com 236 milhões de assinantes pagos, o Spotify consolidou sua posição como líder global, somando mais que o dobro do segundo colocado, a Tencent Music (121 milhões). A plataforma sueca adicionou 28 milhões de usuários em 2024 — número superior à soma dos três próximos concorrentes (Tencent, Apple e Amazon).
Enquanto isso, o YouTube Music foi o serviço que mais cresceu percentualmente, quase ultrapassando a Apple Music (terceira colocada, com 11,6%). A Amazon Music empatou com o YouTube em quarto lugar (10,1% cada), mas ambas as plataformas, assim como a Apple, não divulgam números oficiais.
Boyd Muir, CFO da Universal Music Group, já havia sinalizado essa tendência em 2023, ao comentar que “Spotify, YouTube [Music] e algumas plataformas regionais mostraram crescimento saudável, enquanto outras tiveram desaceleração”.
Preços baixos e testes gratuitos pressionam a receita do streaming
Nos mercados maduros, estratégias como testes gratuitos e promoções se tornaram essenciais para atrair os últimos usuários disponíveis. Nos EUA, por exemplo, a receita de assinaturas subiu 5,3% em 2024, mas o ARPU cresceu apenas 1,9% — abaixo da inflação do país (2,9%). O relatório destaca que, embora o preço médio das assinaturas tenha aumentado 9,1%, o valor real por usuário caiu quando ajustado pela inflação.
Já no Sul Global, a adesão é impulsionada por planos mais acessíveis e modelos alternativos, como combos com operadoras de telefonia. Na Índia, o YouTube Music é o líder, enquanto na Rússia o Yandex (5ª maior plataforma) ganha espaço. Esses mercados, porém, contribuem pouco para a receita global, já que o ARPU pode ser até dez vezes menor que nos EUA.
O futuro: monetização pós-crescimento
Apesar da disparidade entre assinantes e receita, a MIDiA Research enxerga otimismo no longo prazo. A análise propõe que, uma vez que os usuários estão na plataforma, é possível focar em monetização, citando modelos como supremium (planos com benefícios extras) como caminho para elevar o ARPU.
Enquanto isso, a indústria acompanha a consolidação de players regionais — como NetEase Cloud Music (6,7%) e Yandex (5%) — e a queda de participação de serviços tradicionais.
O desafio agora é equilibrar expansão e rentabilidade, especialmente em mercados onde o streaming ainda está em fase inicial. Para Mulligan, “o Sul Global redefine o jogo, e as gravadoras precisam se adaptar”.