O mercado global de streaming de música continuou em alta em 2024, com um destaque claro para países fora dos Estados Unidos. De acordo com o relatório anual da Luminate, o consumo mundial de música sob demanda chegou a 4,8 trilhões de streams no último ano, uma alta de 14% em relação a 2023. Fora do mercado americano, o crescimento foi ainda mais significativo: 17,3%, reforçando a força dos mercados emergentes, como o Brasil.
Enquanto os Estados Unidos registraram 1,4 trilhão de streams no ano, o restante do mundo foi responsável por 3,4 trilhões. A mudança do eixo de crescimento global reflete um consumo mais diversificado, com países do sul global ganhando protagonismo em um setor historicamente dominado por nações como os EUA e o Reino Unido.
Brasil como um dos motores do crescimento
O Brasil, que desde o início da era do streaming se colocou com um dos maiores mercados do mundo, tem se beneficiado de condições únicas para impulsionar esse crescimento. A expansão do acesso à internet e o aumento do consumo por dispositivos móveis são fatores-chave. Além disso, serviços de streaming como Spotify, Deezer e YouTube têm investido fortemente em conteúdos regionais e playlists que refletem os gostos locais.
Outro ponto importante é o apelo da música brasileira no exterior. Artistas como Anitta, Alok e Ludmilla estão conquistando espaços em festivais e paradas globais, colocando o Brasil como referência no cenário internacional. Esses artistas, com suas bases de fãs crescentes fora do país, também ajudam a atrair atenção para outros talentos brasileiros e para o mercado local de música.
Mudanças no consumo global de música
No mercado americano, gêneros como R&B e hip-hop continuam liderando o consumo, mas com uma leve queda em participação. Ao mesmo tempo, estilos como música latina e country vêm crescendo rapidamente. No Brasil, sertanejo e funk seguem como os gêneros mais ouvidos, mas o rap nacional e a MPB também têm ganhado força nas plataformas digitais, mostrando a diversidade musical do país.
Essas mudanças refletem uma busca crescente por sons regionais e novos estilos, em vez da predominância dos gêneros mais tradicionais no streaming global. No Brasil, por exemplo, o aumento de artistas independentes e a presença em playlists editoriais das plataformas têm ajudado a diversificar o consumo musical, apesar dos desafios enfrentados por quem não tem o suporte de uma grande gravadora.
Desafios para os artistas independentes
Mesmo com o crescimento do mercado, a vida para os artistas independentes não é fácil. Segundo o relatório da Luminate, apenas 13% das faixas disponíveis nas plataformas de streaming em 2024 alcançaram mais de mil reproduções. Isso significa que a grande maioria dos lançamentos não consegue gerar uma receita significativa para os artistas, especialmente aqueles sem estrutura de marketing ou apoio institucional.
No Brasil, essa realidade é ainda mais evidente. Embora plataformas como Spotify e YouTube ofereçam ferramentas para facilitar a distribuição, os ganhos são muitas vezes insuficientes para bancar custos básicos de produção. Muitos artistas recorrem a shows, parcerias e até ao financiamento coletivo para continuar suas carreiras.
O impacto do streaming no Brasil
Além de transformar o consumo de música, o streaming também está mudando a relação do público com os artistas. Os algoritmos das plataformas personalizam cada vez mais as sugestões de músicas, o que pode ajudar a conectar públicos a novos artistas. No entanto, isso também levanta questões sobre a dependência de playlists e os critérios usados para definir o que será destaque.
No Brasil, a popularidade do streaming está criando novas oportunidades. Artistas locais que antes não teriam alcance nacional agora conseguem se conectar com públicos de outras regiões e até de outros países. Esse movimento tem fortalecido a exportação da música brasileira, com casos de sucesso como as turnês internacionais de Alok e a entrada de faixas nacionais em rankings globais.
Os rumos do streaming no sul global
O crescimento do streaming em mercados como o Brasil aponta para uma reconfiguração da indústria global da música. Com o aumento do consumo digital, a música produzida fora do eixo Estados Unidos-Europa está ganhando mais visibilidade e espaço no cenário global.
Ao mesmo tempo, questões como a remuneração dos artistas e os critérios das plataformas continuam em debate. O Brasil, como um dos principais mercados emergentes, está em uma posição de destaque para influenciar essas discussões e moldar o futuro do streaming global.
Essa expansão do streaming reforça a importância de olhar para mercados que antes eram considerados periféricos. O sul global, liderado por países como Brasil e Índia, não só impulsiona os números do setor, mas também redefine os caminhos que a música pode tomar no cenário internacional.