O Brasil ocupa um lugar de destaque no cenário musical global de 2025, segundo o relatório Luminate Midyear Music Report. O estudo, que analisa os primeiros seis meses do ano, aponta o país como o quarto maior mercado de streaming no mundo, com 195,4 bilhões de streams somando áudio e vídeo. Acima dele, apenas Estados Unidos, Índia e México. Além do volume, chama atenção a preferência nacional: 74,7% do consumo vem de artistas brasileiros, uma das taxas mais altas entre todos os mercados analisados.
Esse dado coloca o Brasil atrás apenas da Índia, onde 78% dos streams vêm de nomes locais. Na América Latina, o contraste é notório. Enquanto Bolívia e Peru demonstram forte abertura para artistas de fora da região (64,5% e 35,8% respectivamente), o Brasil reforça sua identidade musical, consolidando figuras como Alok no ranking global de exportação ao lado de artistas como Bad Bunny, Rosé e Coldplay. Por isso, o relatório também destaca o papel do país como exportador relevante na indústria da música.
O estudo mostra ainda uma desaceleração no crescimento global do streaming. Nos Estados Unidos, o aumento foi de 5%, e no mundo, de 10%, abaixo dos 8% e 15% registrados no mesmo período de 2024. Apesar disso, gêneros como rock, country e gospel tiveram avanços. O rock liderou em ganho de fatia do mercado, enquanto o gospel passou a ocupar a sétima posição entre os mais ouvidos, puxado por movimentos contemporâneos e subgêneros como o Christian Hip-Hop.

Protagonismo feminino nas paradas, aponta Luminate
Entre os novos superastros apontados pelo Luminate Index, duas mulheres ganharam destaque: Sabrina Carpenter e LISA, do BLACKPINK. Ambas expandiram sua atuação para além da música. LISA, por exemplo, estrelou a terceira temporada de “The White Lotus”, da HBO, aproveitando o lançamento do álbum “Alter Ego” para alcançar novos públicos e cruzar fronteiras entre música e audiovisual.
O público feminino também aparece como motor de consumo em nichos importantes. Nos Estados Unidos, 54% dos ouvintes de R&B e 60% dos de música cristã são mulheres. Enquanto o R&B é puxado pela geração Z, o gospel tem predominância millennial.
Sabrina Carpenter, além de sucesso no streaming, figura entre os álbuns mais vendidos fisicamente nos EUA, com destaque no vinil, mostrando que artistas solo conseguem manter presença em múltiplos formatos e públicos.
Artistas solo dominam frente a bandas

Sabrina Carpenter não está sozinha. O top 10 global de canções mais ouvidas confirma a força dos artistas solo. A lista da Luminate inclui nomes como Lady Gaga, Bruno Mars, Billie Eilish, Kendrick Lamar, Bad Bunny e Teddy Swims, com pouco espaço para bandas. Nos Rising Stars (Astros em Ascensão), também predominam artistas individuais, enquanto grupos como Imagine Dragons aparecem no segmento de Established Artists (Artistas Estabelecidos).
O relatório destaca ainda o comportamento de consumo de catálogo. No rock, 69% do streaming vem de faixas com mais de cinco anos, enquanto no gospel, 33% do consumo está focado em lançamentos recentes. A música pop da era 2007-2012 vive um renascimento, com hits como “Just the Way You Are”, de Bruno Mars, crescendo 6,4% em volume, acima da média geral.

Super fãs, gamers e inteligência artificial
Em um cenário de crescimento mais lento, o mercado busca novas formas de engajamento. Apenas 18% dos ouvintes nos Estados Unidos são considerados super fãs (aqueles que interagem com artistas em pelo menos cinco formas, como shows, compras de produtos ou engajamento online).
Plataformas como Discord e Twitch aparecem como hubs para públicos jovens, especialmente fãs de K-pop, J-pop e EDM. No WhatsApp, o público de afrobeats e música latina mostra alto engajamento, refletindo também a adoção das novas ferramentas da plataforma para música.
A inteligência artificial surge como um ponto de tensão. Um em cada três ouvintes nos EUA se declara confortável com o uso de IA para criar instrumentais, mas 44% rejeitam canções geradas com voz artificial. Projetos como Aventhis, que mistura country e IA, já somam mais de cinco milhões de streams globais, desafiando conceitos tradicionais de autoria e autenticidade na música.
Outros aspectos que redesenham a indústria global

O relatório da Luminate aponta também tendências que afetam todo o ecossistema da música. O custo dos ingressos aparece como principal barreira para frequentadores de festivais nos Estados Unidos e na Europa, embora a geração Z europeia mostre crescimento na intenção de ir a eventos. No Reino Unido, por exemplo, 39% dos jovens planejam comparecer a festivais nos próximos 12 meses, índice mais alto que nos EUA.
Outro destaque vem do impacto das trilhas sonoras e documentários no streaming musical. O documentário “Becoming Led Zeppelin”, líder em minutos assistidos na Netflix, elevou o streaming global da banda em 23% ao longo de quatro meses, mostrando como o audiovisual tem capacidade de revitalizar catálogos e atrair novas audiências.
Além disso, gêneros como Christian/Gospel, antes considerados nichados, ganham espaço e rejuvenescem seu público, enquanto a busca por experiências exclusivas para super fãs se consolida como estratégia central das gravadoras e plataformas. O relatório indica que a música está no centro de uma transformação cultural mais ampla, envolvendo consumo digital, audiovisual, turismo, games e interações sociais.
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