Baixista brasileiro na Broadway, Peter Mesquita revela os bastidores e as oportunidades para músicos em cruzeiros

Artistas podem encontrar nos cruzeiros uma forma de garantir trabalho contínuo e contato com públicos variados, mas a rotina exige adaptações.
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Nathália Pandeló
Peter Mesquita é um músico brasileiro que toca em cruzeiros
Peter Mesquita (Crédito: Divulgação)

O mercado de cruzeiros vem se consolidando como um espaço de oportunidades para músicos que buscam estabilidade e novas experiências. Para muito além de nomes que apostaram em suas próprias experiências temáticas, como Roupa Nova, Ludmilla, Maiara & Maraisa, Zeca Pagodinho, Ana Castela, Léo Santana e Chitãozinho & Xororó, a vida em alto mar também se mostra como uma porta aberta para músicos que estão fora do mainstream.

Isso porque a bordo, há espaço tanto para grandes produções teatrais quanto para apresentações em bares e lounges. O trabalho, no entanto, não se resume apenas à música. Os artistas fazem parte da tripulação, com regras e responsabilidades específicas.

Entre os músicos que optaram por essa experiência está o contrabaixista paulista Peter Mesquita. Desde 2022, ele integra a orquestra de espetáculos como Kinky Boots e Choir of Men em cruzeiros da Norwegian Cruise Line. Recentemente, foi promovido a bandmaster, acumulando novas funções a bordo. 

Ele relembra:

“Eu já queria isso há muito tempo, mas teve um dia que eu pensei: ‘É hoje’”.

Como funciona o trabalho a bordo

Navio em alto mar realiza cruzeiros
Crédito: Alonso Reyes

O processo de seleção para músicos em cruzeiros envolve audições e testes. No caso de Peter, sua experiência com teatro musical ajudou na contratação. Depois de aprovado, ele passou um mês ensaiando no Norwegian Creative Studio, um espaço que simula teatros reais, antes de embarcar.

As apresentações acontecem em ciclos. Em alguns cruzeiros, os músicos do teatro tocam em quatro dos dez dias da viagem, enquanto aqueles que fazem apresentações em bares e eventos internos têm uma rotina diária. Além da música, os artistas passam por treinamentos de segurança e precisam saber como agir em situações de emergência, como incêndios ou evacuação do navio.

É feito treinamento semanal e é necessário decorar códigos de segurança. A rotina de ensaios e apresentações se soma a essas exigências, tornando o dia a dia intenso.

“No geral, é tranquilo, apesar de ter muitos detalhes pra cuidar. A galera é muito de boa, e o meu jeito de liderar também. Eu não gosto de pressionar, só quero que as coisas funcionem. Gosto de confiar na galera e todo mundo aqui é muito profissional”.

O que significa ser um band master

A promoção para band master trouxe novos desafios. Além de tocar, Peter agora organiza escalas, acompanha o funcionamento dos equipamentos e gerencia conflitos entre os músicos. O cargo exige um equilíbrio entre a parte administrativa e a artística.

A organização do tempo se tornou essencial. Ele separa momentos diários para estudar seu instrumento, produzir músicas em seu estúdio na cabine e praticar esportes, como tênis de mesa com um colega de tripulação.

A disciplina também é necessária para aproveitar as paradas em diferentes países no roteiro dos cruzeiros. Quando possível, Peter visita cidades, conhece artistas locais e pratica surfe. Mas o ritmo de trabalho e as obrigações como tripulante limitam esse tempo.

A vida social e o isolamento

Apesar da convivência com a equipe e da interação com os passageiros, a rotina em um cruzeiro pode ser solitária. A distância da família pesa, especialmente considerando que contratos duram, em média, seis meses.

“É um negócio que não é fácil, não. Mas a parte legal é que eu consigo dar uma estrutura pra minha família. Meu pai daqui a pouco vai fazer 70 anos e quero estar estruturado para passar um tempo de qualidade com eles”, comenta Peter. 

Além disso, a adaptação à vida no mar exige uma mentalidade flexível. Diferente de um trabalho fixo em terra, a rotina muda conforme o itinerário do cruzeiro e as demandas da companhia. Mesmo assim, para muitos músicos, essa experiência vale a pena pela segurança financeira e pela possibilidade de explorar diferentes públicos.

Oportunidade ou desafio?

Para artistas em busca de uma fonte de renda estável e da chance de se apresentar para plateias internacionais, os cruzeiros se tornaram uma alternativa viável. A exigência técnica pode variar conforme a vaga, mas a experiência no meio musical e a capacidade de adaptação são fatores determinantes para a contratação.

No caso de Peter, a trajetória inclui experiências no teatro musical brasileiro e colaborações com artistas como Luedji Luna e Wilson Simoninha. Além de tocar, ele já dirigiu e produziu álbuns, habilidades que ampliaram suas possibilidades de trabalho.

Ao mesmo tempo, a realidade dos cruzeiros não se encaixa no perfil de todos os músicos. O isolamento prolongado, a necessidade de cumprir funções fora do palco e as restrições de convivência podem ser desafiadores. Mas para aqueles dispostos a encarar essa dinâmica, há espaço para crescimento profissional e financeiro.

Peter segue aproveitando o tempo a bordo para estudar e se preparar para seus projetos autorais. Com o lançamento de seu disco solo previsto para este ano, a experiência no cruzeiro se tornou mais um capítulo de uma trajetória diversa dentro da música.

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