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Opinião: O que sobra

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Redação

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Sem dúvida o consumo de notícias por meio das redes sociais está consolidado – principalmente ao longo e após a pandemia. Não importa a editoria, seja cultura ou economia, as matérias estão lá, expostas, lado a lado, prontinhas para receber os nossos likes e compartilhamentos nas redes.

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Como costumo dizer, é muito difícil hoje em dia alguém digitar ‘www.’ para se informar. É tudo pelas redes sociais e apps. Dito isso, para chegar ao ponto central desta coluna, vou dividir a imprensa, atualmente, em três categorias, pois assim acredito ficar mais didático. Pois bem. Temos hoje a “imprensa a favor”, a “imprensa meio-termo” e, por fim, a “imprensa contra”. Feita essa contextualização, a seguir apresento exemplos e o porquê de tais categorizações.

Comecemos pela imprensa contra – que neste caso já foi a favor – pois quero falar de GKay. Em 2021, a “Farofa da GKay” foi um estrondo. Atingiu mais de 66 mil pessoas, inúmeras celebridades, shows de artistas famosos como Alok, além de reunir influenciadores que estavam no auge à época. Isso sem contar no desejo do público em voltar a ter eventos presenciais – algo que não acontecia de forma normal nos tempos de Covid-19. Em suma, GKay foi um case: conseguiu a façanha de, em um mesmo mês, ir ao Mais Você, Encontro e Altas Horas. Todos estes dispensam comentários sobre programas referências em entretenimento. Tudo isso culminou na transmissão, ao vivo, da Farofa da Gkay, no ano seguinte, pelo Multishow. Mas as coisas mudaram…

No fim de 2022, a participação de Gkay no programa Lady Night, apresentado por Tatá Werneck, gerou uma enxurrada de críticas à influenciadora. Ela foi tachada de ser invasiva, mal educada… e acabou sendo alvo de piadas de comunicadores de renome, como Fábio Porchat e Paulo Vieira. Porchat, por exemplo, ao homenagear Jô Soares, insinuou que o apresentador preferiu morrer à entrevistar a humorista. A fala ocorreu no Melhores do Ano, da TV Globo. Não bastasse tudo isso, a turma da internet ainda recuperou tweets antigos de Gkay, com mensagens de teor gordofóbico, questionamentos sobre o nazismo e ao sistema de cotas. Ali instalou-se o que podemos chamar de bullying virtual – algo que sou radicalmente contra. A consequência de todo esse cenário foi uma ausência de escuta por parte da imprensa, que em nenhum momento abriu espaço ou humanizou Gkay, mesmo que essa tenha ido parar no hospital diante de tamanha tortura psicológica. Eis, então, um exemplo límpido do que defino como “imprensa contra”.

Já no início de 2023, para expor o que chamo de “imprensa meio-termo”, trago para a discussão o lançamento do livro do Príncipe Harry. A obra chama-se “Spare”, e foi um fenômeno de vendas mundial, tendo sido comercializada mais de 1,43M de vezes somente no primeiro dia, e aqui no Brasil foi traduzida como “O que sobra”. Assim, príncipe Harry e toda a monarquia britânica são elementos que dividem opiniões, já que ao mesmo tempo que geram engajamento positivo robusto, há também uma ala considerável daqueles que “sentem prazer ao testemunhar a desgraça alheia”. Os alemães, inclusive, possuem o termo “schadenfreude”, palavra esta que ilustra com maestria este tipo de sentimento.

Retornando ao livro, friso que a obra já nasceu cercada de polêmicas antes mesmo do lançamento. Tudo isso por conta de uma entrevista do príncipe para uma TV britânica, em que acusa os tablóides de serem propagadores dos conflitos no seio da família real. A repercussão da imprensa, no entanto, aconteceu de forma respeitosa, mesmo diante das queixas de Harry. Houve muitos veículos que optaram por ressoar a entrevista como um todo, e não somente as declarações mais contundentes. Julgo, com isso, que existiu até mesmo uma boa participação da mídia para que o livro tenha sido largamente bem sucedido nas vendas, ou seja, a “imprensa meio-termo” agiu como dela se espera. Neutra… mas nem tanto – neste caso pendendo para o lado positivo.

Coluna Zé Raphael - POPline.Biz
Coluna Zé Raphael – POPline.Biz. Foto: Getty Images (Uso Autorizado POPline)

Entretanto, positivo, mesmo, sem margem para outras interpretações, é o tratamento da imprensa quando se trata de Beyoncé – artista que considero incrível, dona de um talento inquestionável e capaz de entregar ao público uma música fiel ao seu estilo. É bem verdade, precisamos relembrar, que nem sempre Beyoncé teve todo esse zelo por parte dos jornalistas, mas você, leitor (a), há de convir comigo que é muito difícil falar mal de Beyoncé nos últimos anos. É um momento mágico, construído à base de muito trabalho, o que gerou notória credibilidade.

O sétimo álbum de estúdio de Beyoncé, Renaissance, foi lançado em julho de 2022 e também estreou em primeiro lugar na Billboard 200. Recebeu críticas positivas em praticamente todos os veículos especializados mundo afora. A artista traçou a estratégia de fazer o lançamento do álbum pelas redes sociais, divulgou uma música / single previamente (Break My Soul), além de usar do expediente de conceder uma única entrevista, para a revista Vogue, antes de Renaissance oficialmente ser lançado ao mundo.

Porém, engana-se quem acha que Beyoncé não precisa mais da imprensa. O que acontece, na verdade, é que a cantora detém as notícias de forma orgânica. Falo aqui de um nível de prestígio raríssimo de ser encontrado no meio artístico, pois tal reputação só é conquistada com muitos anos de uma carreira e conduta sólidas. Coloco nesse rol e, por isso, faço menção honrosa à Alcione, Maria Bethânia, Bob Dylan, Metalica, Milton Nascimento, entre outros.

Beyoncé tem a “imprensa a favor”, optou por fazer a comunicação de sua carreira, vida e projetos pelas redes, bem como se expressa pelas músicas. Ainda assim, ocupa a mídia naturalmente. Sublime. Que assim permaneça. Porém, é preciso estar atento, pois como procurei demonstrar neste artigo, a engrenagem da imprensa é dinâmica. Ela acaricia hoje, mas pode chicotear amanhã.

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Jornalista há 20 anos, Zé Raphael é especialista em Assessoria de Comunicação. Trabalhou em redações de impresso, TV e rádio e obteve destaques em funções como pauteiro de rede nos programas de entretenimento da Band. Foi Coordenador de Jornalismo nas rádios Paradiso FM e Jovem Pan, e num hiato distante das redações, realizou freelas para revistas, jornais e pesquisas de jornalismo em Madri (Espanha) e Califórnia (EUA). Na volta ao Brasil, direcionou-se profissionalmente para a assessoria. Zé acredita fielmente no diálogo verdadeiro com a imprensa.