O que é MFN e por que compositores devem prestar atenção a essa cláusula em contratos de música

Expressão usada em acordos comerciais virou parte essencial dos contratos musicais. Entenda como MFN pode proteger os autores de acordos injustos.
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Nathália Pandeló
Compositor 3
Crédito: Cottobro Studio

A sigla MFN aparece cada vez mais em contratos de sincronização, licenciamento e parcerias musicais. Mas muitos compositores ainda não sabem o que essas três letras significam ou como elas podem impactar diretamente seus ganhos. Por trás da abreviação está um conceito simples, mas essencial: o direito de receber o mesmo tratamento que os outros titulares de uma obra.

A expressão vem do inglês Most Favored Nation, que significa “nação mais favorecida”. O termo surgiu no comércio internacional, quando países firmavam acordos comerciais e garantiam que, se um deles recebesse condições especiais, os outros também teriam acesso às mesmas vantagens. Com o tempo, essa ideia de igualdade foi adotada em contratos privados, inclusive na música.

Quando uma cláusula MFN aparece em um contrato, ela estabelece que, se um dos envolvidos conseguir condições mais favoráveis, os demais terão direito ao mesmo. É uma forma de proteger o equilíbrio entre os autores e evitar que alguém receba mais apenas por ter maior poder de negociação.

Como o MFN funciona na prática

Imagine que três compositores assinaram juntos uma música usada em um comercial. Cada um detém 33,3% da obra. A produtora que fará a propaganda negocia separadamente com cada compositor. Se um deles conseguir um valor mais alto pela licença, a cláusula MFN garante que os outros dois também recebam esse mesmo valor, mesmo que tenham fechado o contrato antes.

Esse tipo de situação é comum em publicidade, mas também aparece em trilhas de filmes, séries, games e coletâneas. O princípio é o mesmo: todos devem ter acesso às condições mais vantajosas concedidas a alguém da mesma negociação.

No cotidiano dos compositores, isso evita injustiças. Um autor iniciante pode aceitar um valor mais baixo sem saber que outro, com mais experiência, recebeu muito mais pela mesma obra. O MFN impede que isso aconteça, porque obriga quem licencia a música a aplicar as mesmas condições a todos os titulares.

Quando o MFN costuma aparecer

Compositor durante processo criativo, criatividade
Compositor durante processo criativo

A cláusula MFN é especialmente comum em contratos de sincronização, que tratam do uso de músicas em produções audiovisuais. Ela serve para equilibrar o valor pago pela gravação (direito conexo) e pela composição (direito autoral), garantindo que ambas as partes sejam tratadas de forma justa.

Também aparece em contratos de edição musical, quando mais de uma editora representa a mesma música. Se uma das editoras negociar condições melhores, as outras têm direito automático de receber os mesmos benefícios. Em projetos colaborativos, como álbuns de tributo ou faixas com vários artistas, o MFN também é usado para assegurar igualdade de tratamento entre os participantes.

Há ainda contratos entre artistas e gravadoras em que o MFN garante equilíbrio interno. Se outro artista com perfil parecido receber um percentual de royalties maior ou bônus mais altos, o mesmo deve valer para todos que estiverem sob condições equivalentes.

Por que o MFN é importante para autores

Para quem vive de compor, o MFN é uma ferramenta que ajuda a garantir justiça nas relações contratuais. Ele evita que diferenças de fama, influência ou desconhecimento do mercado levem a pagamentos desiguais entre coautores.

Com o MFN, todos passam a ter o mesmo ponto de partida. Se um autor consegue um valor mais alto, isso automaticamente se reflete nos contratos dos demais. Além do aspecto financeiro, a cláusula aumenta a transparência, já que obriga o contratante a comunicar os termos aplicados aos outros titulares da música.

Mesmo assim, o MFN não resolve problemas de contratos mal elaborados. Ele apenas garante igualdade dentro do que foi negociado. Por isso, é fundamental que cada parte compreenda o que está assinando e, sempre que possível, conte com apoio jurídico ou de sua editora antes de fechar qualquer acordo.

Cuidados e limitações

Nem toda empresa aceita incluir o MFN. Algumas consideram que isso reduz a flexibilidade para possíveis negociações futuras. Por isso, é importante ler com atenção o que a cláusula cobre. Em alguns contratos, ela vale apenas para o valor pago. Em outros, inclui prazos, bônus, créditos e até condições de uso da obra.

Também é essencial acompanhar de perto as negociações. Ter a cláusula MFN não garante, por si só, que ela será aplicada. O autor precisa saber o que foi acordado com os outros participantes da música e cobrar a equiparação, se necessário. Essa comunicação entre coautores e editoras é o que realmente torna a cláusula eficaz.

O MFN pode parecer um detalhe burocrático, mas representa uma proteção importante para o trabalho criativo. Em um mercado que valoriza cada vez mais parcerias e colaborações, entender e exigir esse tipo de cláusula é uma forma de assegurar que todos os envolvidos em uma obra recebam tratamento justo e proporcional à sua contribuição.

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