Música em espanhol ganha força no Brasil com sucesso de Myke Towers e Ludmilla nas rádios

Com “Freaky” nas paradas, o porto-riquenho Myke Towers se torna o novo caso de destaque da música latina no país, em um momento em que o idioma volta aos holofotes com a proximidade do Latin Grammy.
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Nathália Pandeló
Myke Towers e Ludmilla
Myke Towers e Ludmilla (Crédito: Divulgação)

O último trimestre do ano costuma colocar a música em espanhol sob os holofotes no Brasil. A proximidade do Latin Grammy, que celebra a produção latina em diferentes países, faz com que artistas e faixas em espanhol ganhem maior visibilidade nas plataformas, na imprensa e, cada vez mais, nas rádios brasileiras. Em 2025, o destaque é Myke Towers, que chegou ao topo das rádios paulistas com o single “Freaky”, parceria com Ludmilla, segundo o ranking da Crowley.

A faixa ocupa o primeiro lugar entre artistas latinos e internacionais e se mantém entre as mais tocadas em cidades como Campinas, Marília, Sorocaba e Piracicaba. O levantamento da Crowley mede a frequência de execução em rádios, um indicador que vai além do hype digital e reflete o alcance em públicos mais amplos e diversos. Para um artista que canta em espanhol, essa conquista representa mais do que sucesso pontual. É sinal de uma abertura crescente do mercado brasileiro para produções vindas de outros países da América Latina.

Feats como porta de entrada para o público brasileiro

O sucesso de “Freaky” também é sinal de uma estratégia que tem se tornado cada vez mais comum entre artistas estrangeiros: colaborações com nomes brasileiros para ampliar o alcance regional. No caso de Myke Towers, a parceria com Ludmilla cria um ponto de conexão entre o funk, o reggaeton e o pop, gerando um som híbrido que circula bem entre rádios e plataformas.

Essa tática vem sendo usada por nomes como Maluma, Karol G, J Balvin e Emilia, que têm feito feats com artistas brasileiros para conquistar o público local. O Brasil é visto como um mercado estratégico por seu tamanho e pelo peso cultural da música no cotidiano, além de ser o país com maior consumo de rádio da América Latina. Estar em alta nas emissoras brasileiras significa alcançar ouvintes que vão além do público digital e consolidar presença em um território historicamente mais fechado a idiomas estrangeiros.

A presença do espanhol fora das plataformas

A expansão da música latina no Brasil não é recente, mas até agora se concentrava majoritariamente no ambiente digital. Fenômenos como “Despacito” (Luis Fonsi e Daddy Yankee) e “Tusa” (Karol G e Nicki Minaj) ajudaram a popularizar o idioma, porém a entrada nas rádios, tradicionalmente dominadas por artistas nacionais, marca um novo estágio. A presença de Myke Towers no ranking da Crowley mostra que o público tem se tornado mais receptivo a sons e línguas diferentes, especialmente quando há colaborações locais que aproximam os universos culturais.

O artista porto-riquenho já acumulava grandes resultados globais com faixas como “La Curiosidad”, “La Falda” e “Lala” (esta última chegou ao topo da parada Top 50 Global do Spotify), mas “Freaky” consolida sua presença em um mercado até então pouco explorado. O sucesso do single nas rádios brasileiras sinaliza que o espanhol está ganhando espaço real fora das playlists e redes sociais, entrando em um circuito mais amplo de consumo musical.

Artistas brasileiros seguem o caminho inverso

Enquanto artistas hispânicos conquistam espaço nas rádios e playlists brasileiras, nomes brasileiros também buscam o público latino. Gusttavo Lima acaba de lançar “Vagabundo”, parceria com o porto-riquenho Luis Fonsi, voz de “Despacito”. A faixa bilíngue, produzida por Ender Thomas e Robbie Meza, foi gravada em Miami e marca a estreia internacional do cantor mineiro, com distribuição global pela Sony Music e destaque em painéis na Times Square e na Estação da Sé.

Outro exemplo é o dueto entre Pablo Alborán e Luan Santana em “¿Qué tal te va?”, single do novo álbum do espanhol, “KM0”. Gravada em Lisboa durante um show de Luan, a faixa simboliza o intercâmbio entre artistas brasileiros e hispano-americanos, que têm apostado em colaborações bilíngues para conectar repertórios e públicos de diferentes países.

Expansão regional e novos públicos

Myke Towers (Crédito: Divulgação)
Myke Towers (Crédito: Divulgação)

Atualmente entre os 70 artistas latinos mais ouvidos do mundo segundo a Billboard, Myke Towers simboliza uma nova geração que entende a importância do Brasil dentro do mapa global da música latina. A conquista das rádios paulistas é um passo relevante não só para o artista, mas também para o fortalecimento de um intercâmbio cultural que vem se intensificando.

Nos últimos anos, majors e selos independentes têm investido em colaborações entre artistas hispano-americanos e brasileiros, enxergando no país uma oportunidade de crescimento e diversidade de público. À medida que o rádio amplia seu repertório e os ouvintes demonstram curiosidade por ritmos latinos, o caminho para novas parcerias se abre, aumentando a presença do espanhol no cotidiano musical brasileiro.

O novo ciclo da música latina no Brasil

O caso de “Freaky” pode até ser colaboração pontual entre Myke Towers e Ludmilla. Mas também é um retrato de um momento em que as fronteiras musicais entre Brasil e América Latina se tornam cada vez mais porosas. A proximidade do Latin Grammy ajuda a ampliar o interesse pelo repertório regional, mas o desempenho de Towers nas rádios mostra que a presença da música em espanhol está se tornando constante e sustentável.

Em um país onde o rádio segue relevante, ver uma canção em espanhol alcançar o primeiro lugar nas principais praças paulistas é um sinal claro de que o idioma deixou de ser exceção. Myke Towers é, por enquanto, o rosto mais visível dessa virada. E, ao que tudo indica, não será o último.

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