Música física: do vinil ao cassete, álbuns voltam a ocupar prateleiras (e esgotam cada vez mais rápido)

A música física mostra vitalidade em 2025, com vinil em alta e edições especiais moldando estratégias de artistas e gravadoras.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Black Friday - Discos de vinil em promoção

A música física voltou a ser um tema central nas conversas da indústria em 2025. Logo nos primeiros meses do ano, o comportamento das vendas deixou claro que o vinil, as edições de luxo, as fitas cassete e os boxes de colecionadores continuam sendo produtos relevantes, mesmo ocupando uma fatia pequena do faturamento global. O que se observa é um consumo movido por valor, identidade e estratégia, mais do que por volume.

Esse movimento não acontece por acaso. Existe um público disposto a pagar por objetos que materializam o afeto, o pertencimento e a memória. Ao mesmo tempo, as gravadoras e os artistas transformaram o produto físico em um campo de experimentação, com capas alternativas, tiragens limitadas, embalagens elaboradas e narrativas visuais que se estendem para além do streaming. Cada edição especial funciona como um convite direto ao fã, reforçando a sensação de exclusividade.

É esse cruzamento entre o desejo, a estética e a estratégia que mantém o físico relevante em 2025. O formato pode não ditar mais o ritmo da indústria, mas continua influenciando as campanhas, gerando expectativas e receita consistente em mercados que enxergam no objeto uma extensão direta da experiência musical.

A fotografia global do ano

Os dados mais recentes da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) ajudam a entender o ponto de partida deste ciclo. A receita mundial de formatos físicos ficou em torno de US$ 4,8 bilhões em 2024, com o vinil acumulando seu 18º ano seguido de crescimento e sustentando boa parte do fôlego do segmento. Mesmo com uma leve retração agregada, o LP seguiu em alta, impulsionado sobretudo por mercados consolidados como Estados Unidos, Reino Unido e Japão.

A região da Ásia permaneceu como o principal polo mundial de consumo físico, concentrando mais de 45% da receita global. Já em 2025, os relatórios parciais mostraram um cenário de estabilidade: o valor total do segmento não avançou tanto, mas o vinil continuou crescendo e reafirmando seu papel como item premium, enquanto os CDs e os demais formatos seguiram em queda, ainda que preservando nichos fiéis.

O desempenho nos Estados Unidos

catálogos
Taylor Swift recupera controle de seu catálogo (Crédito: Divulgação)

O mercado americano confirma essa mudança de lógica. No primeiro semestre de 2025, os formatos físicos movimentaram cerca de US$ 576 milhões, algo próximo de 10% da receita total do país. O vinil respondeu pela maior parte desse montante, com pouco mais de US$ 460 milhões e cerca de 22 milhões de unidades enviadas às lojas. O CD, por sua vez, caiu para 11,7 milhões de unidades e pouco mais de US$ 100 milhões em faturamento.

Esses números mostram que, nos Estados Unidos, a música física voltou a ocupar o posto de um produto de prestígio. A compra não está associada à necessidade de acesso, mas à relação emocional e estética com a obra. Essa dinâmica explica por que muitos lançamentos chegam ao mercado com diversas variantes, incluindo cores exclusivas, capas alternativas e materiais gráficos diferenciados, que dialogam diretamente com superfãs e aumentam o valor percebido.

Europa mantém o fôlego e reforça o caráter de nicho

CDs

No Reino Unido, outro mercado relevante, 2024 havia registrado uma leve alta da receita total de formatos físicos, e 2025 continuou nessa linha. O vinil manteve crescimento em valor, enquanto o CD se estabilizou em um patamar de nicho, sustentado por edições especiais e projetos que valorizam a materialidade. A Espanha também seguiu mostrando bom desempenho das vendas de LP, que ocupam a maior parte do mercado físico local.

Em todos esses casos, o comportamento é semelhante: a música física, hoje, depende menos de grandes volumes e mais da capacidade de oferecer uma experiência completa ao fã. Os lançamentos que se destacam costumam trazer embalagens elaboradas, conteúdos adicionais, livros, fotografias e a sensação de posse que o digital não entrega.

O caso das cassetes e a estética da raridade

A fita cassete segue com participação pequena nas vendas gerais, mas ganhou força como peça estética. Em 2025, as vendas cresceram mais de 200% no primeiro trimestre nos Estados Unidos, impulsionadas pelo apelo retrô, pelo custo relativamente baixo de produção e pela facilidade de serem comercializadas em shows. Para artistas independentes e selos menores, a cassete tem funcionado como um cartão de visita físico, feito para públicos que valorizam objetos singulares.

Esse fenômeno não altera as estruturas do mercado, mas afirma a relevância desses formatos como espaços de identidade. O público da cassete costuma ser altamente engajado e disposto a investir em produtos que expressem personalidade.

Boxes e edições especiais moldam a lógica comercial

Os boxes de luxo e as edições comemorativas continuam entre os produtos mais desejados pelos colecionadores. São projetos que combinam múltiplos LPs, livros, remixes, fotos e faixas inéditas, criando um objeto robusto, pensado para quem acompanha a trajetória de artistas e catálogos de forma mais profunda.

O desempenho da música física em 2025 mostra que o formato continua distante do ápice comercial de décadas anteriores, mas permanece essencial dentro de um ecossistema que busca diferenciação e vínculo afetivo. Ele opera como uma peça que completa a experiência musical e reafirma a presença de uma obra no imaginário do público. Em um ano marcado por grande competição no streaming, o físico permaneceu como território de valor, criatividade e permanência.

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