O uso de ferramentas de inteligência artificial já faz parte da rotina de muitos profissionais da música. De acordo com o Music Creator Survey 2025, da MIDiA Research, os criadores vêm aplicando a IA em etapas específicas do processo criativo, especialmente em masterização, mixagem e limpeza de áudio. No entanto, o mesmo levantamento indica que a tecnologia ainda está longe de resolver as dificuldades que mais afetam a sustentabilidade da criação musical.
O estudo da MIDiA ouviu 2.109 artistas, produtores e compositores em diferentes países. A ferramenta de IA mais usada no último ano foi a de masterização automática, citada por quase metade dos entrevistados e representada por softwares como o iZotope Ozone.
Em seguida aparecem os separadores de stems, como Moises e Audioshake, e os programas voltados à limpeza de áudio ou vocais, exemplificados pelo iZotope RX. Outras aplicações incluem bateristas virtuais, geradores de acordes, sintetizadores de amostras e assistentes de mixagem.
O alcance da IA entre criadores
Segundo o relatório da MIDiA Research, o uso de inteligência artificial se expandiu de forma acelerada em 2024 e 2025, impulsionado pela popularização de interfaces acessíveis e pela integração dessas tecnologias em estações de trabalho digitais (DAWs). Ainda assim, 45% dos criadores afirmaram não ter utilizado nenhuma ferramenta de IA no último ano, o que mostra que o processo de adoção ainda é desigual dentro da indústria.
A MIDiA Research destaca que, embora as ferramentas de IA sejam cada vez mais comuns, sua função ainda está concentrada em tarefas técnicas e de apoio, e não em processos de criação autoral.
A pesquisa aponta que muitos artistas veem a IA como um recurso que economiza tempo em etapas operacionais, mas não substitui a experiência criativa humana nem resolve as barreiras econômicas e estruturais do setor.
Desafios além da tecnologia

Entre os maiores obstáculos citados pelos participantes, 39% mencionaram a falta de recursos financeiros para adquirir equipamentos, investir em promoção ou manter uma carreira ativa. Logo atrás, 38% destacaram a dificuldade de se destacar em meio à grande quantidade de lançamentos disponíveis nas plataformas digitais. Outro ponto recorrente é o tempo: 27% dos criadores afirmam não ter disponibilidade suficiente para se dedicar à produção musical.
Esses dados indicam que, embora a IA tenha se tornado uma aliada prática, ela ainda não afeta as principais limitações que afetam a realidade dos criadores independentes. A tecnologia ajuda a reduzir custos pontuais, mas não substitui as redes de apoio, o financiamento e as oportunidades de visibilidade que sustentam o trabalho artístico no longo prazo.
Comportamento do público e percepção de valor

O estudo também analisou a relação do público com a IA. Entre os consumidores, mais de 80% das pessoas com menos de 45 anos afirmaram usar ferramentas de inteligência artificial no dia a dia. 66% recorrem à tecnologia para obter informações e 51% para realizar tarefas.
No entanto, no campo do entretenimento, a percepção é diferente: 44% disseram que o uso de IA não altera o valor pelo qual pagariam por um produto cultural, e 33% acreditam que o envolvimento da IA pode diminuir o valor percebido.
Essa divergência entre adoção tecnológica e percepção de valor sugere que, embora a IA esteja presente em todas as etapas da produção e do consumo, o público ainda associa o valor artístico à intervenção humana. Para os profissionais da música, o desafio é aprender a equilibrar eficiência e autenticidade, encontrando na tecnologia uma ferramenta de suporte, e não uma substituição.
Um futuro de integração gradual, aponta MIDiA Research
A consolidação da IA no mercado criativo tende a continuar, mas o estudo da MIDiA indica que o impacto será mais transformador quando as plataformas conseguirem integrar aspectos financeiros e educacionais ao ecossistema musical. Por enquanto, as soluções mais utilizadas permanecem ligadas à automação de processos e à melhoria técnica das gravações, com benefícios pontuais para a produtividade.
O avanço da IA na música, portanto, não representa meramente uma mudança de ferramentas, mas uma redefinição do equilíbrio entre criação, tempo e acesso. Se o ritmo de adoção continuar crescendo, os próximos anos podem revelar não apenas novos sons, mas novos modelos de sustentabilidade para quem vive de criar música.
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