MIDiA prevê receita global de música gravada de US$ 110,8 bilhões até 2032

Estudo da MIDiA destaca desaceleração no crescimento, protagonismo do Sul Global, novos modelos de receita e mais influência das plataformas.
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Nathália Pandeló
Indústria chegará a 100 bilhões, de acordo com relatório da MIDiA
Indústria chegará a 100 bilhões, de acordo com relatório da MIDiA (Crédito: Reprodução)

A consultoria MIDiA Research divulgou seu novo relatório com previsões para o mercado de música gravada até 2032. O estudo, chamado “Recalibration”, estima que a receita global do setor deve chegar a US$ 110,8 bilhões nos próximos anos. Esse número considera não só o streaming, mas também vendas físicas, downloads, sincronização, streaming fora das DSPs, licenciamento para audiovisual, produção musical e ganhos com merchandising, shows e marcas.

A análise mostra que, embora 2023 tenha sido um ano forte, o crescimento já perdeu força em 2024, com aumento de apenas 4,3%. Segundo a MIDiA, esse vai e vem tem marcado os últimos anos. O streaming segue como a principal fonte de receita, mas já não cresce no mesmo ritmo. Com isso, mudanças em fontes menores de receita podem fazer toda a diferença.

Crescimento puxado por mercados fora do Ocidente

MIDiA calcula próximas tendências do setor musical (Crédito: Reprodução)
MIDiA calcula próximas tendências do setor musical (Crédito: Reprodução)

Um dos pontos principais do estudo é a mudança na origem dos assinantes. Cerca de 80% do crescimento em 2024 veio de países fora do Ocidente, e a China se tornou o quarto maior mercado de música gravada do mundo. A previsão é que o país ocupe o segundo lugar até 2031, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Esse avanço do chamado Sul Global já tinha sido apontado em relatórios anteriores da consultoria, mas agora fica ainda mais evidente. Investidores e gravadoras estão cada vez mais atentos a esses mercados, buscando novos artistas e catálogos para ampliar seus negócios.

As plataformas ganham mais espaço nas negociações

Plataformas de streaming - Spotify, Apple Music
Plataformas de streaming (Crédito: Cottonbro Studio)

O estudo também fala sobre as novas relações entre gravadoras e plataformas de streaming. As DSPs, como Spotify e Apple Music, têm ganhado mais poder. Em troca de modelos de licenciamento mais favoráveis aos artistas, conseguiram descontos em pacotes e passaram a controlar mais a divisão do dinheiro.

Outro ponto importante é a estagnação do streaming gratuito, que não cresceu em 2024. Parte disso se deve ao aumento da monetização no YouTube Premium. Mas também há uma tendência de anunciantes preferirem investir em podcasts, por oferecerem segmentação de público mais precisa do que a música.

IA, mudança de modelo e um novo cenário

Inteligência artificial - IA
Crédito: Freepik

A inteligência artificial também entrou no radar da MIDiA. O relatório mostra que cada vez mais músicas feitas com IA estão chegando às plataformas, muitas vezes sem autorização dos donos de direitos. Algumas empresas tentam operar em parceria com as gravadoras, mas outras usam a lógica de “agir primeiro e resolver depois”, como aconteceu no início com YouTube e TikTok.

Segundo a consultoria, essa mudança no modo de produzir e distribuir música está sobrecarregando o sistema. Hoje, grandes artistas não alcançam os mesmos patamares de antes e os menores lutam para transformar streams em renda real. Para a MIDiA, esse cenário está levando a uma divisão no modelo de negócios, com parte da indústria seguindo no modelo tradicional do streaming e outra focando cada vez mais em fãs, experiências e produtos diretos.

Novas fontes de receita e o que vem pela frente

Estudo da MIDiA Research aponta que o mercado global de merchandising musical atingirá US$16,3 bilhões até 2030, mas com crescimento anual reduzido para 1,6%.
Crédito: Pexels

A novidade deste ano no relatório foi a inclusão de previsões para os chamados “direitos expandidos”, que envolvem ganhos com turnês, licenciamento de imagem, produtos e parcerias de marca. Ao lado do streaming e das vendas físicas, esses formatos formam um portfólio mais diversificado para o setor.

Se forem considerados apenas os ganhos diretos das gravadoras, sem esses direitos adicionais, a projeção para 2032 é de US$ 51,2 bilhões. Mesmo assim, é um número alto. Para efeito de comparação, a Goldman Sachs prevê que as receitas fiquem em US$ 43,4 bilhões em 2030, chegando a US$ 55 bilhões em 2035.

O relatório também aponta que os assinantes de música chegaram a 737,9 milhões em 2023. A expectativa é que esse número ultrapasse 1 bilhão em 2027, puxado principalmente por mercados emergentes.

O que o ARPU tem a ver com tudo isso

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Outro ponto importante é o ARPU, que é a receita média por assinante. Para a MIDiA, esse indicador vai ser cada vez mais relevante. Acontece que ele não depende só do preço da assinatura. Entram na conta fatores como promoções, cancelamentos, tipo de plano e o tempo que o usuário fica na plataforma durante o ano.

O crescimento de mercados com assinaturas mais baratas, como os da Ásia, pode fazer o ARPU global cair, mesmo com aumentos de preço em outros lugares. Por isso, a MIDiA trabalha com um modelo mais detalhado, que leva em conta essas variações e até o impacto de planos “super premium”.

Com mais de 80 páginas de análise e dezenas de planilhas com dados de 39 mercados, o relatório “Recalibration” ajuda a entender para onde a indústria da música está caminhando. E mostra que, mais do que nunca, o setor vai precisar se adaptar a um cenário diverso, dinâmico e cheio de novos desafios.

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