O mercado da música independente segue se mostrando uma força potente em 2025. Durante a Indie Week, evento anual promovido pela A2IM (American Association of Independent Music) em Nova York, uma apresentação conjunta da Luminate e da consultoria Indie Dojo revelou que artistas e selos independentes já respondem por 35% do consumo total de música nos Estados Unidos até maio deste ano. No segmento de vendas de álbuns, a participação é ainda maior: 40%.
O levantamento, conduzido por Haley Jones, chefe do setor independente da Luminate, e Chris Muratore, em parceria com o veterano executivo Bill Wilson, mostra que gêneros tradicionalmente associados à indústria mainstream vêm cedendo espaço para um cenário mais plural.
A escuta de artistas independentes é cada vez maior, especialmente em nichos como country, ritmos latinos, jazz e dance/EDM, que superam a média geral de 35% e já passam dos 39% de participação nos respectivos gêneros.
Participação das independentes cresce mesmo com domínio de pop e hip-hop
Apesar de pop e hip-hop ainda liderarem o consumo de música sob demanda, os dados indicam um aumento da audiência para os catálogos alternativos. O fenômeno está relacionado a uma democratização no acesso à produção e distribuição musical, reflexo direto das mudanças tecnológicas e da maior autonomia dos artistas.
Segundo a Luminate, 42% dos streams das independentes em 2025 vêm de faixas de R&B/hip hop ou rock. A análise também destaca que o crescimento em gêneros como country e latin está puxando a média de consumo para cima. Nos EUA, artistas independentes nesses estilos já concentram quase dois quintos do tráfego de streaming.
No Brasil, o avanço de gêneros regionais como piseiro, arrocha e brega funk apresenta dinâmica semelhante, com plataformas como Sua Música, Palco MP3 e TikTok tendo papel central na circulação de faixas sem o intermédio de majors.
Embora ainda faltem dados nacionais tão detalhados quanto os apresentados pela Luminate, iniciativas como o novo painel de análise do Ecad e ferramentas de business intelligence já permitem aos selos independentes brasileiros mapear com mais precisão sua audiência.

Vendas de álbuns físicos e digitais seguem relevantes para o segmento
Outro destaque do relatório foi a força das independentes nas vendas de álbuns. Até maio, foram quase 12 milhões de unidades vendidas, sendo 78% em formato físico e 22% em digital. A maioria dos discos vendidos é de catálogo (63%), ou seja, lançamentos anteriores que mantêm apelo mais longo junto ao público.
Nas vendas de álbuns atuais, a participação das independentes é de 44%, com 56% nas vendas digitais. O vinil se consolida como formato de prestígio para o mercado independente: 60% das vendas de vinil das independentes são de rock, e 70% do total é dividido entre rock e R&B/hip-hop.
No Brasil, o mercado de vinil também vive uma retomada modesta, impulsionada por feiras especializadas, edições comemorativas, clubes de assinatura e selos alternativos. Artistas independentes nacionais, como os das cenas psicodélica, instrumental e MPB contemporânea, têm usado o formato como estratégia para agregar valor artístico e criar experiências mais imersivas com o público.

Certificação reconhece sucessos independentes
Como forma de destacar o impacto de artistas fora do mainstream, a Luminate e a A2IM lançaram em 2025 o programa A2IM Star Certification, que reconheceu 36 discos independentes que atingiram marcos relevantes de vendas nos Estados Unidos. A premiação sinaliza uma tentativa do setor de criar métricas e símbolos próprios para medir sucesso, sem depender dos critérios tradicionais das grandes gravadoras ou dos charts dominados por majors.
Para os profissionais da indústria, os novos dados reforçam a importância de se atentar a essas movimentações. No Brasil, a estruturação de editais, programas de incentivo regional e redes de distribuição alternativa pode fortalecer ainda mais esse ecossistema. Além disso, o cruzamento entre consumo digital, vendas físicas e presença territorial aponta caminhos estratégicos para selos e artistas em busca de consolidar sua posição no mercado.
O relatório da Luminate mostra que, mesmo em um ambiente cada vez mais competitivo e dominado por algoritmos, há espaço para diversidade sonora e estratégias personalizadas. E para os selos independentes, essa pode ser a oportunidade ideal para ocupar as lacunas que as majors ainda não conseguem alcançar com agilidade e profundidade.
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