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Inteligência Artificial: O que profissionais da música precisam saber sobre sua influência no mercado em 2025

Investimentos bilionários impulsionam inovações, mas a inteligência artificial levanta questões sobre criatividade e direitos autorais.
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Nathália Pandeló

A inteligência artificial (IA) já é realidade há algum tempo, mas está moldando o presente e o futuro da música como nunca antes. Com um recorde de US$ 56 bilhões investidos no setor em 2024 – incluindo aportes bilionários na startup Anthropic – o cenário musical vive uma revolução. Mas até onde essa tecnologia vai ajudar ou atrapalhar os criadores humanos?

Levantamentos da Berklee College of Music e da Forbes apontam um misto de esperança e preocupação. De um lado, a IA promete democratizar a criação musical; de outro, traz disputas por direitos autorais e questionamentos sobre o futuro da arte em um mercado saturado por músicas feitas por algoritmos.

IA na produção musical: avanços e dilemas

Para 2025, os especialistas preveem um aumento no uso de IA em processos criativos, desde a composição até a finalização de faixas. Ferramentas como LANDR e AIVA já permitem que músicos independentes criem faixas com qualidade profissional sem sair de casa. Contudo, essa mesma facilidade gera preocupações sobre a substituição de criadores humanos por conteúdo automatizado.

Plataformas como Spotify e YouTube já estão usando inteligência artificial para gerar playlists e até mesmo músicas, muitas vezes sem deixar claro que o conteúdo foi criado por algoritmos. Segundo a Forbes, isso reduz custos, mas também dificulta para o público identificar o que é arte genuína. A linha entre criatividade humana e produção automatizada está ficando cada vez mais tênue, alerta a publicação.

“A conta chegou”

André Felipe de Medeiros
André Felipe de Medeiros (Crédito: Divulgação)

André Felipe de Medeiros, comunicador e professor do curso “Diálogos de IA: Conceitos e Aplicações”, que teve múltiplas turmas em 2024, traz uma perspectiva crítica sobre o impacto da IA na música. Para ele, o uso desenfreado de algoritmos reflete um problema que se acumulou ao longo dos anos.

“Minha sensação tem sido a de que a conta chegou para os anos de tanta produção musical medíocre, feita para atender um mercado ditado por pouquíssimas empresas. Não sabíamos, ou não tínhamos nos dado conta, de que fonogramas tão parecidos entre si, feitos sob as mesmas cartilhas, estariam sendo usados para treinar máquinas que poderiam reproduzi-los tão fielmente”, reflete.

Apesar disso, Medeiros reconhece que a IA tem um lado positivo. 

“Existe aí uma possibilidade desse acesso […] ser ainda mais amplo com maior desenvolvimento dessas ferramentas que possibilitam de timbres a afinações, de beats a masterização. Mas para quê elas serão usadas? Para criar mais música genérica que atenda alguma demanda comercial que um par de empresas disse que existe?”.

Estes são alguns dos questionamentos no centro de seu curso, onde a IA é vista para além da dualidade do bem contra o mal. O objetivo é entender essa tecnologia e até que ponto ela pode agilizar processos, mas também compreender suas limitações e áreas cinzentas.

A batalha pelos direitos autorais na era da inteligência artificial

Uma das maiores polêmicas da inteligência artificial na música é o uso de dados não licenciados para treinar algoritmos. Artistas e gravadoras enfrentam dificuldades para proteger suas obras em um ambiente onde as leis de direitos autorais ainda não acompanham as inovações tecnológicas.

No Reino Unido, debates sobre permissões amplas para IA preocupam os criadores, que temem perder controle sobre suas músicas. André enfatiza que, embora a automatização seja inevitável, é essencial respeitar os direitos dos artistas. 

“Se vamos tratar a produção musical da mesma forma que a produção de outros bens de consumo, a automatização vem”, afirma.

Algoritmos e o gosto do público

Para Medeiros, o impacto da IA vai além da produção musical e também afeta a forma como o público consome música. 

“Os algoritmos são muito eficazes em reconhecer o gosto das pessoas […] Para o público que foi ensinado a consumir música na dinâmica da descartabilidade, não vejo por que trocar a precisão do algoritmo […] pela incerteza da playlist feita por uma pessoa que não me conhece tão bem quanto o algoritmo.”

Ele também destaca a importância de educar os consumidores sobre o valor da música feita por humanos. 

“A urgência há tanto tempo é a da formação de público minimamente qualificado que entenda valores que a arte pode ter para além de mercado/comércio/indústria”, pontua.

O que esperar do futuro?

Segundo a Forbes, a solução passa por três frentes: legislações claras, educação do público e maior transparência nas plataformas. André Felipe reforça que a proteção da arte humana deve ser prioridade.

“Ao longo da humanidade, a arte foi um movimento de conectar pessoas – ao coletivo, ao sagrado, aos seus sentimentos. Por que na nossa vez, […] vamos jogar isso fora em favor de uma dinâmica de consumo descartável?”, conclui.

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