Instagram limita lives a perfis com mais de 1000 seguidores e restringe o alcance de artistas independentes

Nova política do Instagram restringe transmissões ao vivo a contas públicas com 1.000 seguidores, afetando músicos e selos iniciantes.
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Nathália Pandeló
Instagram live 2

Uma nova regra do Instagram pegou os usuários de surpresa. A plataforma agora limita as transmissões ao vivo a contas públicas com pelo menos 1.000 seguidores. A mudança já está em vigor e deve impactar diretamente artistas independentes, microinfluenciadores e pequenos selos que usavam o recurso como uma forma acessível de conexão direta com o público. Antes, qualquer usuário podia fazer uma live, independentemente do número de seguidores ou do tipo de conta.

Na prática, isso significa que boa parte dos artistas em início de carreira, que ainda não possuem uma base de seguidores consolidada, perde o direito de usar uma das ferramentas mais espontâneas da plataforma. Estimativas apontam que entre 74% e 87% dos usuários ativos do Instagram têm menos de 1.000 seguidores, o que representa um corte expressivo na base que tinha acesso ao Live.

Mais controle, menos acesso

O Instagram não deu um comunicado oficial detalhando os motivos da mudança, mas diversos analistas apontam para uma combinação de fatores. Um dos principais seria o custo de infraestrutura para manter transmissões ao vivo com poucos espectadores, somado ao desejo da empresa de reduzir o uso indevido da ferramenta por contas falsas ou recém-criadas. Há também uma tentativa de alinhar a política do Instagram à de outras redes, como o TikTok, que já exige 1.000 seguidores para liberar o recurso.

A decisão tem efeitos diretos na forma como novos artistas e selos iniciantes constroem sua comunidade. Lives são, muitas vezes, o espaço onde esses criadores apresentam repertórios, promovem lançamentos, conversam com fãs e ensaiam formatos de conteúdo ao vivo. Ao colocar uma barreira mínima de seguidores, a rede social muda o jogo e impõe um novo ritmo de crescimento para quem depende dessas interações no início da carreira.

Quem sabe faz ao vivo

Durante a pandemia, o Instagram Live registrou um crescimento expressivo, com aumento de 70% no uso do recurso apenas nos Estados Unidos em abril de 2020. A necessidade de conexão em tempo real impulsionou o formato, que chegou a acumular 9,8 bilhões de horas assistidas por trimestre em plataformas de streaming ao vivo. 

No entanto, com a reabertura gradual das atividades presenciais, o engajamento com as lives caiu, e o volume global recuou para cerca de 8,5 bilhões de horas. A popularização de ferramentas como os Reels, mais fáceis de monetizar e com maior alcance algorítmico, também contribuiu para essa mudança de comportamento entre os criadores e o público.

Perdas para a música independente

O impacto maior recai sobre quem fazia lives não como parte de uma estratégia com grandes investimentos, mas como canal informal de comunicação com o público. Artistas que usavam o recurso para mostrar bastidores, testar músicas novas ou fazer pequenas apresentações perderam acesso imediato à ferramenta, sem aviso prévio.

Além disso, o novo requisito afeta diretamente ações colaborativas entre artistas e selos que usavam lives conjuntas para divulgar lançamentos, responder perguntas do público ou apresentar artistas novatos a audiências maiores. Para músicos em cidades menores ou sem acesso a circuitos de festivais, esse era muitas vezes o único espaço de performance ao vivo com algum alcance digital.

Reels ganham reforços, mas não substituem as lives

Instagram live

Apesar da restrição, o Instagram também lançou atualizações recentes que podem favorecer o engajamento de artistas em outras frentes. A principal é a nova função de reposts, que permite compartilhar no feed publicações e Reels de outros perfis. A novidade facilita que os fãs divulguem conteúdos de seus artistas favoritos e também que os próprios artistas destaquem postagens de fãs e criadores parceiros, diversificando o conteúdo publicado.

Outra adição é a aba “Amigos” nos Reels, onde é possível ver conteúdos já curtidos, comentados ou repostados por perfis próximos. A proposta é estimular conversas e descobertas entre usuários com interesses em comum, criando mais oportunidades de engajamento orgânico.

Essas ferramentas ampliam o potencial de viralização e descobertas dentro da plataforma, mas ainda não substituem o valor de uma transmissão ao vivo para criar vínculos em tempo real com o público. No contexto atual, elas podem servir como alternativas complementares para manter a audiência ativa enquanto o recurso de Live não estiver disponível.

Mudanças no mapa e compartilhamento de localização

Além das atualizações voltadas ao feed e aos Reels, o Instagram também passou a permitir o compartilhamento de localização no mapa com amigos selecionados. Isso pode facilitar encontros entre fãs em eventos ou shows e até ajudar artistas a promover apresentações em determinadas regiões. Mesmo que o usuário opte por não compartilhar a localização, o mapa continua funcionando como um espaço para explorar conteúdos geolocalizados de criadores locais, eventos culturais e registros de amigos.

Embora esses recursos tenham potencial para estimular interações e facilitar o marketing musical, eles exigem maior esforço de curadoria e planejamento. As lives, por outro lado, ofereciam uma porta de entrada mais direta e acessível, especialmente para quem está começando.

O desafio de crescer sem acesso ao ao vivo

Para quem está abaixo da marca dos 1.000 seguidores, o caminho mais direto é focar no crescimento orgânico do perfil. Isso envolve manter uma frequência consistente de postagens, usar hashtags estratégicas, interagir com o público nos comentários e apostar em colaborações com outros artistas. Os Reels, que têm grande alcance na plataforma, podem funcionar como uma vitrine para atrair novos seguidores.

Outras ferramentas também permanecem disponíveis. Stories, vídeos no feed e chamadas de vídeo privadas continuam funcionando, e podem ser adaptadas para manter a comunicação próxima com fãs. Para quem busca um canal de transmissão ao vivo, o YouTube exige apenas 50 inscritos e pode ser uma alternativa viável. Plataformas como TikTok e Twitch também seguem com regras diferentes e podem ser integradas à estratégia.

Além disso, os Canais de Transmissão do Instagram se tornaram uma ferramenta para aqueles artistas que desejam manter uma conexão direta e exclusiva com seu público. Nesse formato, apenas o criador pode enviar mensagens, áudios, fotos e atualizações, funcionando como um canal de bastidores onde os seguidores mais engajados recebem conteúdos em primeira mão. 

É uma forma eficaz de compartilhar prévias de lançamentos, bastidores de shows, agendas e até mensagens em áudio mais pessoais, sem depender do algoritmo do feed. Para os artistas em fase de crescimento, os canais ajudam a fortalecer a base de fãs e a construir um senso de comunidade com quem já demonstrou interesse real pelo trabalho.

Ainda é cedo para saber se o Instagram voltará atrás ou ajustará a política em função da repercussão negativa entre criadores menores. Por ora, a decisão reforça a importância de diversificar a presença digital e não depender de uma única rede para construir carreira na música.

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