A 11ª edição do IMS Business Report, divulgada durante o International Music Summit (IMS) em Ibiza, revelou que a música eletrônica movimentou US$ 12,9 bilhões em 2024 no mundo, com um crescimento de 6% em relação ao ano anterior.
Elaborado por Mark Mulligan, da MIDiA Research, o estudo mostra que, mesmo com a desaceleração das receitas de streaming e o arrefecimento do boom pós-pandemia nos shows ao vivo, o setor segue expandindo sua relevância cultural e econômica.
A análise detalha o desempenho da música eletrônica em diversos segmentos da indústria: festivais, clubes, distribuição digital, editoras, tecnologia, criação de conteúdo, redes sociais e consumo.
Um dos principais destaques do relatório do IMS é o fortalecimento das cenas locais e descentralizadas, especialmente em mercados emergentes como México, Índia e Brasil, que puxaram o crescimento de ouvintes no Spotify. No México, o aumento foi de impressionantes 60% no número de ouvintes mensais.
Outro indicador da força do gênero foi a adição de 566 milhões de novos fãs de música eletrônica em plataformas como Spotify, YouTube, TikTok, Instagram e Facebook em 2024. O TikTok, por exemplo, registrou um salto de 45% nas visualizações da hashtag #ElectronicMusic, consolidando a eletrônica como uma das culturas musicais mais engajadas da atualidade.
O SoundCloud também teve papel de destaque, com aumento de 14% nas reproduções e crescimento expressivo em gêneros como UK Garage e Minimal/Deep Tech.
IMS: Afro House e Drum & Bass puxam novo ciclo de renovação
Gêneros como Afro House, Drum & Bass e Jungle se tornaram protagonistas em 2024, impulsionando a renovação estética e cultural do segmento. O Afro House, por exemplo, saltou da 23ª para a 4ª posição entre os gêneros mais buscados no Beatport, uma das principais plataformas de venda de música eletrônica. Já o Drum & Bass registrou crescimento tanto em lançamentos quanto em performance de catálogo, com cinco faixas alcançando o topo das paradas da plataforma no ano.
Segundo Mulligan, “a cultura é o combustível do motor”, e os dados do relatório mostram que a vitalidade do gênero está menos associada a streamings ou receitas, e mais à construção de comunidades, cenas locais e linguagens próprias — especialmente entre públicos mais jovens.
Isso se reflete, por exemplo, no aumento do uso de IA generativa para a criação de música: 10% dos consumidores entrevistados afirmaram já ter usado ferramentas de IA para criar sons ou letras, e 60 milhões de usuários globais se envolveram com algum tipo de app criativo no último ano.
Brasil ganha relevância na cena eletrônica global

O cenário brasileiro acompanha esse movimento e começa a ganhar ainda mais espaço no panorama internacional. Segundo dados da Pro-Música Brasil, a indústria fonográfica no país cresceu 21,7% em 2024, atingindo R$ 3,4 bilhões (cerca de US$ 567 milhões). Desse total, 87,6% vieram de plataformas de streaming, reforçando o papel central do consumo digital.
O país já conta com mais de 30 milhões de assinaturas pagas de streaming, com aumento de 26,9% em relação ao ano anterior, o que coloca o Brasil como o 7º maior mercado global de música por streaming, segundo a própria MIDiA.
Ainda que os dados específicos sobre a fatia da música eletrônica não sejam publicados de forma isolada no Brasil, há sinais concretos de fortalecimento do gênero, como a popularização de festas temáticas, o crescimento do número de festivais regionais e a internacionalização de artistas como Mochakk, Victor Lou, Vini Vici (com forte presença local), Vintage Culture e Alok, nome já consolidado globalmente e que acaba de voltar do Coachella.
Além disso, a ampliação das ferramentas de distribuição digital e de monetização direta via plataformas como SoundCloud e TikTok tem possibilitado maior autonomia para os DJs e produtores independentes brasileiros, que agora disputam atenção com nomes globais em pé de igualdade dentro de nichos digitais específicos.
Mercado mais diverso e descentralizado
O relatório do IMS também indica avanços na representatividade. A base de usuárias mulheres registradas na AlphaTheta — fabricante de equipamentos para DJs — subiu para 16% em 2024, número ainda modesto, mas que aponta um crescimento consistente em um setor historicamente masculino. A ampliação da presença feminina entre os headliners de festivais e a ascensão de nomes como Hannah Laing, Nia Archives e Lens reforçam essa tendência.
Já nas apresentações ao vivo, o número de artistas de música eletrônica nos line-ups dos 100 maiores festivais do mundo subiu de 13% em 2021 para 18% em 2024. Um dos marcos do ano foi a aquisição da Superstruct, empresa responsável por eventos como Sónar e Awakenings, por US$ 1,4 bilhão — um indicativo claro do apetite do mercado por ativos ligados à cultura eletrônica.
Perspectivas para os próximos anos
O IMS Business Report conclui que, apesar da desaceleração no crescimento das receitas, a cultura da música eletrônica nunca esteve tão forte e difundida. A combinação de cenas locais vibrantes, maior acesso a ferramentas criativas, maior diversidade de perfis de artistas e a consolidação da base de fãs digitais indica que o gênero está apenas no início de um novo ciclo de renovação global.
Para o Brasil, os sinais são positivos: um público engajado, forte adoção do digital, talentos com alcance global e uma cena em expansão. O desafio agora é garantir apoio à profissionalização, incentivo à produção local e estruturas que permitam que mais artistas brasileiros se insiram nas redes globais da cultura eletrônica — não apenas como consumidores, mas como protagonistas.
- Leia mais:
- Grammy detalha ações da Recording Academy ao longo de 2024 em relatório de impacto
- Spotify lança playlist com IA em mais 40 países e reforça aposta em curadoria automatizada
- Exclusivo: Altafonte apoia Festival GIGANTES e celebra trajetória de BK’ com entrega de certificados
- IMS: Relatório destaca força global da música eletrônica e aponta oportunidades de crescimento para o Brasil
- Pablo Marçal é condenado por uso indevido de música de Dexter durante campanha eleitoral