IMS: Relatório destaca força global da música eletrônica e aponta oportunidades de crescimento para o Brasil

Report IMS 2025 mostra indústria de US$ 12,9 bilhões impulsionada por novos gêneros, plataformas digitais e cenas locais, com o Brasil ganhando protagonismo.
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Nathália Pandeló
Mark Mulligan, da MIDiA, apresenta estudo sobre mercado de música eletrônica na IMS Ibiza (Crédito Juan Sabatino IMS)
Mark Mulligan, da MIDiA, apresenta estudo sobre mercado de música eletrônica na IMS Ibiza (Crédito: Juan Sabatino/IMS)

A 11ª edição do IMS Business Report, divulgada durante o International Music Summit (IMS) em Ibiza, revelou que a música eletrônica movimentou US$ 12,9 bilhões em 2024 no mundo, com um crescimento de 6% em relação ao ano anterior. 

Elaborado por Mark Mulligan, da MIDiA Research, o estudo mostra que, mesmo com a desaceleração das receitas de streaming e o arrefecimento do boom pós-pandemia nos shows ao vivo, o setor segue expandindo sua relevância cultural e econômica.

A análise detalha o desempenho da música eletrônica em diversos segmentos da indústria: festivais, clubes, distribuição digital, editoras, tecnologia, criação de conteúdo, redes sociais e consumo. 

Um dos principais destaques do relatório do IMS é o fortalecimento das cenas locais e descentralizadas, especialmente em mercados emergentes como México, Índia e Brasil, que puxaram o crescimento de ouvintes no Spotify. No México, o aumento foi de impressionantes 60% no número de ouvintes mensais.

Outro indicador da força do gênero foi a adição de 566 milhões de novos fãs de música eletrônica em plataformas como Spotify, YouTube, TikTok, Instagram e Facebook em 2024. O TikTok, por exemplo, registrou um salto de 45% nas visualizações da hashtag #ElectronicMusic, consolidando a eletrônica como uma das culturas musicais mais engajadas da atualidade. 

O SoundCloud também teve papel de destaque, com aumento de 14% nas reproduções e crescimento expressivo em gêneros como UK Garage e Minimal/Deep Tech.

IMS: Afro House e Drum & Bass puxam novo ciclo de renovação

Gêneros como Afro House, Drum & Bass e Jungle se tornaram protagonistas em 2024, impulsionando a renovação estética e cultural do segmento. O Afro House, por exemplo, saltou da 23ª para a 4ª posição entre os gêneros mais buscados no Beatport, uma das principais plataformas de venda de música eletrônica. Já o Drum & Bass registrou crescimento tanto em lançamentos quanto em performance de catálogo, com cinco faixas alcançando o topo das paradas da plataforma no ano.

Segundo Mulligan, “a cultura é o combustível do motor”, e os dados do relatório mostram que a vitalidade do gênero está menos associada a streamings ou receitas, e mais à construção de comunidades, cenas locais e linguagens próprias — especialmente entre públicos mais jovens. 

Isso se reflete, por exemplo, no aumento do uso de IA generativa para a criação de música: 10% dos consumidores entrevistados afirmaram já ter usado ferramentas de IA para criar sons ou letras, e 60 milhões de usuários globais se envolveram com algum tipo de app criativo no último ano.

Brasil ganha relevância na cena eletrônica global

Brasil continua aparecendo entre os principais mercados para a música eletrônica globalmente, aponta relatório da IMS
Brasil continua aparecendo entre os principais mercados para a música eletrônica globalmente, aponta relatório do IMS (Crédito: Reprodução)

O cenário brasileiro acompanha esse movimento e começa a ganhar ainda mais espaço no panorama internacional. Segundo dados da Pro-Música Brasil, a indústria fonográfica no país cresceu 21,7% em 2024, atingindo R$ 3,4 bilhões (cerca de US$ 567 milhões). Desse total, 87,6% vieram de plataformas de streaming, reforçando o papel central do consumo digital.

O país já conta com mais de 30 milhões de assinaturas pagas de streaming, com aumento de 26,9% em relação ao ano anterior, o que coloca o Brasil como o 7º maior mercado global de música por streaming, segundo a própria MIDiA. 

Ainda que os dados específicos sobre a fatia da música eletrônica não sejam publicados de forma isolada no Brasil, há sinais concretos de fortalecimento do gênero, como a popularização de festas temáticas, o crescimento do número de festivais regionais e a internacionalização de artistas como Mochakk, Victor Lou, Vini Vici (com forte presença local), Vintage Culture e Alok, nome já consolidado globalmente e que acaba de voltar do Coachella.

Além disso, a ampliação das ferramentas de distribuição digital e de monetização direta via plataformas como SoundCloud e TikTok tem possibilitado maior autonomia para os DJs e produtores independentes brasileiros, que agora disputam atenção com nomes globais em pé de igualdade dentro de nichos digitais específicos.

Mercado mais diverso e descentralizado

O relatório do IMS também indica avanços na representatividade. A base de usuárias mulheres registradas na AlphaTheta — fabricante de equipamentos para DJs — subiu para 16% em 2024, número ainda modesto, mas que aponta um crescimento consistente em um setor historicamente masculino. A ampliação da presença feminina entre os headliners de festivais e a ascensão de nomes como Hannah Laing, Nia Archives e Lens reforçam essa tendência.

Já nas apresentações ao vivo, o número de artistas de música eletrônica nos line-ups dos 100 maiores festivais do mundo subiu de 13% em 2021 para 18% em 2024. Um dos marcos do ano foi a aquisição da Superstruct, empresa responsável por eventos como Sónar e Awakenings, por US$ 1,4 bilhão — um indicativo claro do apetite do mercado por ativos ligados à cultura eletrônica.

Perspectivas para os próximos anos

O IMS Business Report conclui que, apesar da desaceleração no crescimento das receitas, a cultura da música eletrônica nunca esteve tão forte e difundida. A combinação de cenas locais vibrantes, maior acesso a ferramentas criativas, maior diversidade de perfis de artistas e a consolidação da base de fãs digitais indica que o gênero está apenas no início de um novo ciclo de renovação global.

Para o Brasil, os sinais são positivos: um público engajado, forte adoção do digital, talentos com alcance global e uma cena em expansão. O desafio agora é garantir apoio à profissionalização, incentivo à produção local e estruturas que permitam que mais artistas brasileiros se insiram nas redes globais da cultura eletrônica — não apenas como consumidores, mas como protagonistas.

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