Hipgnosis é relançada por Merck Mercuriadis com nova estrutura

Merck Mercuriadis relança a marca Hipgnosis após a venda para a Blackstone e já garante aportes de centenas de milhões de dólares.
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Nathália Pandeló
Merck Mercuriadis, fundador da Hipgnosis (Crédito: Divulgação)
Merck Mercuriadis (Crédito: Divulgação)

Após deixar o controle da antiga Hipgnosis Songs Fund, vendida para a Blackstone em 2024, o empresário Merck Mercuriadis está de volta com um novo empreendimento sob o mesmo nome: Hipgnosis. A nova empresa retoma a estratégia de investimento em catálogos musicais, mas agora com uma proposta ampliada. A ideia é adquirir participações em empresas de gerenciamento artístico e formar parcerias que ofereçam participação acionária a artistas e seus representantes.

De acordo com o Financial Times, o novo projeto já assegurou compromissos de investimento na casa das centenas de milhões de dólares. A proposta mira diretamente uma mudança estrutural no modelo tradicional da indústria musical, que historicamente concentra os lucros nas gravadoras.

“Vou reunir cinco ou seis empresas de gerenciamento realmente importantes, todas com artistas e managers superestrelas”, afirmou Mercuriadis à publicação. “Trata-se de eles terem o controle e de ganharem a maior parte do dinheiro, e não as gravadoras.”

Reposicionamento estratégico com nome já conhecido

O uso da marca Hipgnosis não é apenas uma questão de branding. Mercuriadis foi o principal responsável por transformar o conceito de música como classe de ativo em um fenômeno global a partir de 2018. A empresa que fundou chegou a gastar US$ 2 bilhões na compra de catálogos de artistas como Shakira, Mark Ronson, Fleetwood Mac e Red Hot Chili Peppers, tornando-se referência no setor.

Em julho de 2024, no entanto, a Hipgnosis Songs Fund foi adquirida pela Blackstone por US$ 1,5 bilhão e fundida com outros ativos sob gestão da mesma empresa, incluindo os direitos de obras de Leonard Cohen, Justin Timberlake e Kenny Chesney. A companhia resultante passou a se chamar Recognition Music Group, deixando o nome Hipgnosis disponível para Mercuriadis utilizar novamente.

Crise e saída da antiga Hipgnosis

Hipgnosis Logo

A derrocada da Hipgnosis Songs Fund coincidiu com o aumento das taxas de juros globais, que impactou diretamente os cálculos de valor futuro dos ativos musicais. A empresa havia se posicionado como um veículo de rendimento estável para investidores institucionais, mas viu sua atratividade diminuir quando os dividendos passaram a parecer menos vantajosos frente a alternativas de renda fixa. A queda nas ações da HSF e as dúvidas sobre a estrutura de governança abriram espaço para críticas e pressão de acionistas.

Entre os principais pontos questionados estavam os níveis de endividamento, a transparência nas avaliações dos catálogos e a prática de pagar múltiplos elevados por ativos que, segundo os críticos, já estavam no pico de valorização. A saída de Merck foi vista por muitos como consequência direta de decisões estratégicas consideradas agressivas demais para o perfil de um fundo listado em bolsa.

O empresário rejeita a crítica de que inflacionou o mercado ao pagar valores excessivos por direitos autorais. Segundo ele, os múltiplos de avaliação usados pela Hipgnosis estavam alinhados à média do setor e as receitas futuras são garantidas pelos direitos autorais de até 101 anos.

Modelo com foco em autonomia dos artistas

Segundo Mercuriadis, a nova Hipgnosis funcionará como uma plataforma colaborativa em que artistas e managers terão participação nos lucros e nas decisões. Gravadoras, plataformas de streaming e agências passarão a ocupar o papel de prestadoras de serviço, em vez de controladoras dos ativos.

“Há uma mudança de valor acontecendo. Os artistas e seus representantes vão ser os maiores beneficiados disso.”, declarou. “Meu objetivo é ser um dos catalisadores dessa transformação.”

Ele também afirmou que a empresa atuará com aquisições de catálogos que gerem receita previsível e de baixo risco, ao mesmo tempo em que apoiará a criação de novas obras com potencial de longo prazo.

Outro objetivo declarado por Mercuriadis é tentar readquirir os cerca de US$ 2 bilhões em catálogos que ele ajudou a construir antes da venda para a Blackstone. 

“Um dos meus objetivos é comprar o catálogo de volta. A Blackstone está tendo um ótimo retorno sobre ele. Vou precisar pagar o preço justo.”

Aposta em nova governança e estrutura de mercado

A estratégia da nova Hipgnosis inclui a consolidação de empresas de management, compras pontuais de catálogos e a criação de uma “guilda de compositores”, voltada à negociação com plataformas digitais. Para Mercuriadis, os compositores seguem sendo os profissionais menos remunerados do ecossistema, mesmo sendo os pilares da criação.

“Tudo começa com a canção. E ainda assim, esses profissionais continuam sendo os menos pagos da sala.”, disse. “São essas pessoas que ajudaram a me tornar quem eu sou, e quero retribuir.”

O executivo, que já gerenciou carreiras de artistas como Guns N’ Roses, Morrissey, Elton John e Beyoncé, se diz motivado por uma missão de longo prazo. 

“O trabalho que começamos ainda não está completo, porque a indústria musical só está começando a se institucionalizar.”

Ainda não há data confirmada para o anúncio oficial dos primeiros contratos da nova Hipgnosis, mas fontes próximas ao executivo indicam que as conversas para as duas primeiras aquisições já estão em estágio avançado.

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