O dia de lançamento de uma música precisa ser estratégico. Já está muito claro para o mercado que não dá para lançar aleatoriamente, sem contexto, sem estudo, sem propósito, e mais, sem planejamento, se o artista quer alcançar bons resultados. Dos sete dias da semana, a sexta-feira parece ser a queridinha do mercado. É o Dia D dos lançamentos. Mas, afinal, como escolher o melhor dia para lançar uma música?
Para elucidar o assunto, no Guia MM deste sábado, recorremos a dois especialistas: Daniela Barcellos, Gerente Comercial Digital da Som Livre, e Arthur Fitzgibbon, Diretor da ONErpm. Em entrevista, os dois falaram sobre as melhores estratégias para os diferentes gêneros musicais e se é melhor lançar a música e depois o clipe, ou lançar os dois juntos.
Para Arthur, geralmente os finais de semana são onde as pessoas se dedicam a ouvir mais músicas nas plataformas, portanto é natural ter mais consumo nestes dias. “Para isso ter mais eficiência é importante uma divulgação anterior para avisar o seu público e orientar os algoritmos das plataformas. Dependendo do empenho do artista o ideal é que seja lançado entre 1 e 3 dias antes dos finais de semana para poder pegar um pouco na carona do consumo”, explica.
Já Daniela, destaca que o melhor dia para o lançamento depende da estratégia de cada artista. “As lojas atualizam suas playlists e destaques nas sextas-feiras. Mas o mais importante é o planejamento criativo de um lançamento. O pré, o durante e o pós lançamento”.
“Usar todas as ferramentas disponibilizadas pelos parceiros de streaming, para alcançar sua base de audiência, fazendo um grande esquenta para os fãs, é muito efetivo para um lançamento. Ações como pré-save e a entrega dos insumos de lançamento, com o pitching nas plataformas com a antecedência mínima exigida por cada uma, por exemplo, já são super diferenciais para o lançamento de uma música”, comenta a gerente da Som Livre.
Mas, de onde surgiu o foco na sexta-feira?
Questionada como surgiu a tradição de que sexta-feira seria o melhor dia para lançar uma música, Daniela revelou que a decisão da indústria da música a favor da sexta-feira surgiu em 2015, como uma maneira de proteger os principais lançamentos da pirataria digital.
“Antes disso, cada território tinha o seu dia preferido para lançamentos. Assim, desde essa data, todos os parceiros de streaming adotaram como definição que suas lojas teriam as atualizações de capas e conteúdo editorial de suas maiores playlists às sextas, principalmente as playlists de lançamentos da semana”, conta.
Arthur completou explicando que antes o mercado da música lançava música de terça-feira, “era o tempo seguro para os discos físicos chegarem até as lojas e as pessoas poderem consumir nos fins de semana”.
“A mesma regra acontece no digital, os lançamentos nas sextas-feiras aproveitam a promoção, as atualizações de playlists, o algoritmo e o machine learning das plataformas de streaming, assim como a permanência de comunicação nas redes sociais que buscam a eficiência extrema durantes o fim de semana”, diz Arthur.
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Lançar clipe e música ao mesmo tempo?
“Definitivamente lançar os dois juntos”, cravou Arthur. “Já fizemos todos os testes possíveis e a eficiência de alcance é melhor sempre com o lançamento em conjunto de áudio e vídeo. Vale lembrar que o vídeo vai muito além do Youtube, é preciso enviar o videoclipe para Amazon Video, Facebook Vídeo, Apple Music e Tidal, e com isso aumentam mais ainda a eficiência do lançamento”.
Daniela é um pouco mais cautelosa ao bater o martelo e relativiza caso a caso. Para ela, a estratégia de lançamento de um single e seu clipe no mesmo dia ou não, depende diretamente do planejamento do lançamento. Ela garante que, em muitos casos, o lançamento da faixa no streaming de áudio e o clipe juntos fazem todo sentido para potencializar o consumo.
“Para clipes especificamente, é importante que o artista saiba o horário de maior consumo de sua base de inscritos no canal e escolha o dia que fizer mais sentido para o lançamento como um todo, considerando todas as variáveis envolvidas para que o vídeo tenha o maior número de visualizações possível, dentro do seu potencial. Tendo como objetivo macro também, se beneficiar do algoritmo da plataforma e gerar mais recomendações para audiência”, explica.
A estratégia muda para cada gênero musical?
Nesse quesito os dois concordam. “Os gêneros musicais têm potencial de consumo diferentes por dia da semana”, diz Daniela. “Os picos de consumo mudam sutilmente em cada gênero musical”, explica Arthur. E completa: “temos vistos uma eficiência muito boa para o Gospel lançar às terças-feiras e o próprio Rap/Trap que focou totalmente no Youtube e os lançamentos desse gênero tem sido cada vez mais frequentes durantes às quintas-feiras”.
Já a Daniela acredita que músicas urbanas como as de Rap, têm resultados maiores de segunda a quarta, como as da nova mpb também, enquanto gêneros como sertanejo, pagode e forró são mais consumidos de quinta a domingo. “Em resumo, é importante que o artista conheça sua audiência e entenda junto aos seus fãs o que vai ser mais efetivo para aquele lançamento”, diz.
Como se equilibrar na corda bamba das plataformas?
Durante a entrevista, os dois comentaram também sobre como equilibrar o padrão das plataformas, como a possibilidade de entrar em playlists, etc; com o interesse dos fãs do artista e novos públicos. “Este é um desafio que a ONErpm defende há muito tempo. Todas as plataformas devem ser trabalhadas ao mesmo tempo. O artista deve priorizar pelo menos as dez principais plataformas”, diz Arthur.
“O mercado é muito dinâmico, então cada plataforma tem um tipo de público e a comunicação precisava ser diferenciada, seja com campanhas dedicadas, seja com uso das ferramentas exclusivas de cada um. O artista não pode basear a sua estratégia de marketing em apenas estar em playlists editoriais. Playlist não é plano de marketing”, diz Arthur.
Para Daniela, mais do que músicas comerciais que se adaptem à sonoridade das playlists, os artistas têm que fazer músicas para os seus fãs e novos públicos.
“Quanto mais um single é buscado e salvo pelos usuários, mais os algoritmos de recomendação das plataformas são ativados, o que amplifica o alcance e aumenta o consumo da música. Ou seja, não é sobre fazer música para entrar em playlist editorial do parceiro, é sobre fazer boa música para a base de fãs, para o repertório dos shows, focar na divulgação, e entender que o consumo é uma consequência”, conta Daniela.
E finaliza: “Além disso, a entrada em playlists editoriais dos parceiros, que é de fato também muito importante, está associada ao planejamento e à antecedência de pitching. Ao meu ver, esses são os principais pilares para o sucesso de um lançamento”.