Goldman Sachs prevê que receita global da música chegará a US$ 200 bilhões até 2035, com aumento frequente nos preços do streaming

Relatório “Music in the Air”, do Goldman Sachs, aponta que a música dobrará de valor em uma década, puxada por mercados emergentes, superfãs e reajustes de assinatura.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
dinheiro - Datafolha revela que brasileiros enfrentam falta de recursos para participar de eventos culturais

A projeção mais recente do banco Goldman Sachs para a indústria da música reforça uma tendência clara: o setor deve crescer de forma consistente nos próximos dez anos. O relatório anual “Music in the Air” calcula que a receita global, que foi de US$ 105 bilhões em 2024, chegará perto de US$ 200 bilhões em 2035. O estudo inclui dados sobre música gravada, editoras e o segmento de shows ao vivo, revelando novas estratégias de monetização.

Entre os principais fatores de crescimento, o Goldman Sachs aponta os reajustes periódicos nas assinaturas de streaming. Até agora, os preços das assinaturas de música permaneceram praticamente estáveis, ao contrário do vídeo sob demanda, que subiu cerca de 15% a cada dois anos nos Estados Unidos na última década. Agora, a expectativa é que essa dinâmica se repita na música. 

“Vemos uma confiança crescente entre os participantes da indústria de que os aumentos de preços acontecerão a cada 12 a 24 meses daqui em diante”, disse Eric Sheridan, diretor do banco.

Goldman Sachs aponta para mercados emergentes e espaço para expansão

Um dos destaques do relatório é o papel dos mercados emergentes no crescimento da base de assinantes. Em 2024, 60% dos novos usuários de streaming vieram dessas regiões, onde a penetração ainda era de apenas 8%. A projeção para os próximos dez anos é que esse índice suba para 14%, ainda distante do mercado ocidental, mas com potencial de bilhões de novos pagantes.

Segundo os analistas, conquistar esse público exigirá adaptações. Mais restrições nas versões gratuitas e a integração com sistemas de pagamento instantâneo, como o UPI na Índia, estão entre as estratégias citadas. A transição de ouvintes gratuitos para assinantes pagos continua sendo um dos maiores desafios da indústria.

Superfãs como motor de receita

Superfans / superfãs - Live Nation
Crédito: Unsplash

O relatório também coloca em evidência o papel dos superfãs, definidos como consumidores dispostos a gastar mais em produtos exclusivos. Nos Estados Unidos, eles desembolsam em média US$ 113 por mês em shows ao vivo e US$ 68 em música física. Entre os consumidores comuns, esses valores caem para US$ 39 e US$ 19, respectivamente.

A aposta do Goldman Sachs é que explorar melhor esse perfil pode adicionar até US$ 6,6 bilhões às receitas do setor até 2035, o equivalente a um acréscimo de 21% na receita proveniente do streaming pago. Esse movimento já é visível em ofertas que incluem áudio em alta qualidade, acesso antecipado a produtos e conteúdos exclusivos.

O impacto dos shows ao vivo

Outro ponto de sustentação do crescimento é o mercado de música ao vivo. Entre 2019 e 2024, a receita proveniente da venda de ingressos cresceu 76%, mesmo com um aumento de 50% nos preços médios. Em 2019, o tíquete médio das cem maiores turnês globais era de US$ 91, enquanto em 2024 saltou para US$ 136. A previsão é que o setor cresça a uma taxa anual de 7,2% até o final da década, impulsionado sobretudo pela demanda de millennials e da geração Z.

Esse desempenho contrasta com a economia global, que vem registrando taxas de crescimento mais modestas. Para os analistas, o desejo de experiências ao vivo continua sendo um dos pilares mais sólidos da indústria, mesmo diante de crises macroeconômicas.

Inteligência artificial, anúncios e novos formatos

PL da Inteligência artificial - IA Music Ally direitos autorais gêneros, Goldman Sachs
Crédito: Freepik

O relatório também dedica atenção ao papel da inteligência artificial. Embora houvesse preocupação inicial com a enxurrada de músicas geradas por IA, não há evidências de impacto expressivo até agora. Em vez disso, surgiram colaborações entre editoras e plataformas para proteger os artistas e estruturar o uso da tecnologia.

No campo da publicidade, houve revisão para baixo das projeções. O crescimento anual do streaming financiado por anúncios, antes estimado em 11,3% até 2030, foi rebaixado para 5,7%, reflexo da desaceleração econômica global. Ainda assim, os analistas do Goldman Sachs acreditam que esse modelo se fortalecerá no médio prazo.

Expectativas e desafios

Apesar do otimismo, os especialistas reconhecem que prever tendências em um horizonte de dez anos envolve muitas variáveis. O próprio Goldman Sachs admite que seus interesses financeiros no setor também influenciam a visão de longo prazo. 

No entanto, o consenso entre gravadoras, editoras e plataformas é de que os reajustes periódicos de preços, a ascensão dos mercados emergentes e a maior exploração do já badalado público de superfãs darão sustentação a esse crescimento.

Se confirmadas, essas projeções consolidam o setor musical como um dos mais resilientes da economia criativa no mundo todo, mostrando capacidade de adaptação em meio às transformações digitais e às mudanças de consumo.

  • Leia mais: