Os gêneros latinos se consolidaram como uma das maiores forças do entretenimento mundial. Nos últimos anos, o reggaeton, o trap latino, a bachata e o pop latino deixaram de ser tendências regionais para se tornarem parte do repertório cotidiano de ouvintes do mundo inteiro.
Segundo a Luminate, a música latina cresceu 7,6% em volume de streams nos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2025 e já responde por 7,9% de toda a receita fonográfica do país, o equivalente a US$ 1,42 bilhão em 2024, de acordo com a RIAA. Quase todo esse valor vem do streaming, o que mostra o peso das plataformas digitais nesse movimento.
E o impacto não fica só nas Américas. Na Espanha, os gêneros latinos ocupam boa parte do top 50 do Spotify há mais de dois anos. No Reino Unido, artistas como Bad Bunny, Feid e Peso Pluma já aparecem com frequência nas paradas de álbuns e singles.
Em países como Japão e Filipinas, o reggaeton e o pop latino começam a ganhar espaço em playlists locais. Rauw Alejandro, Ca7riel & Paco Amoroso e Feid fizeram turnês japonesas recentes. O chamado “regional mexicano”, por sua vez, vive um auge nos Estados Unidos, impulsionado por festivais e rádios que abraçaram o gênero.
Esse movimento, claro, não é de hoje. Entre 2014 e 2023, o número de ouvintes de música cantada em espanhol no Spotify cresceu 986% em todo o mundo. É um salto que mostra como o idioma deixou de ser barreira. A América Latina também vive um ciclo de expansão: em 2024, o streaming movimentou US$ 3,58 bilhões na região, e a projeção é que o mercado cresça, em média, 17,3% ao ano até 2030, segundo a Grand View Research.

O que são os gêneros latinos
Brasileiros que cresceram nas últimas décadas podem associar a música em espanhol apenas às novelas mexicanas, como as canções de Thalía, ou a sucessos do pop internacional, como Shakira. Mas os ritmos da região são muito mais plurais e, como diria Ricky Martin, vivem “la vida loca” em escala global.
O termo “música latina” costuma ser usado de forma genérica, mas na prática abrange uma enorme variedade de estilos com raízes em diferentes países e tradições. O reggaeton, por exemplo, nasceu no Panamá e ganhou projeção em Porto Rico. O trap latino surgiu entre artistas latinos nos Estados Unidos e se espalhou por toda a região.
O regional mexicano, com seus corridos e conjuntos de metais, tornou-se símbolo cultural do norte do México. Já a bachata e o merengue da República Dominicana, a cumbia da Colômbia e a salsa caribenha continuam influenciando novas gerações de artistas.
Essa mistura de ritmos explica por que faz mais sentido falar em “gêneros latinos” do que em uma única “música latina”. A pluralidade é o que sustenta o crescimento do movimento e o transforma em fenômeno global.
Brasil entre a força local e o desafio da integração

O Brasil é uma exceção dentro desse mapa: enquanto a música latina se internacionaliza, o país continua priorizando o que vem de casa. Dados da Luminate mostram que 74,7% dos streams de áudio e vídeo no país são de artistas brasileiros, o que demonstra a força do mercado interno.
Não é pouca coisa. Afinal, o país é o quarto maior mercado de streaming do mundo, com 195 bilhões de reproduções anuais, segundo a MIDiA Research. A receita de música gravada cresceu 18,7% em 2023, quase o dobro da média global.
Essa autossuficiência, no entanto, também revela uma distância. Mesmo com tamanha produção, o Brasil ainda tem pouca presença nas listas e prêmios dedicados à música latina. A barreira do idioma ajuda a explicar, mas há também questões de estratégia e integração regional. Parcerias como as de Anitta com artistas da Colômbia ao México mostram que a ponte é possível, e que o público responde bem quando ela é construída.
Do ponto de vista comercial, os gêneros latinos entenderam cedo que o volume é mais importante que o valor médio por usuário. Como a monetização por stream é menor na América Latina, a saída foi lançar mais músicas e manter presença constante nas plataformas.
Essa lógica levou artistas como Karol G, J Balvin e Myke Towers a alcançarem públicos de continentes distantes, com turnês esgotadas e presença garantida em festivais internacionais.
Um novo mapa da música global

O avanço dos gêneros latinos marca uma virada histórica: o espanhol se tornou a segunda língua mais ouvida no Spotify, e o centro de gravidade da música global está migrando para o sul. Países como Colômbia, México e Porto Rico deixaram de ser exportadores de ritmos isolados para se tornarem polos criativos de uma indústria conectada.
Para o Brasil, esse cenário abre uma janela de oportunidade. Ritmos como o funk, o pagode e o sertanejo têm potencial de diálogo com o universo latino, seja por parcerias musicais, seja pela criação de circuitos regionais que conectem públicos e artistas. Isso exige visão de longo prazo, mas o resultado pode ser um ecossistema pan-latino capaz de competir com o eixo anglo-americano.
Enquanto isso, o mundo segue ouvindo cada vez mais em espanhol. E talvez esteja prestes a descobrir que o português também tem ritmo de sobra para tocar em escala global.
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