Festival Dupla de Três encerra primeira edição no Rio com sessões esgotadas e encontros inéditos

Dois dias com ingressos esgotados e média de 400 pessoas por noite marcaram o sucesso da primeira edição do festival Dupla de Três.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Festival Dupla de Três
Festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)

A primeira edição do Festival Dupla de Três, que aconteceu de 12 a 15 de agosto na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, terminou com público expressivo e uma série de encontros musicais que emocionaram a plateia. Em formato intimista e gratuito, o evento reuniu trios inéditos formados por artistas de diferentes gerações e propostas musicais, sempre sem banda de apoio, apenas com seus instrumentos e vozes.

Com curadoria da jornalista e apresentadora Fabiane Pereira, a proposta do festival foi promover conexões autênticas entre artistas que, muitas vezes, ainda não haviam dividido o palco. 

“Uma coisa é planejar, pensar na teoria; outra, totalmente diferente, é ver a magia acontecer ao vivo. E os quatro encontros foram simplesmente inesquecíveis”, afirma Fabiane.

Dois dias tiveram ingressos completamente esgotados: a apresentação de Cícero, Mahmundi e Letrux, no segundo dia, e o show de encerramento com Juliana Linhares, Vanessa Moreno e Fernanda Takai. Mas todos os encontros foram marcantes. 

“Não consigo escolher qual foi o mais bonito, porque cada um teve sua força e seu brilho próprio”, completa a curadora.

Palco de afetos e cruzamentos musicais

Marcelo Jeneci, Joyce Moreno e Tiê no Festival Dupla de Três
Marcelo Jeneci, Joyce Moreno e Tiê no Festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)

Cada noite trouxe uma formação única, pensada para valorizar as trajetórias individuais, a escuta e o afeto entre os artistas. Logo na abertura, o público assistiu a uma combinação inusitada entre Zé Renato, referência da MPB, e os artistas Suricato e Ana Cañas

“Houve uma energia rock and roll quando Zé Renato, que não é do rock, cantou Belchior ao lado de Suricato e Ana Cañas”, relata Fabiane.

No segundo dia, a amizade de longa data entre Cícero, Mahmundi e Letrux ficou evidente no palco, com arranjos delicados e uma atmosfera acolhedora. O terceiro encontro trouxe Marcelo Jeneci, Tiê e Joyce Moreno

“Foi um show carregado de afeto e ternura, entre Joyce, avó de sete netos, Tiê, mãe de três meninas, e Jeneci, pai de uma filha”, lembra Fabiane.

O encerramento reuniu três vozes potentes da música brasileira contemporânea: Juliana Linhares, Vanessa Moreno e Fernanda Takai

“Foi um encontro de vozes marcantes”, resume a curadora. 

Com plateias diversas, atentas e emocionadas, a proposta do festival se confirmou na prática: oferecer um espaço de trocas reais e presença artística.

Vanessa Moreno, Fernanda Takai e Julinha Linhares no Festival Dupla de Três
Vanessa Moreno, Fernanda Takai e Julinha Linhares no Festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)

Continuidade em São Paulo

O sucesso da edição carioca já tem desdobramento certo. O Festival Dupla de Três segue agora para São Paulo, onde ocupa o palco da CAIXA Cultural entre os dias 18 e 21 de setembro. A programação permanece a mesma, com exceção do último dia, quando o cantor e compositor Leoni se junta a Juliana Linhares e Vanessa Moreno, no lugar de Fernanda Takai.

A expectativa da equipe é que o festival mantenha em São Paulo o mesmo espírito e recepção calorosa que encontrou no Rio. 

Público no festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)
Público no festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)

“Meu desejo é que o Festival Dupla de Três entre de vez para o calendário da cidade e que possamos realizá-lo por muitos e muitos anos”, afirma Fabiane.

A proposta de itinerância fortalece ainda mais o papel do festival como espaço de circulação artística e valorização da canção brasileira. Em vez de uma grande produção baseada em números, o foco do Dupla de Três está na intimidade, na escuta e no olhar cuidadoso para quem faz música com consistência.

Um festival que nasce com identidade

A ideia por trás do festival surgiu da própria trajetória de Fabiane, que sempre buscou formas de unir jornalismo, curadoria e escuta afetiva. Com passagens pela TV, rádio e plataformas digitais, ela tem se consolidado como uma das vozes mais atuantes do jornalismo musical brasileiro. O Dupla de Três, idealizado e dirigido por ela, parte dessa vivência múltipla e do desejo de oferecer ao público experiências únicas.

A curadoria parte do afeto, mas não abre mão da diversidade: nos palcos, há vozes femininas, negras, LGBTQIAPN+, artistas de diferentes regiões do Brasil, gerações e estilos. A curadora reforça que a proposta do festival é ampliar repertórios e criar pontes. Os trios são formados por dois nomes da nova geração e um artista consagrado, o que permite trocas intergeracionais e uma escuta mais aberta.

Público no festival Dupla de Três
Público no festival Dupla de Três (Crédito: Divulgação)

“Foi uma edição muito além das nossas expectativas”, resume Fabiane. 

A recepção do público confirma a aposta em um modelo de festival mais sensível, que privilegia o encontro em vez do espetáculo. 

Sem grandes estruturas cênicas, com luz reduzida e foco total nos músicos, o Dupla de Três oferece uma experiência de conexão e presença que se tornou cada vez mais rara no circuito cultural. Os aplausos demorados e o silêncio atento da plateia mostram que ainda há espaço (e desejo) por encontros como esse.

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