As colaborações entre artistas da América Latina e do Brasil estão se tornando um dos caminhos mais bem sucedidos para estimular o crescimento de públicos e gerar receita em mercados vizinhos e globais. Embora o movimento tenha se intensificado nos últimos anos, ele não é novo, e reflete uma tradição de intercâmbio cultural que agora encontra nas plataformas digitais um terreno fértil para crescer.
Com o aumento acelerado do streaming na região, os feats oferecem aos artistas brasileiros um canal direto para atingir ouvintes em países vizinhos e nos Estados Unidos. Nomes como Anitta, Ludmilla e Pabllo Vittar estão no centro dessa expansão, multiplicando colaborações que reverberam em playlists, rádios e palcos internacionais.
Embora essas conexões fiquem mais explícitas em oportunidades como o Latin Grammy, as conexões Brasil-América Latina já são frequentes, e o ano todo.
O histórico de feats e a aproximação de mercados
A ideia de unir artistas latinos e brasileiros não surgiu com a era digital. Há registros de parcerias anteriores, mas foi a partir do fortalecimento do reggaeton e do pop latino que esse intercâmbio ganhou consistência.
Um exemplo marcante é “Bola Rebola”, lançada em 2019, que reuniu Tropkillaz, J Balvin e Anitta. O single reforçou a presença da brasileira no mercado latino e aproximou públicos distintos. Em seguida, Anitta gravou “Tócame”, com Arcángel e De La Ghetto, reforçando seu trânsito no circuito urbano hispano-americano.
Outros movimentos, como “Me Gusta”, parceria de Anitta com Cardi B e Myke Towers, mostraram que o Brasil também pode ocupar espaço relevante nos charts globais. A faixa entrou na Billboard Hot 100, resultado de uma estratégia que combinou línguas, ritmos e campanhas direcionadas.
Colaborações recentes reforçam a tendência

Nos últimos meses, novas parcerias ampliaram a lista de feats entre brasileiros e latinos. O álbum “Tropicoqueta”, de Karol G, trouxe a faixa “Bandida entrenada”, com batidas explícitas de funk. A musa colombiana vem de uma colaboração com ninguém menos que DENNIS e Kevin O Chris em “Tá OK”. Não por acaso, Karol G escolheu a nova canção para se apresentar no intervalo de um importante jogo da NFL em São Paulo.
Outra novidade é a aproximação da argentina Emilia com a brasileira Luísa Sonza. Os feats entre as duas artistas vêm reforçando sua presença em playlists regionais e abrindo espaço para que seus trabalhos circulem de forma mais consistente entre Brasil, Argentina e outros países do Cone Sul. Graças a isso, Emilia levou Luísa para um show no Chile, e a brasileira também entrou com duas músicas no Top 10 dos hermanos.
Esses movimentos consolidam uma rede de conexões que fortalece o espaço de artistas em mercados ainda pouco explorados pelo pop brasileiro.
Ludmilla e o avanço no cenário internacional
O caso mais recente vem de Ludmilla, que foi tema de uma reportagem na Rolling Stone dos Estados Unidos, apresentada como o “próximo grande sucesso” da música global. Na entrevista, a cantora afirmou: “Estou fazendo meu trabalho no Brasil e quero que os Estados Unidos me conheçam. Quero que o mundo me conheça.”
A artista destacou que cerca de 80% dos brasileiros já a conhecem, mas que sua meta agora é conquistar novos territórios. Com mais de 15 bilhões de streams acumulados, Ludmilla se tornou em 2024 a primeira artista afrolatina brasileira a se apresentar no palco principal do Coachella, um marco de visibilidade mundial.
Essa movimentação internacional inclui colaborações com nomes do R&B, como a americana Victoria Monét, além de projetos planejados para dialogar diretamente com o público latino e norte-americano. É o caso de “Freaky”, faixa que aparece no recente álbum do rapper porto-riquenho Myke Towers, e “Señales”, com os espanhois Nyno Vargas e Omar Montes.
O impacto do streaming e os números do mercado
As colaborações encontram um contexto de forte expansão digital. Relatório da IFPI mostrou que a América Latina foi a região com maior crescimento de receita em 2023, com destaque para o Brasil, que avançou 21,7% no streaming e hoje ocupa a nona posição entre os maiores mercados globais.
Fora dos Estados Unidos, o consumo de áudio sob demanda cresceu 17,4% em 2024, quase o triplo da taxa registrada em território norte-americano. Esse cenário torna o público latino especialmente estratégico para artistas brasileiros.
Além de fortalecer a presença em playlists regionais e rádios, os feats ajudam a garantir exposição em festivais internacionais. Foi o que ocorreu com Anitta e Ludmilla no Coachella, reforçando que as colaborações não se restringem ao ambiente digital, mas se traduzem também em oportunidades no circuito de shows.
Estratégias para transformar feats em receita real
Embora as colaborações sejam um caminho promissor, especialistas destacam que elas precisam ser acompanhadas de estratégias bem definidas. A distribuição deve priorizar playlists e rádios nos países dos parceiros, e as campanhas precisam ser realizadas de forma conjunta, explorando canais de mídia locais.
Outro ponto central é a monetização. Acordos de divisão de royalties e execução pública precisam estar alinhados entre todos os territórios. Sem essa estrutura, feats podem trazer visibilidade sem, no entanto, gerar ganhos financeiros proporcionais.
Também é necessário que as colaborações transmitam autenticidade. Quando um feat soa forçado ou puramente comercial, pode afastar fãs de ambos os lados. Por isso, os casos de maior sucesso são aqueles em que existe afinidade artística e continuidade na relação, como turnês conjuntas ou projetos que se desdobram em mais de uma música.
O momento é propício para artistas brasileiros buscarem novas conexões com o mercado latino. Com o pop latino consolidado globalmente por nomes como Bad Bunny e Karol G, o espaço para colaborações se amplia. Para o Brasil, esse movimento representa mais ouvintes em potencial e a chance de transformar feats em receita sustentável e em reconhecimento em palcos que antes pareciam distantes.
- Leia mais:
- Zeca Veloso assina contrato com Sony Music e anuncia lançamento de seu álbum de estreia
- Artista de IA Xania Monet fecha acordo de US$ 3 milhões e expõe novos modelos no mercado musical
- UMG e Sony apostam em parceria com SoundPatrol para combater uso indevido de músicas por IA
- Exclusivo: Vocal Livre celebra 15 anos com filme exibido em 56 cidades brasileiras
- 6 soluções de acessibilidade que artistas e eventos já estão aplicando na música