A temporada de outono de 2025 tem consolidado uma tendência que já vinha se desenhando nos últimos anos: o aumento de eventos gratuitos de grande porte em espaços públicos Brasil afora. De shows internacionais em praias a festivais em praças e parques e extensas programações de São João, cidades de médio e grande porte têm investido em ações culturais que atraem milhares de pessoas — e colocam em xeque a capacidade de operação e segurança desses encontros a céu aberto.
A realização de eventos sem bilheteria não significa ausência de complexidade. Pelo contrário: à medida que o público cresce e a ocupação de espaços urbanos se intensifica, os organizadores enfrentam exigências legais específicas, além de desafios operacionais comparáveis aos de eventos pagos. A Lei nº 11.948/2004, válida no município de São Paulo, determina, por exemplo, que organizadores adotem sistemas eficientes de controle de público, acessibilidade e evacuação, mesmo quando a entrada é gratuita.
Com isso, o setor técnico que atua nos bastidores — especialmente empresas de controle de acesso e gestão de público — passou a ser peça central para viabilizar esse tipo de experiência.
“Em eventos pagos, você tem um controle prévio por meio da venda de ingressos. Já nos gratuitos, é preciso mapear pontos de entrada, prever picos de fluxo, montar esquemas de triagem e empulseiramento, além de treinar a equipe para atender com empatia — tudo isso em espaços públicos que muitas vezes não têm estrutura física definida”, explica Raquel Boletti, CEO da NS Operações, empresa que atuou em 481 eventos apenas em 2024.

A explosão dos eventos open air gratuitos
O boom atual de eventos gratuitos é impulsionado por dois fatores principais: políticas públicas de cultura mais ativas e um aumento da demanda por lazer acessível, após anos de retração durante a pandemia. Com uma população economicamente pressionada, os eventos open air se tornaram uma alternativa popular e politicamente estratégica — mas essa expansão também pressiona os bastidores da produção.
Empresas do setor têm relatado aumento na demanda por operações rápidas, adaptáveis e de baixo custo. Mas, ao mesmo tempo, enfrentam a necessidade de cumprir requisitos legais rigorosos e manter a segurança em ambientes sem infraestrutura fixa. A solução tem sido o uso de tecnologias móveis, como pulseiras com QR Code, contadores digitais de público e equipes de orientação espalhadas por zonas estratégicas de entrada e saída.
No caso da NS Operações, por exemplo, o crescimento do volume de eventos gratuitos é evidente: de 310 operações em 2023 para 481 em 2024. Ao mesmo tempo, a empresa informa ter mobilizado mais de 1.200 trabalhadores temporários no ano passado, o que indica também o fortalecimento de uma cadeia produtiva muitas vezes invisível — formada por operadores de catraca, orientadores, fiscais e técnicos de acesso.
Falta de estrutura física impõe novos padrões ao setor

A maioria dos eventos gratuitos ocorre em espaços urbanos que não foram originalmente pensados para suportar grandes fluxos de público: orlas, praças e parques. Isso exige adaptações operacionais específicas, como montagem de pontos de triagem e sinalização provisória — e, mais importante, exige que essas ações sejam feitas em conformidade com a legislação.
Especialistas do setor alertam que muitos produtores ainda subestimam a complexidade desses eventos. Sem controle de entrada, há risco de superlotação, dificuldade em casos de emergência e falhas na comunicação com o público. Em resposta a isso, surgem modelos operacionais mais robustos, inspirados em festivais pagos, que se adaptam ao formato gratuito sem abrir mão da rastreabilidade e da fluidez no acesso.
O avanço dessa profissionalização, embora ainda desigual no país, é visto como um passo necessário para consolidar políticas públicas de cultura que vão além do improviso.
O que está em jogo para o mercado
A tendência de eventos gratuitos de grande porte deve se intensificar nos próximos meses, com o calendário cultural de inverno e primavera já apontando novas edições de festivais abertos em diversas capitais. Para o mercado de produção, isso representa uma mudança de paradigma: o volume crescente de ações sem bilheteria direta exige soluções operacionais sofisticadas, mas com modelos financeiros distintos dos eventos privados.
A ausência de bilheteria, por exemplo, muda a lógica de arrecadação — deslocando a responsabilidade para o poder público ou para patrocinadores. Ao mesmo tempo, não reduz as exigências legais nem os riscos de operação. Empresas especializadas em logística de público passam a ser procuradas também por gestores municipais e organizações sociais, indicando uma nova área de atuação para o setor técnico da cultura.
Essa transformação ainda em curso deixa claro que a realização de eventos gratuitos em larga escala não é apenas uma ação cultural: é também um desafio de engenharia, regulação e planejamento urbano.
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