Por Dentro da Estratégia: como Tchelo, Symphonic Brasil e Salve Games levaram a região metropolitana de SP ao Fortnite

Em ação inédita, Tchelo lança álbum “Novos Hábitos” e estreia universo jogável no Fortnite, recriando Vila Gióia, em Itapevi.
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Nathália Pandeló
O rapper Tchelo agora integra o universo de Fortnite
O rapper Tchelo agora integra o universo de Fortnite (Crédito: Divulgação)

O rapper Tchelo agora faz parte do Fortnite. O “Tchelo War”, universo criado em parceria com a Salve Games e a Symphonic Brasil, recria o bairro de Vila Gióia, em Itapevi, na região metropolitana de São Paulo. No jogo, é possível jogar com a skin do artista, circular pela quebrada e ainda ouvir a faixa “Cara de Personalidade”, presente em seu novo disco. O lançamento acontece ao mesmo tempo em que o rapper apresenta o álbum “Novos Hábitos”, com 14 faixas produzidas por Retroboy e distribuídas pela Symphonic.

Este é o primeiro episódio do novo quadro do Mundo da Música, Por Dentro da Estratégia, que destrincha campanhas e bastidores para mostrar como grandes ações podem ser possíveis também para artistas independentes. No caso de Tchelo, a combinação entre narrativa do disco, timing do single e parcerias estratégicas ajudou a transformar uma ideia de impacto local em um produto cultural interativo, sem perder a ligação direta com a comunidade onde sua trajetória começou.

Como o universo foi construído

A criação do mapa partiu da colaboração com a Salve Games, estúdio brasileiro especializado em experiências que refletem a vivência da juventude periférica. A equipe trabalhou para levar elementos visuais e afetivos de Vila Gióia ao ambiente do jogo, com referências reais ao bairro que servem como cenário para a música.

O sócio Alexandre de Maio detalha o processo técnico. 

“A equipe do artista nos trouxe algumas as ideias e a gente já conhecia a quebrada. Usamos como centro do cenário os predinhos e reconstruímos a quebrada com o Blender e finalizamos na Unreal.”

Timing e narrativa do lançamento

Ian Bueno, da Symphonic Brasil, Tchelo e Alexandre de Maio, da Salve Games
Ian Bueno, da Symphonic Brasil, Tchelo e Alexandre de Maio, da Salve Games (Crédito: Divulgação)

A presença de “Cara de Personalidade” dentro do mapa conecta a proposta do game à mensagem do álbum. A campanha priorizou a experiência, menos como peça de divulgação isolada e mais como extensão da história que Tchelo conta no disco, que aborda mudanças pessoais e fase nova de carreira.

O próprio artista explica como a integração entre música e jogo amplia o conceito. 

“‘Novos Hábitos’ é sobre mudança e identidade. Colocar a música no Fortnite é transformar o álbum numa experiência, não só numa audição. O jogo fala de evolução, a faixa fala de personalidade. Juntos, eles passam a mensagem de uma forma muito maior. E não tem nada que tenha mais personalidade do que conseguir unir duas paixões, o jogo e minha música!”

Viabilidade para independentes e o papel da distribuidora

A ação envolve coordenação entre áreas e parceiros, da produção musical à operação técnica do mapa. Pela perspectiva da Symphonic, responsável pela distribuição e parte do planejamento, o encaixe criativo é condição para que campanhas desse tipo façam sentido para artistas independentes.

Segundo Ian Bueno, diretor da Symphonic Brasil, a construção foi feita em conjunto com a Salve Games. 

“A Salve Games é uma empresa de grandes parceiros que admiramos muito, o Alexandre de Maio nos apresentou a ideia e apostamos juntos no desafio que encaixou perfeitamente no projeto do Tchelo.”

Ele aponta os fatores necessários para que a estratégia funcione. 

“Esse tipo de ação requer muito estudo e análise, não é uma receita padrão que pode funcionar para todo mundo. O primeiro ponto é o artista ter uma conexão real com esse universo gamer, entender e gostar de verdade e, em segundo, ter um público engajado que conversa com esse universo. Além disso, exige muita dedicação e foco da parte da equipe do artista para realmente fazer acontecer, senão acaba sendo uma iniciativa rasa apenas para ‘surfar no hype’, o que pode não soar legal com a comunidade em questão”, ele recomenda.

Bueno também aponta que faz toda diferença saber a hora certa de arriscar movimentos mais ousados, desde que tenham a ver com o artista e seu público.

“Nesse nosso projeto, além do bom momento do artista, o Tchelo realmente joga e entende do universo Fortnite, isso deixa o projeto muito mais interessante e verdadeiro. Fora isso, a Salve Games é uma empresa muito experiente e capacitada, o que trouxe muita segurança para a equipe do artista abraçar o plano também.”

Representatividade e impacto local

Trazer o bairro para o jogo cria um ponto de identificação imediato para fãs e moradores de Vila Gióia. O mapa apresenta um retrato afetivo do território, pensado para circular globalmente e, ao mesmo tempo, dizer algo direto a quem vive aquele espaço.

Esse aspecto é reforçado por Alexandre de Maio ao tratar da presença periférica nos ambientes digitais. 

“Nossa realidade é construída a partir do nosso imaginário e é importante a gente ter representatividade nesses novos espaços digitais onde estão a nossa juventude.”

Como destaca Alexandre, a tendência é expandir a presença da música brasileira dentro das plataformas digitais de entretenimento. 

“Já fizemos antes do Da Lua, e estamos em negociações com artistas do Funk, do Brega e do eletrônico.”

O que artistas podem aprender

O caso de Tchelo mostra que, para artistas independentes, o ponto de partida está em alinhar conceito, público e parceiros operacionais capazes de executar com qualidade técnica. Assim, o jogo pode servir como palco de lançamento, peça de branding e produto cultural com vida própria.

Para Tchelo, ver Vila Gióia recriada dentro do game foi uma experiência marcante. 

“Foi emocionante. Cresci na Vila Gióia, e agora ver minha quebrada dentro de um dos maiores jogos do mundo é como eternizar a nossa história. Pra vocês terem ideia, meu primeiro vídeo game foi o PS4 quando eu já tinha 17 anos! Ter o console já foi uma realização pessoal, agora não é só sobre mim, é sobre mostrar que da favela a gente também cria cultura e agora isso vai rodar o mundo.”

O rapper também compartilha um conselho para quem deseja apostar em ideias fora do padrão. 

“Arrisquem. Ser independente é ter liberdade pra criar sem limite. Se a ideia parecer grande demais, é porque ela é necessária. O impossível só é impossível até alguém fazer primeiro. Evite se autossabotar respondendo não pra suas ideias ‘estranhas’, porque provavelmente ela será tão impactante quanto estranha!”

Essa movimentação mostra que a interseção entre música e games deixou de ser uma exclusividade de grandes nomes internacionais e começa a ganhar contornos próprios no Brasil, abrindo novas possibilidades para artistas, estúdios e públicos.

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