O mercado musical passou por algumas mudanças nos comandos das grandes empresas no ano de 2022. A Ingrooves Music Group, empresa mundial de distribuição, marketing e tecnologia, está incluída no rol de novas configurações do setor. Cris Falcão foi anunciada em setembro como Diretora Geral na América Latina (Managing Director LATAM).
Em seu novo papel, Falcão passou a supervisionar todos os territórios latino-americanos para a companhia. Antes disso, desde 2020, ela ocupava a função de Diretora Executiva da Ingrooves Music Group Brasil.
Empreendedora, graduada em Economia com MBA em Marketing e com 25 anos de experiência em finanças, publishing e indústria musical, Cris Garcia Falcão é considerada uma das maiores especialistas brasileiras em gestão de direitos autorais. Iniciou sua carreira na editora musical Fermata do Brasil e mais tarde fundou a gravadora independente e editora, Cada Instante.
A executiva conversou com o POPline.Biz é Mundo da Música sobre assuntos como a sua visão do mercado musical brasileiro e, também, a sua contribuição no novo cargo que assumiu neste ano.
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Cris, uma das principais características da sua atuação está a capacidade de analisar o mercado de forma macro e em conexão constante com a indústria internacional; além de compreender as nuances do ecossistema brasileiro.
Na sua visão, o mercado brasileiro conseguiu avançar de forma positiva esse ano, principalmente no quesito da profissionalização e novos negócios?
Cris Falcão: Sem dúvida, vejo que cada vez mais as empresas que atuam no setor têm se preocupado em informar e disponibilizar dados que ajudam na capacitação e profissionalização da indústria. Os eventos, por sua vez, também têm trazido painéis e workshops que vão de assuntos básicos a avançados, permeando o conhecimento. Obviamente, considerando o tamanho do Brasil, ainda temos bastante a desbravar, mas estamos no caminho.
Ainda em análise ao mercado brasileiro, com a retomada do mercado de shows e entretenimento, você acredita que o Brasil poderá ter uma posição melhor no ranking da IFPI?
CF: É difícil afirmar, porque são várias as métricas que envolvem esse ranking e muitos territórios emergentes têm avançado nesse crescimento, mas pensando que o setor que regula a monetização do ao vivo no Brasil é um diferencial frente a outras regiões, acredito ser bem possível.
Em 2022, um dos principais assuntos comentados foi sobre o mercado de catálogos. O tema é compreendido por alguns, mas por outros ainda há certos equívocos. O que significaria, na sua visão, uma verdadeira gestão de catálogo tendo o digital como uma base estratégica?
CF: A clareza e a informação nessas negociações são fundamentais. Nesse sentido, ainda acho que o mercado brasileiro está atrás de outros mercados mais maduros, mas tenho visto empresas que trabalham de forma bem responsável e com profissionais capacitados para essa gestão. No âmbito digital, tem várias frentes para explorar conteúdo pré-existente e/ou regravações com artistas da nova geração para potencializar o consumo. As plataformas têm trabalhado de forma brilhante com projetos especiais e parte editorial, que ajudam nessa exploração a exemplo da playlist “Atemporais” do Spotify. Criatividade é o diferencial.
Durante os últimos meses, a popularização dos vídeos curtos e a nova forma de se consumir e divulgar música foram destaque. Como esses novos recursos, plataformas e experiências devem ser equilibradas, na sua visão, para que a música seja o centro?
CF: É bom sempre lembrar que existe o fator geracional que impacta nesses conteúdos curtos. Muitas vezes, não é tudo sobre a música, mas quando pensamos na exploração do conteúdo musical nesse ecossistema, a música deveria ser o centro sim. Nota-se, muitas vezes, um hit viral sobre o qual os consumidores sequer sabem os artistas envolvidos. Imagine então os compositores. Ainda prefiro ver essas ferramentas como mais uma forma de divulgação e usar isso para levar a audiência a consumir o produto na íntegra através de outros meios que geram mais sustentabilidade aos titulares. É um desafio.
Ao mesmo tempo que o digital criou um cenário mais democratizado para os artistas, sobretudo os independentes, um fluxo de novos termos e desafios entraram nesse universo: algoritmo, economia da atenção, marketing de influência são alguns exemplos.
Como você visualiza que os artistas independentes estão conseguindo criar uma equação que seja, ao mesmo tempo, escalonável, rentável e que não influencie na saúde mental deles, diante das possibilidades do digital?
CF: Infelizmente, a grande maioria não consegue. Essa busca frenética pelos números gera uma toxicidade no setor. Um artista independente, muitas vezes, não tem os recursos para investir nas tantas possíveis “soluções” existentes, por isso trabalho muito com nossos parceiros na educação para construir um projeto sustentável, de longo prazo e sem se render a práticas que estão muitas vezes longe se serem as “melhores práticas”.
Em paralelo, a forma de consumo e produção de música tem alterado: singles mais curtos, quase sem introdução e um protagonismo dos vídeos curtos. Como você analisa essa forma de se consumir e fazer música, ao mesmo tempo no qual ter identidade artística permanece como um diferencial?
CF: Acima de qualquer coisa, a identidade e a verdade artística têm que prevalecer. Um artista que por sorte se torne viral não necessariamente vai sustentar seu projeto em âmbito real. O ecossistema da música como arte vai muito além de um chart, e ter seguidor não significa ter fã.
Com uma equipe somente de mulheres no Brasil, a Ingrooves também estabeleceu algumas estratégias a nível global, seja na alteração do CEO, a ampliação do seu cargo como MD LATAM e o investimento em tecnologia.
Iniciando pelo aspecto tecnológico, quais os investimentos que a companhia fez esse ano e quais os resultados que já podem ser sentidos no mercado latino e brasileiro?
CF: A tecnologia sempre foi um diferencial na Ingrooves. No último ano, chegamos a terceira patente nos EUA com a ferramenta de audiência inteligente, que acreditamos que irá impulsionar ainda mais o consumo dos nossos conteúdos globalmente. Na América Latina, tivemos um grande êxito com o trio Los Lara no México e vem muito mais pela frente.
Em termos de conexão a aproximação ao mercado latino, somos ao mesmo tempo muito próximos e, também, muito distantes. A barreira da língua é um dos principais elementos. Mas, na sua prática, você acha que estamos mais próximos desse mercado?
CF: A exportação da música brasileira é um desafio por diversas razões, e a barreira da língua é só um deles. Mas acredito que estamos avançando vide a grande participação da comunidade brasileira em eventos com Latin Billboard Week e Grammy Latino. Aqui na Ingrooves, trabalhamos muito forte em identificar oportunidades de conexão não só na América Latina como mundialmente. Recentemente, tivemos uma artista australiana produzindo com artistas brasileiros em um projeto que chamamos aqui de “Ingrooves conecta” e foi incrível.
Por fim, como você analisa e projeta essa nova fase da sua carreira em prol do mercado latino e brasileiro? Quais os resultados alcançados pela Ingrooves em 2022 que podem ser destacados e os planos para 2023?
CF: Estou extremamente feliz com essa oportunidade e muito otimista com o que vamos conquistar. Assumir a América Latina do Brasil é potencializar o nosso mercado. Em 2022, tivemos mais um ano de crescimento com assinaturas de novos Selos de diferentes gêneros musicais e, entre os sucessos, artistas como Chameleo e NINA do porte com projetos totalmente independentes e bem-sucedidos e fechando o ano com o hit viral “Tubarão Te Amo”. A ideia para 2023 é criar mais oportunidades de colaboração Inter territorial e usar da nossa tecnologia para impulsionar cada vez mais os projetos existentes e os que estão por vir.