A visita de Alejandra Olea ao Brasil veio com agenda cheia e recado direto sobre o momento da música digital na região. Diretora-geral para as Américas na Believe, a executiva destaca que a empresa tem buscado combinar tecnologia, formação interna e princípios claros no relacionamento com artistas e selos. Em conversa exclusiva com o Mundo da Música, ela reforçou que o crescimento latino passa por leitura de dados, colaboração transnacional e iniciativas locais que encurtam distâncias entre cenas.
Segundo Alejandra, a atratividade das grandes distribuidoras globais cresceu porque elas oferecem serviços e governança adaptados à carreira contemporânea.
“Eu acho que a Believe é uma opção porque ela é diferente. Ela inova, oferece certos valores que acho que deveriam ser muito importantes para os artistas: respeito, transparência. Pelo quê estou te pagando? Onde estão os dados? O que os dados estão dizendo?”, disse.
Estratégia, valores e formação
Alejandra Olea ressalta que a companhia investe em qualificação contínua. Para ela, esse é um pilar inegociável diante da necessidade cada vez mais urgente de profissionalização no setor musical, uma indústria que não para de se adaptar a novas tecnologias.
“As pessoas entram e são obrigadas a fazer alguns cursos na Believe Academy. E os cursos vão de como fazemos contratos, por que fazemos certas cláusulas, até como fazemos acordos comerciais, até quais são nossos valores, por que achamos que a transparência é importante.”
Para a executiva, especialização virou item vital em um ambiente onde hábitos de consumo e modelos de pagamento mudam em ciclos cada vez mais curtos. Um desses movimentos de expansão latina também se reflete no Brasil.
“É muito empolgante ver a música com a qual você cresceu se tornando global. Em termos de negócios, acho que é um momento para entender como se expandir e se promover em diferentes territórios. A pedra fundamental para aproveitar este momento é entender os dados, e o streaming nos permite entender muito melhor nosso público e como desenvolvê-lo”, afirmou.
Brasil, local que vira global
Para Olea, o país vive uma combinação rara entre consumo local forte e projeção internacional.
“A música brasileira costumava ser muito local. O Brasil agora está desfrutando de um componente diferente, que é o de artistas locais se tornando mais globais e mais conhecidos. E, ao mesmo tempo, artistas regionais, como os de forró, se tornando mais nacionais.”
A executiva também citou os gêneros urbano e sertanejo entre os focos da Believe no país, com ações de criação e encontros que fomentam repertório e parcerias. Além disso, a ponte entre cenas hispânicas e brasileiras está no radar. Olea descreve iniciativas para aproximar catálogos, produtores e compositores.
“Estamos tentando criar esses tipos de colaborações. Trazer hits da música em espanhol para o Brasil para serem interpretados dentro dos gêneros que são muito populares. Também estamos tentando juntar produtores e artistas da música urbana brasileira com a urbana francesa.”
Set The Tone em Fortaleza

No último fim de semana, Fortaleza recebeu a estreia do evento Set The Tone, com foco especial no forró. O encontro reuniu artistas como Du Love, DG, Batidão Stronda, Guilherme Dantas, Camila Marieta, Caio Livio, Bruna Enne, Tribo da Periferia, D’Lima e Davi Motta, além de executivos de Vybbe, Camarote, Solange Almeida, OK Promo, Kamika-z, 30praum, Acertei, Abramus e Pancada Music.
No forró, a Believe destaca um casting com nomes como João Gomes, Nattan, Felipe Amorim, Xand Avião, Solange Almeida, Iguinho & Lulinha, Taty Girl e Priscila Senna, com participação de mercado de 21%.
Na abertura do evento, Olea reforçou o caráter prático de uma iniciativa como essa:
“O Set The Tone foi criado com um propósito muito especial: fortalecer a cena do forró, criar conexões entre artistas e profissionais da indústria e mostrar que a Believe está totalmente comprometida em apoiar e desenvolver o talento brasileiro. A ideia por trás deste evento está profundamente conectada ao que vemos hoje na indústria do forró: juntos, somos mais fortes.”
IA, educação e próximos passos
Os dilemas da música digital também são reconhecidos pela diretora. Sobre inteligência artificial, Alejandra Olea adota uma visão pragmática diante do questionamento: trata-se de uma aliada ou um problema?
“Eu não sei. Eu vejo como ambos. Acho que a regulação será importante para que não seja um risco.”
Para além da tecnologia, ela chama atenção para capacitação e escolhas de parceiros como alguns dos principais “calcanhares de Aquiles” dos artistas independentes atualmente. Diante de tantas possibilidades tornadas realidade pelo streaming, é comum ter cantores, compositores e músicos perdidos quanto a seus próximos passos.
“O primeiro erro é ficar preso em um conceito. Às vezes, o fracasso é não entender que o mundo digital está mudando o tempo todo. A segunda coisa é educação. Procure parceiros que possam te educar e explicar por que é importante ler seu contrato.”
Mesmo diante dos desafios, há motivos para permanecer otimista. Olea também projetou um horizonte ambicioso para o país nos próximos cinco anos.
“O Brasil é um mercado prioritário. Gostaria de ver o Brasil se tornando top cinco no cenário global. Um dos meus grandes palpites é o crescimento contínuo do mercado musical brasileiro.”
Com iniciativas como o Set The Tone e uma estratégia que combina raízes locais com ambições globais, a Believe busca transformar o momento latino em resultados sustentáveis para artistas e selos.
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