Cota por stream: entenda a política de pagamentos que faz alguns artistas ganharem mais que outros

Cada stream conta, mas quanto ele vale? Saiba como funciona a política de pagamentos por reprodução e por que a conta muda tanto de artista para artista.
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Nathália Pandeló
Catálogo musical Spotify, playlists MusicWatch

Com a popularização das plataformas de streaming, o número de reproduções — ou streams — se tornou uma das principais métricas de sucesso na música. Ao mesmo tempo, a monetização por meio desses serviços gera dúvidas constantes entre artistas e público. Afinal, quanto vale um stream? A resposta depende de uma série de fatores e, na maioria das vezes, está longe de ser simples.

No caso do Spotify, plataforma que lidera o mercado mundial, o pagamento médio por stream fica entre US$ 0,003 e US$ 0,005. Essa média, porém, é apenas o ponto de partida. Para que uma música comece a gerar receita, é necessário que ela alcance pelo menos mil streams nos últimos 12 meses. 

O pagamento se baseia em um modelo pro-rata, no qual a receita total do serviço é dividida proporcionalmente entre os detentores de direitos de acordo com o volume de execuções.

Como o Spotify conta os streams

De acordo com o Spotify for Artists, uma reprodução é contabilizada quando o ouvinte escuta pelo menos 30 segundos de uma faixa. Isso vale tanto para faixas de áudio quanto para videoclipes — desde que estejam disponíveis e sejam visualizados por esse tempo mínimo. O número total de streams visível na plataforma inclui execuções de músicas em que o artista aparece como intérprete principal ou criador de remix.

Quando uma música é incluída em diferentes lançamentos, os streams são somados para cada versão. Além disso, mesmo que o usuário tenha feito o download da música, ela só conta como stream quando o aplicativo se conecta à internet pelo menos uma vez a cada 30 dias.

O valor do stream varia para cada artista

Bad Bunny (Crédito: Eric Rojas)
Bad Bunny (Crédito: Eric Rojas)

Apesar da média de pagamento por reprodução, os valores reais recebidos pelos artistas variam muito. Isso acontece porque o Spotify não realiza pagamentos diretos aos músicos. O repasse é feito aos detentores de direitos, que podem incluir gravadoras, selos, distribuidoras, editoras e compositores. Cada artista possui contratos diferentes com esses intermediários, o que afeta diretamente o percentual de receita que de fato chega até eles.

Como um exemplo prático, é possível observar três grandes nomes do mainstream. Drake, Bad Bunny e Billie Eilish acumulam números muito próximos em termos de streams na plataforma: 12,11 bilhões, 12,08 bilhões e 12 bilhões, respectivamente. Apesar da semelhança no volume de execuções, os valores que cada um recebe podem variar consideravelmente. Isso acontece por conta de vários fatores, mas principalmente os contratos específicos de cada artista com gravadoras, distribuidoras ou selos. Enquanto alguns têm acordos que garantem percentuais maiores sobre os royalties, outros podem estar vinculados a estruturas que retêm grande parte da receita gerada por stream.

O país de origem dos ouvintes também influencia diretamente quanto o artista recebe. Usuários nos Estados Unidos, por exemplo, geram em média US$ 0,0039 por reprodução, enquanto ouvintes em Portugal resultam em apenas US$ 0,0018. Esse desequilíbrio está ligado ao valor das assinaturas em cada região e ao volume geral de consumo de música.

Além disso, o tipo de conta do usuário também impacta o pagamento. Contas premium, que exigem pagamento mensal, geram mais receita por stream do que contas gratuitas, sustentadas por anúncios. Isso se reflete na remuneração final destinada aos detentores de direitos.

A disputa por espaço dentro das plataformas

O modelo de distribuição do Spotify é centrado na receita total da plataforma, que é dividida entre todos os artistas com base na proporção de streams recebidos. Esse sistema favorece quem já tem grandes volumes de audiência. 

Em outras palavras, quanto mais um artista é tocado, maior a fatia da receita a que ele terá direito — independentemente da quantidade de ouvintes únicos ou do impacto cultural da sua música.

Essa lógica também é aplicada em outras plataformas como Deezer, YouTube Music e Apple Music. A maioria adota modelos semelhantes de cálculo, com pequenas variações nos valores pagos por reprodução e nos critérios mínimos para contabilizar royalties.

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Como aumentar os ganhos com streams

Para os artistas, diversificar a presença nas plataformas pode ser uma estratégia que dá resultados. Estar disponível em vários serviços aumenta o alcance e a possibilidade de receitas mais consistentes. Outro ponto importante é buscar inclusão em playlists, tanto editoriais quanto feitas por usuários, já que essa é uma das principais formas de descoberta musical.

Com o crescimento do número de assinaturas e do consumo digital, a receita gerada por streaming continua sendo uma peça essencial na sustentabilidade da carreira artística. Ainda assim, entender a lógica por trás dos pagamentos é fundamental para que os músicos possam planejar melhor seus lançamentos e estratégias.

Uma conta que não para de crescer

A forma como os streams são monetizados está em constante evolução. Desde 2024, o Spotify passou a exigir também um número mínimo de ouvintes únicos para liberar o pagamento de royalties, numa tentativa de combater práticas artificiais de reprodução. 

Como afirmou o CEO Daniel Ek, a empresa busca “evitar que usuários tentem burlar o sistema com faixas de 30 segundos feitas apenas para gerar receita”. No entanto, essa política impactou diretamente a renda – já baixa – da maioria dos artistas na plataforma. Segundo o último relatório Loud & Clear, do Spotify, já são mais de 12 milhões de titulares na plataforma. Além disso, o relatório de 2022 já revelava que 80% dos artistas tinham abaixo de 50 ouvintes mensais.

A indústria segue acompanhando de perto os desdobramentos dessas práticas. Enquanto isso, para muitos artistas, entender como funciona a economia do streaming é o primeiro passo para transformar reproduções em renda de verdade.

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