Editoras musicais movimentam R$ 61,6 bilhões anuais em 16 mercados – e R$ 1 bi só no Brasil

Primeira pesquisa global da ICMP revela receita das editoras e distribuidoras musicais em mercados estratégicos.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
ICMP publica estudo sobre mercado de editoras
ICMP publica estudo sobre mercado de editoras (Crédito: Divulgação)

A Confederação Internacional de Editoras Musicais (ICMP) divulgou sua primeira análise global do mercado de editoras musicais, cobrindo 16 mercados principais. O estudo revelou que as editoras movimentam pouco mais de US$ 11 bilhões (R$ 61,6 bi) anuais nesses territórios, incluindo receitas diretas das editoras e distribuições para editoras e compositores das organizações de gestão coletiva.

A pesquisa abrangeu nove dos 10 maiores mercados musicais, conforme determinado pela IFPI em seu relatório de música gravada de 2024: Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Coreia do Sul, Canadá, Brasil e México. Também incluiu sete países que ficaram fora do top 10 – Austrália, Itália, Holanda, África do Sul, Espanha e Suécia – além de Hong Kong. O Brasil aparece como um dos mercados estratégicos analisados, demonstrando a relevância do país no cenário global de editoras musicais.

Brasil integra análise pioneira do setor

Esta é a primeira vez que empresas musicais desse porte reportaram seus dados de receita mundial de forma conjunta. 

“Esta primeira análise de mercados de editoras musicais é uma conquista marcante para nossa indústria. Temos dados de confiança e detalhados sobre a natureza e o tamanho do nosso setor, evidenciando o trabalho incrível feito pelas editoras para seus parceiros compositores e destacando o valor das canções”, disse John Phelan, diretor-geral da ICMP.

A participação brasileira no estudo foi representada pela União Brasileira de Compositores (UBC). Paula Lima, presidente do conselho da UBC Brasil, destacou: 

“A UBC Brasil tem se dedicado a apoiar compositores por 83 anos, garantindo que sejam respeitados, compensados de forma justa e reconhecidos em nosso país e além. Ao fazer parceria com a ICMP e contribuir para este relatório, pretendemos mostrar a imensa influência e importância dos compositores, enquanto continuamente buscamos maneiras de aprimorar seu crescimento, desenvolvimento e resistência diante de desafios futuros.” 

Do total arrecadado nos países pesquisados, 38,2% foi direto – receita coletada pelas próprias editoras musicais – enquanto 61,8% foi indireto, através de distribuições das organizações de gestão coletiva para as editoras.

Mercado de editoras no Brasil
Mercado de editoras no Brasil (Crédito: Reprodução)

O relatório aponta que o mercado brasileiro de editoras musicais gerou uma receita total de US$ 191,9 milhões (R$ 1 bilhão), com predominância do segmento digital (55,6%). A maior parte das arrecadações (57%) veio de operações internacionais, como licenciamento de direitos autorais para uso no exterior, sincronizações em produções estrangeiras e royalties de plataformas globais.

Apenas 22,8% da receita foi obtida de forma direta, enquanto os 77,2% restantes vieram de canais indiretos, como sociedades de gestão coletiva. Além disso, 18,3% corresponderam a receitas de sincronização (uso em filmes, publicidade, etc.), e uma pequena parcela (0,9%) veio de mecanismos não digitais, como licenças físicas. Esses números destacam a relevância do Brasil no cenário global de música e a crescente dependência do mercado externo para a monetização de direitos autorais.

Receita digital domina o mercado global

Nos mercados pesquisados, a receita digital representou 47,1% do total, excluindo distribuições das organizações de gestão coletiva para compositores. No entanto, a participação da receita digital variou amplamente entre os mercados, de 20,3% na Itália até 70,5% no México. Nos Estados Unidos, o digital representou 52,1% das receitas das editoras, enquanto no Reino Unido foi 41,5%.

Jackie Alway, presidente da ICMP e vice-presidente executiva de assuntos legais e industriais internacionais da Universal Music Publishing, destacou a importância da colaboração internacional: 

“Reunir empresas de editoras musicais, nossos colegas das associações nacionais de editoras musicais e organizações de gestão coletiva da América do Norte e do Sul, Ásia, África, Australásia e Europa em apoio a este projeto é uma conquista sem precedentes.”

Direitos de execução e sincronização completam cenário

Os direitos de execução não-digitais (shows, reprodução no rádio, etc.) formaram a segunda maior fonte de receita nos mercados pesquisados, com 21,5%, enquanto os direitos de sincronização ficaram em terceiro lugar, com 20,2%. Os números variaram consideravelmente entre países, com direitos de execução não-digitais representando 44,4% das receitas das editoras na Itália e apenas 8,7% em Hong Kong.

“Conforme o negócio da música evolui, a necessidade de informações confiáveis em todo o cenário editorial internacional é mais importante do que nunca. Os dados abrangentes e insights ajudarão a Reservoir e nossos pares a promover maior transparência no negócio, apoiar criadores de maneiras diferenciadas e capitalizar tendências globais”, observou Rell Lafargue, presidente e COO da Reservoir Media e vice-presidente da ICMP.

Metodologia abrangente inclui grandes players

A ICMP coletou dados de oito editoras musicais representadas em seu conselho, incluindo as três grandes – Sony Music Publishing, Universal Music Publishing Group e Warner Chappell Music – além de BMG, Concord Music Publishing, Reservoir Media, Kobalt e peermusic. O levantamento foi conduzido pela PMP Strategy, com patrocínio exclusivo da GC Partners, especialistas em transações financeiras internacionais.

Ralph Peer II, presidente executivo da peermusic e secretário do conselho da ICMP, enfatizou que esses dados são algo que o setor “precisava há muitos anos… Este primeiro ano gerou uma quantidade sem precedentes de informações sobre as quais a ICMP espera construir nos próximos anos.” 

Os números não correspondem a um ano civil específico, incluindo dados de distribuição das organizações “dos últimos 12 meses completos”, com grande parte das informações referente a 2023.

Transparência marca nova era do setor

Guy Henderson, presidente internacional da Sony Music Publishing e membro do conselho global da ICMP, destacou uma mudança cultural no setor: 

“Em uma indústria que frequentemente hesitou em compartilhar seus dados, o exercício também destacou os benefícios e recompensas da transparência e cooperação.” 

Esta colaboração entre as principais editoras e organizações demonstra um movimento em direção à maior abertura em um mercado historicamente reservado.

Paul Clements, CEO da Music Publishers Association do Reino Unido e co-tesoureiro do conselho da ICMP, apontou desafios globais que justificam essa cooperação: 

“Mudanças no comportamento do consumidor, mudanças econômicas, violação de direitos autorais em escala global na App Store e a ameaça de mudanças na lei de direitos autorais em favor da IA são apenas alguns exemplos da necessidade de colaboração mais forte do que nunca entre organizações comerciais internacionais de editoras musicais e seus membros editores.” 

O Brasil, como um dos mercados analisados, enfrenta esses mesmos desafios globais, tornando essa cooperação internacional ainda mais relevante para o desenvolvimento do setor no país.

  • Leia mais: