Dia Mundial do Rock: ciência mostra como o gênero faz bem ao cérebro, mesmo fora do topo das paradas

Especialistas destacam os efeitos positivos do rock na saúde, mesmo longe do topo das paradas.
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Nathália Pandeló
Gavin Rossdale, vocalista do Bush (Crédito: Vinícius Caricatte) rock
Gavin Rossdale, vocalista do Bush (Crédito: Vinícius Caricatte)

Que o rock é um gênero musical potente, ninguém duvida. Mesmo fora das paradas, ele segue mobilizando fãs ao redor do mundo, como provam o último show do Black Sabbath, um acontecimento histórico que reuniu grandes nomes do gênero no último fim de semana, e a turnê do Oasis, que acabou de começar com shows aguardados e ingressos esgotados.

Mas o rock não se resume a grandes turnês. Mesmo nos fones de ouvido, ele segue como trilha sonora e também como objeto de estudo da ciência, que há anos investiga seus efeitos no cérebro. Pesquisas mostram que ouvir música ativa circuitos ligados à recompensa, lembrança e atenção. E no caso do rock, isso inclui aumento na liberação de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à motivação.

O impacto emocional do rock

Segundo a neurologista Dra. Ana Carolina Gomes, do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, esse processo tem explicação científica.

“É o mesmo circuito ativado quando comemos algo que gostamos ou ouvimos uma música favorita”, explica.

Esse tipo de estímulo ajuda a modular o humor e a reduzir a sensação de estresse no dia a dia. Além disso, ele pode ter um impacto importante na qualidade de vida de pessoas que convivem com condições neurológicas crônicas.

Estudos da McGill University, no Canadá, mostram que ouvir músicas preferidas ativa o núcleo accumbens, área ligada à sensação de prazer. Já uma pesquisa da Universidade de Queensland, na Austrália, identificou que fãs de rock que escutavam suas músicas favoritas depois de passar por emoções negativas tiveram redução na raiva, estresse e hostilidade, além de aumento em sentimentos positivos, inspiração e relaxamento.

É por isso que o uso do rock em playlists terapêuticas, sessões de escuta ativa e atividades musicais tem crescido em hospitais e clínicas. Essa ativação cerebral contribui para a regulação do humor, o que é essencial para o bem-estar emocional. Também tem papel importante no estímulo cognitivo, favorecendo a atenção e a memória. 

As regiões estimuladas incluem o córtex pré-frontal e o sistema límbico, áreas ligadas às emoções e à tomada de decisões. Essas regiões são fundamentais para a forma como processamos sentimentos e elaboramos respostas emocionais. O efeito do rock, especialmente quando existe uma conexão afetiva com as músicas, vai além do entretenimento. Ele atua como um verdadeiro aliado no enfrentamento de desafios emocionais e de saúde.

O declínio nas paradas não diminui o impacto

Homem tocando guitarra - Crédito Clem Onojeghuo rock
Crédito: Clem Onojeghuo

Apesar de todos esses benefícios, o rock não ocupa mais o espaço de antes no mainstream. Nos anos 1980, o gênero aparecia em cerca de 60% das músicas no Top 100 da Billboard. A partir dos anos 2000, perdeu espaço para o hip-hop e o pop, que cresceram com a ascensão de artistas solo e colaborações, favorecidos pelos algoritmos das plataformas de streaming.

Em 2017, o hip-hop se tornou o gênero mais consumido nos Estados Unidos. Nos últimos anos, é raro ver bandas de rock entre os álbuns mais tocados no Billboard 200. Além da mudança nos hábitos de consumo, a estrutura mais cara das bandas (que exige mais investimento de gravadoras) e a falta de renovação consistente contribuíram para que o rock saísse do centro das atenções.

Um gênero que segue relevante

Mesmo longe dos charts, o rock mantém uma base fiel de ouvintes e presença em nichos, festivais e comunidades online. Além do impacto emocional, estudos recentes vêm mostrando que o gênero pode ter efeitos práticos no dia a dia.

Pesquisas indicam que ritmos consistentes e marcados, presentes em muitos estilos de rock, ajudam a manter o foco durante tarefas como estudar ou trabalhar. Um estudo com 280 pessoas apontou que ouvir música “groovy”, incluindo rock instrumental, reduziu em 7% o tempo de resposta em testes cognitivos, sem prejudicar a precisão. 

Em casa, o rock aparece como trilha sonora comum para atividades domésticas, já que ritmos enérgicos ajudam a reduzir a sensação de esforço e aumentam a motivação. No trânsito, estudos sugerem que ouvir rock em volume moderado pode melhorar a atenção e reduzir a fadiga em viagens longas, ainda que o volume excessivo possa afetar o tempo de reação.

A combinação de estímulo emocional e cognitivo faz do rock um aliado não só para momentos de lazer, mas também para o dia a dia. No fim das contas, ele mostra que é bom não apenas para bater cabeça, mas para a cabeça de forma geral.

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