Datafolha revela que 35% dos brasileiros enfrentam medo e falta de dinheiro para acessar cultura

Pesquisa do Datafolha aponta que insegurança e dificuldades financeiras dificultam participação em eventos culturais, apesar do crescimento do consumo.
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Nathália Pandeló
Brasileiros enfrentam medo e falta de dinheiro para acessar cultura
Brasileiros enfrentam medo e falta de dinheiro para acessar cultura

Os brasileiros têm consumido mais cultura, mas a pesquisa Hábitos Culturais, divulgada pelo Datafolha nesta terça-feira (18), mostrou que barreiras como medo da violência e dificuldades financeiras ainda travam esse acesso. O levantamento foi apresentado durante a SIM São Paulo 2025, conferência de música e economia criativa que segue até o dia 21 de fevereiro.

Segundo o estudo, feito em parceria com o Observatório Fundação Itaú, 97% dos entrevistados afirmaram ter participado de alguma atividade cultural nos últimos 12 meses. Mesmo com essa alta adesão, 35% disseram que insegurança e falta de dinheiro ainda atrapalham a ida a eventos presenciais. O relatório completo está disponível no link.

Consumo digital cresce, mas eventos presenciais seguem relevantes

Entre as atividades mais citadas pelos entrevistados, ouvir música on-line ficou na frente, mencionado por 83% das pessoas. O streaming de filmes apareceu logo depois, com 73%. Séries assistidas pela internet foram consumidas por 69% do público ouvido pelo Datafolha.

A pesquisa também mostrou que a TV aberta segue forte. Novelas foram assistidas por 56% dos entrevistados, enquanto podcasts entraram na rotina de 52%. Mesmo com esse avanço digital, mais da metade dos participantes disse que vai a eventos culturais presenciais ao menos uma vez por mês.

Violência e renda limitam presença em shows e teatros

dinheiro - Datafolha revela que brasileiros enfrentam falta de recursos para participar de eventos culturais

A pesquisa do Datafolha revelou que o medo da violência e o orçamento apertado foram apontados por 35% das pessoas como obstáculos para frequentar eventos culturais. Esses fatores acabam limitando a participação, mesmo entre quem se mostra interessado em comparecer a teatros, cinemas, shows e outras programações.

Durante o painel na SIM São Paulo, Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural, destacou que renda e escolaridade também influenciam no acesso à cultura. Segundo ele, jovens entre 16 e 24 anos, geralmente de classe social mais alta e com mais anos de estudo, são os que mais procuram festivais e eventos ao ar livre.

“A gente percebe que os ambientes, os espaços ao ar livre, onde existe a maior procura do público, destacam-se os festivais, onde os jovens estão em maior número. São pessoas de 16 a 24 anos, pessoas de maior classe social e escolaridade. A gente percebe também que não é somente a renda que mobiliza a participação nestas atividades culturais, mas sim a escolaridade”.

Festivais atraem jovens, enquanto festa junina lidera em frequência

Os dados do Datafolha também indicaram que os festivais têm chamado atenção do público mais jovem. Esse grupo busca espaços abertos, principalmente em atividades relacionadas à música. Ao mesmo tempo, a tradicional festa junina apareceu como a festividade cultural mais frequentada pelos brasileiros.

Rosa comentou que o sertanejo é o ritmo mais ouvido atualmente e que as atividades culturais, principalmente entre os jovens, ajudam a reduzir estresse e solidão. Esses aspectos, segundo ele, podem contribuir para a formulação de políticas que fortaleçam a relação do público com a cultura.

Gastos com cultura variam e produção independente pode se beneficiar

O levantamento mostrou que o perfil de gastos do público com cultura é variado. Algumas pessoas investem mais em shows e festivais, enquanto outras priorizam assinaturas de streaming e entradas de cinema. Esse retrato ajuda artistas e produtores a entenderem melhor o comportamento do público.

Com esses dados, a expectativa é que o mercado independente também consiga usar as informações para traçar estratégias e atrair mais pessoas para suas produções. Plataformas e espaços culturais podem se beneficiar ao pensar em soluções que levem em conta tanto o consumo on-line quanto o presencial.

Políticas públicas e segurança aparecem como caminho para ampliar acesso

Os resultados apresentados pelo Datafolha reforçam a necessidade de políticas públicas que ajudem a derrubar as barreiras financeiras e de segurança que ainda afastam parte da população. Incentivos para eventos gratuitos e medidas que garantam mais proteção em espaços culturais podem fazer diferença.

A pesquisa também aponta que o setor cultural precisa se aproximar ainda mais do público, entendendo essas dificuldades e buscando maneiras de facilitar o acesso. Dados como esses podem servir de base para negociações de patrocínios, parcerias e novas formas de distribuição cultural.

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