Exclusivo: Cria.co inaugura primeiro hub musical de BH focado em talentos periféricos

Iniciativa Cria.co reúne estúdio, capacitação e agenciamento para fortalecer a cena do rap e do funk em Belo Horizonte
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Parede da Cria.Co
Parede da Cria.co (Crédito: Divulgação)

O Cria.co, primeiro hub musical de Belo Horizonte voltado à profissionalização de artistas periféricos, acaba de ser lançado, com o objetivo de estruturar a cadeia da música urbana local. A iniciativa nasce em meio ao crescimento do rap e do funk no Brasil, gêneros que já figuram entre os mais ouvidos do país, mas que ainda carecem de suporte técnico e estratégico para garantir sua sustentabilidade no mercado.

Segundo dados do Spotify de 2024, três dos cinco artistas mais escutados no país são nomes do funk: MC Ryan SP, MC IG e MC PH. Apesar dessa visibilidade, artistas de regiões periféricas e suas equipes muitas vezes enfrentam desafios para lidar com a profissionalização. É esse o cenário que o Cria.co pretende transformar.

O projeto é idealizado por Carolina de Amar, cofundadora da A Macaco e do Festival Sarará, que tem longa trajetória na cena do funk e hip hop da capital mineira. A proposta do Cria.co é atuar de forma integrada em seis frentes: incubadora, estúdio, editora, distribuição, agenciamento e capacitação. 

“Apesar do avanço da música urbana de BH no Brasil e no mundo, ainda enfrentamos uma escassez de profissionais preparados para gerir carreiras com visão de futuro, administrar catálogos de obras e fonogramas, estruturar turnês com estratégia e consistência e até mesmo lidar com contratantes, editais e formalizações de forma segura”, explica Carolina.

Segundo a produtora, o Cria nasce com a missão de contribuir para que o crescimento atual do funk e do rap não seja pontual, mas se consolide como uma presença permanente no mercado. A atuação do hub será voltada não só para artistas, mas também para selos independentes e agentes da cadeia produtiva musical que atuam nas margens do circuito tradicional.

Integração entre conhecimento técnico e linguagem acessível

Carolina de Amar, co-fundadora da A Macaco (Crédito: Divulgação)
Carolina de Amar, co-fundadora da A Macaco (Crédito: Divulgação)

A equipe do Cria se estrutura como uma plataforma de inteligência artística, oferecendo suporte desde a etapa criativa até a gestão estratégica de carreiras. A label manager Catarina Capelossi destaca que o diferencial está na forma como o conhecimento é transmitido. 

“A Cria.co só é um hub porque a forma da gente trabalhar é acolhedora em integrar tudo que se conhece entre as partes. Chegamos para tornar viável e acessível o nosso conhecimento, desde a nossa linguagem até a forma de abordar e receber as pessoas”, afirma.

A ideia é traduzir os desafios da indústria musical para a realidade dos artistas periféricos, com foco em curadoria, formação e gestão de direitos. As formações oferecidas cobrirão temas como direitos autorais, marketing musical, estruturação de equipe e performance digital, alinhando o conteúdo às demandas atuais do mercado. A proposta é contribuir para a sustentabilidade de negócios criativos, fomentando um ecossistema mais profissionalizado e estável.

Artistas do catálogo e primeiras ações formativas

Atualmente, o Cria.co já conta com um time de artistas que inclui MC Vitin da Igrejinha — autor do hit “Baile do Morro”, que acumula mais de 200 milhões de plays nas plataformas digitais — além de Maika, Brandu, PS e DJ Lucas BHZ. A presença desses nomes reforça a força da música urbana mineira no cenário nacional e serve como ponto de partida para a construção de um ambiente mais sólido e estruturado para novos talentos.

A primeira iniciativa formativa do Cria.co será o curso Produção Artística para Shows, previsto para ser divulgado nas próximas semanas através do Instagram do hub. A capacitação terá como foco preparar as equipes que acompanham os artistas para lidar com as demandas técnicas e operacionais que surgem quando uma faixa viraliza ou um show é contratado. 

“Quando uma música estoura, as demandas de palco chegam rápido, e nem sempre o entorno do artista está preparado para responder a isso com estrutura. Nosso objetivo é capacitar essas pessoas com as ferramentas e conhecimentos essenciais para atuar de forma profissional, garantindo que os shows sejam bem executados, que os artistas sejam valorizados e que as oportunidades se multipliquem”, diz Carolina.

Conexão com a base e fortalecimento do ecossistema local

O lançamento do Cria.co marca também um retorno simbólico de Carolina de Amar às raízes que a formaram profissionalmente. Ao identificar os principais gargalos enfrentados por artistas e produtores da periferia, a empreendedora busca transformar sua vivência no setor em um modelo replicável de desenvolvimento cultural. 

O projeto mira a longo prazo e se propõe a ser mais que uma vitrine para talentos emergentes — quer ser um ponto de conexão entre potencial criativo e sustentabilidade econômica.

Ao longo do ano, o Cria.co prevê uma série de workshops e ações formativas que pretendem fortalecer a cena musical periférica de Belo Horizonte. Em um momento em que o rap e o funk mineiros ganham cada vez mais projeção nacional, a expectativa é que o hub ajude a consolidar esse avanço e garantir que ele não seja interrompido pela ausência de estrutura. A atuação será acompanhada por estratégias de comunicação acessíveis e um olhar atento às necessidades reais de quem está na base da indústria musical brasileira.

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