Spotify chega a 2025 como uma empresa completamente diferente da que começou

Transformações no modelo de negócios redefinem o papel do Spotify na indústria da música.
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Nathália Pandeló
Catálogo musical Spotify, playlists

Nos quase 20 anos desde sua fundação, o Spotify passou por uma grande transformação em seu modelo de negócios. Criado em 2006 por Daniel Ek e Martin Lorentzon, o Spotify foi lançado oficialmente em 2008 como uma alternativa legal à pirataria, um problema que parecia sem solução para a indústria musical nos anos 2000.

Em 2025, a empresa apresenta um modelo de negócios e um catálogo que refletem mudanças profundas, tanto em sua estrutura quanto na sua relação com artistas, usuários e detentores de direitos autorais.

O início: uma solução para a pirataria

No lançamento, o Spotify era uma tentativa de frear a pirataria digital que dominava o mercado. Com plataformas como Napster e Kazaa oferecendo músicas gratuitamente, a receita da indústria caiu pela metade entre 1999 e 2014. O modelo inicial do Spotify era simples: disponibilizar músicas por meio de streaming, com um plano gratuito sustentado por anúncios e um plano pago sem publicidade. A proposta era atrativa tanto para usuários quanto para gravadoras, garantindo uma fonte de receita em um mercado que enfrentava perdas constantes.

Esse modelo, conhecido hoje como “Spotify 1.0”, focava exclusivamente em músicas licenciadas de terceiros, com curadoria manual e pagamento de royalties que consumiam cerca de 70% da receita da empresa. Esse formato era eficaz para atrair usuários, mas apresentava margens de lucro extremamente apertadas e pouca flexibilidade para evoluir o modelo de negócios.

A transição para o “Spotify 2.0”

Spotify anuncia novidades para criadores de podcasts - Daniel Ek

Com o passar dos anos, o Spotify enfrentou pressões crescentes para diversificar suas receitas e reduzir a dependência de gravadoras. A entrada na Bolsa de Nova York, em 2018, marcou o início dessa mudança. Para atrair investidores, a empresa precisou mostrar potencial de lucratividade, o que exigiu uma revisão de seu modelo de negócios.

Uma das primeiras medidas foi a expansão para novos formatos de conteúdo, como podcasts e audiolivros. Desde 2015, o Spotify vem adquirindo empresas nesse segmento, incluindo a Anchor FM e a Gimlet Media. Além disso, a empresa passou a investir em ferramentas como o Discovery Mode, que permite a artistas promover suas músicas em troca de uma remuneração reduzida por streaming. Esse movimento diversificou as fontes de receita e também alterou a dinâmica com as gravadoras, que passaram de parceiras controladoras a clientes do Spotify.

Outra mudança foi a adoção de curadoria algorítmica. Se antes a curadoria era feita por humanos, hoje é liderada por algoritmos que personalizam a experiência do usuário com base em seus hábitos de escuta. Playlists como Descobertas da Semana e Radar de Novidades são exemplos dessa abordagem, que prioriza a relação entre o usuário e a plataforma, reduzindo a importância da conexão com artistas individuais.

Diversificação do conteúdo e estratégia comercial

A expansão do Spotify não se limitou aos formatos de áudio. A plataforma também integrou recursos como o Spotify Clips, que permite aos artistas compartilharem vídeos curtos, e o Spotify Canvas, que adiciona loops visuais às faixas. Essas inovações reforçam a proposta de valor da empresa, mas também levantam questões sobre o impacto na experiência do usuário e na identidade da plataforma.

No modelo comercial, o Spotify adotou licenças variáveis e introduziu novos planos de assinatura, como o “Super Premium”, com áudio em alta definição. Essas mudanças ajudaram a melhorar as margens de lucro, mas também trouxeram críticas. Artistas e detentores de direitos frequentemente apontam que a remuneração por streaming continua baixa, enquanto as iniciativas de promoção paga, como o Discovery Mode, geram debates sobre a equidade no mercado.

O que esperar do “Spotify 3.0”

Lançamentos musicais no primeiro trimestre - Laufey
Crédito: Reprodução Spotify

Em 2025, o Spotify parece estar entrando em uma nova fase, que pode ser chamada de “Spotify 3.0”. Essa próxima etapa deve aprofundar a independência da empresa em relação às gravadoras e explorar ainda mais o uso de inteligência artificial. A aquisição de startups especializadas em IA, como a Sonantic, sinaliza que a empresa está interessada em desenvolver novas formas de conteúdo, incluindo áudio gerado automaticamente e narrações personalizadas.

Outra área de crescimento é a produção de músicas personalizadas por IA, uma tendência que já é explorada por empresas como Tencent na China. Essa visão pode reduzir os custos e aumentar a eficiência, mas também levanta preocupações sobre a originalidade e a valorização de criadores independentes.

Desafios e pressões competitivas

Apesar de avanços em diversificação e modelo de negócios, o Spotify continua enfrentando desafios estruturais e críticas sobre suas práticas. A remuneração de artistas permanece uma questão delicada, com muitos apontando que o modelo baseado em royalties não acompanha as necessidades dos criadores. Além disso, a dependência crescente de algoritmos para curadoria de conteúdo levanta dúvidas sobre seu impacto na diversidade musical, com preocupações de que artistas menores possam ser prejudicados em relação aos mais populares.

A concorrência também continua pressionando o Spotify a se reinventar. Plataformas como YouTube Music e Amazon Music utilizam os ecossistemas mais amplos de suas empresas mães para oferecer integrações e preços competitivos. Isso desafia o Spotify a manter sua posição de liderança e garantir uma experiência diferenciada para seus usuários.

Ao olhar para o futuro, o Spotify continua a evoluir, mas o impacto dessas mudanças na indústria da música e na experiência do usuário ainda está em aberto. A empresa parece determinada a redefinir o áudio, mas enfrenta o desafio de equilibrar inovação, lucratividade e relações com artistas e usuários.

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