Sucessos em queda: Chartmetric mostra que 2025 tem menos da metade dos hits de 2024

Levantamento da Chartmetric revela que só 23 músicas se destacaram até junho, contra 49 no mesmo período do ano passado.
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Nathália Pandeló
Chartmetric mostra diferença de faixas no top 50 em 2024 e 2025
Chartmetric mostra diferença de faixas no top 50 em 2024 e 2025 (Crédito: Divulgação)

A primeira metade de 2025 tem sido atípica para o mercado da música pop. Um levantamento da Chartmetric mostra que, entre janeiro e junho deste ano, apenas 23 músicas alcançaram status de sucesso nas paradas globais. No mesmo período de 2024, esse número foi mais que o dobro: 49 faixas. Além da quantidade menor, chama atenção a ausência de um grande hit do verão, aquele tipo de música que domina rádios, redes sociais e playlists durante meses.

Em 2024, esse espaço foi ocupado por músicas como “TEXAS HOLD ‘EM” de Beyoncé, “Espresso” de Sabrina Carpenter e “Good Luck, Babe!” de Chappell Roan. Já neste ano, poucos lançamentos conseguiram emplacar com força parecida. “Manchild”, da própria Sabrina Carpenter, e “DtMF”, de Bad Bunny, estão entre as poucas faixas lançadas em 2025 que conseguiram entrar nas primeiras posições das paradas. Muitas das músicas mais ouvidas atualmente, como “Die With A Smile”, de Lady Gaga com Bruno Mars, são lançamentos do ano passado que continuam performando bem.

O que define um sucesso hoje?

A ideia de hit sempre teve critérios relativamente claros: tocar no rádio, vender muito e marcar presença cultural. Mas isso vem mudando. Em entrevista à Chartmetric, o pesquisador Noah Askin, que já estudou 58 anos de dados da Billboard Hot 100, disse que hoje é mais difícil apontar o que realmente configura um sucesso. 

“Não é tão fácil definir como era antes, e é mais difícil argumentar que a Billboard captura tudo”, explicou.

A fragmentação do consumo musical, impulsionada pelo streaming e pelas redes sociais, contribui para esse cenário. O que antes era um fenômeno coletivo virou algo mais disperso. Um sucesso pode acontecer dentro de um nicho, viralizar por um trecho no TikTok, ser incluído em uma série ou explodir em uma playlist, sem necessariamente dominar o imaginário coletivo.

TikTok e o sucesso que não se sustenta

As 10 canções no topo do Spotify em 2024 e 2025, segundo o Chartmetric
As 10 canções no topo do Spotify em 2024 e 2025, segundo o Chartmetric (Crédito: Divulgação)

O TikTok ainda é um dos caminhos mais rápidos para uma música viralizar, mas isso nem sempre se traduz em carreira sólida ou audiência nas plataformas de streaming. Um exemplo citado na matéria da Chartmetric é a música “abcdefu”, de GAYLE, que foi indicada ao Grammy em 2022 após viralizar, mas enfrentou críticas e pressão nas redes.

Além disso, o retorno financeiro da plataforma é pequeno: cerca de US$ 0,03 por vídeo com a música. Se um artista tiver mil vídeos com sua faixa, isso representa apenas US$ 30. E muitos desses vídeos nem mostram a música toda, o que limita o alcance real do trabalho do artista. O uso é muitas vezes contextual, como o caso de “Oh No”, do Kreepa, mais associado ao tipo de conteúdo em que aparece do que à música em si.

Mais nichos, menos monocultura

Um estudo da MIDiA Research, citado pela Chartmetric, mostra que essa fragmentação tem dificultado a descoberta de novos artistas. Isso porque as plataformas de streaming funcionam hoje como ambiente de escuta passiva, enquanto as redes sociais viraram espaço de descoberta ativa. Isso fez crescer o papel dos nichos e das microcomunidades, onde os artistas constroem relações mais diretas com os fãs, mesmo que fora do radar do mainstream.

Artistas como Laura Marling e Nick Cave investem em newsletters e plataformas como o Substack, criando uma base fiel de seguidores. Esse tipo de estratégia mostra que não é mais necessário emplacar um grande hit para ter uma carreira sustentável.

O fenômeno da “glocalização”, estudado por Will Page e Chris Dalla Riva, também ajuda a explicar esse novo cenário. Em vez de buscarem grandes sucessos internacionais, muitos ouvintes estão se voltando para artistas e gêneros locais. O resultado é que cada mercado regional passa a produzir seus próprios sucessos, o que também impacta a presença de faixas globais nas paradas.

O que vem pela frente?

Depois de um 2024 com tantos lançamentos marcantes, a calmaria de 2025 levanta dúvidas. É só uma fase passageira ou sinal de que o modelo de sucessos como conhecíamos está ficando para trás? Para Askin, é possível que não haja uma explicação específica. 

“A gente gosta de criar narrativas para essas coisas, quando pode ser apenas uma sequência aleatória de eventos.”

Independentemente do motivo, os dados da Chartmetric mostram que o conceito de hit está em mutação. Em vez de alcançar todo mundo de uma vez, o sucesso agora pode vir de diferentes caminhos, com objetivos variados. Mais do que milhões de plays, talvez o que artistas busquem seja formar conexões reais com quem os escuta.

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