A BMG fechou um contrato para administrar o catálogo de Sabotage, um dos nomes mais importantes do hip-hop brasileiro. O acordo reforça a expansão do legado do artista, que segue relevante mais de duas décadas após sua morte.
Sabotage, nome artístico de Mauro Mateus dos Santos, nasceu em 1973 na Favela do Canão, em São Paulo. Sua trajetória no rap ganhou projeção com o álbum “Rap é Compromisso!” (2000), que abriu espaço para colaborações com Racionais MC’s e Charlie Brown Jr. Além da música, atuou no cinema em “O Invasor” e “Carandiru”.
Em 2003, Sabotage foi assassinado, interrompendo uma carreira que ainda estava em ascensão. Mesmo assim, um álbum póstumo, lançado em 2016, manteve sua presença no hip-hop nacional e fez o rapper crescer 2000% no Spotify – o que comprova que suas composições continuam com grande potencial na era do streaming.
BMG se aproxima do hip-hop
Com o novo contrato, a BMG assume a administração dos direitos autorais do catálogo de Sabotage. A iniciativa faz parte da estratégia da empresa de expandir sua atuação no mercado brasileiro de hip-hop.
Lan Santos, A&R Manager da BMG Brasil, afirmou que o compromisso da gravadora é potencializar o catálogo do artista.
“É muito gratificante profissionalmente e pessoalmente pra mim ter o Sabotage com a gente, sou grande admirador do trabalho, e todos aqui na BMG sabemos da importância histórica do artista pra história do hip hop no Brasil. Estamos seguros de que com muito empenho e trabalho iremos cada vez mais potencializar esse catálogo que inspira gerações há tanto tempo a cada vez mais buscar alcançar novos êxitos.”
Para Daniel Fernandes, General Manager da BMG Brasil, a parceria garante que a obra de Sabotage continue alcançando novos públicos. O objetivo é preservar o impacto do rapper na cultura hip-hop e ampliar sua presença no mercado musical.
“Estamos extremamente honrados em administrar o legado do Sabotage, um verdadeiro ícone da música brasileira. Seu impacto na cultura hip-hop e na arte em geral transcende gerações, e nossa missão na BMG é garantir que sua obra continue inspirando e alcançando novos públicos. Com respeito e dedicação, vamos preservar e amplificar sua grandiosa contribuição para a música.”
O crescimento da empresa que cuida do legado do artista tem se mantido estável nos últimos seis anos, com um aumento de 30% ao ano. Com a entrada da BMG, a expectativa é que a distribuição e gestão dos direitos autorais ganhem ainda mais alcance.
A busca por material inédito

A Família Sabotage vem trabalhando para consolidar e organizar o acervo do rapper. Wanderson Mateus, conhecido como Sabotinha, explica que os registros musicais do pai só foram reunidos a partir de 2015. Desde então, novas faixas inéditas foram encontradas, algumas datadas de 1985.
“Depois da morte do meu pai, ficou tudo perdido por aí. Só conseguimos reunir as obras em 2015, quando montamos a empresa da família. Já são 10 anos e muita coisa ainda está surgindo. Registros e documentos mostram a vida musical dele desde a infância. Foi super importante resgatar este material, pois agora temos novos lançamentos inéditos pela frente, sendo que é tudo que o fã espera. Estamos chamando de arqueologia da música, porque a cada escavada sai uma joia. Tem coisa de 1985, ou seja, 40 anos de arte. Considero que meu pai está sabotando o sistema mais uma vez.”
Tamires Mateus, filha do rapper, acrescenta que o acervo inclui gravações que mostram o início de clássicos como “Na Zona Sul” e “Rap e Compromisso”. Entre as faixas descobertas estão “Garota de Sampa” e “Tem Que Ter Fé”, esta última uma homenagem a Ayrton Senna. O material também inclui vídeos de festas e festivais em que Sabotage se apresentava no início da carreira.
“O nascimento, trajetória e marcos do Maurinho, que o fã nunca viu”, antecipa.
Dalva da Rocha, viúva do rapper, considera que o trabalho de preservação do acervo é um processo contínuo. Parte do material foi guardada desde a época em que ainda namoravam. Agora, com o suporte da tecnologia, gravações antigas podem ser restauradas e lançadas para o público.
Parceria para novos lançamentos
Para viabilizar a próxima fase do legado do artista, a Família Sabotage buscou uma equipe especializada em gestão de direitos autorais. Karina Spinoza, gestora do espólio, destaca que a parceria com a BMG foi definida pela capacidade da gravadora de expandir o catálogo de forma expressiva.
A família também contou com apoio de profissionais do meio musical e jurídico. O jornalista Andre Caramante ressaltou a importância do resgate das obras de Sabotage para a história da cultura negra no Brasil. Já o advogado Andre Gallo, responsável pela gestão autoral do espólio, destacou que a nova fase trará agilidade e novas oportunidades para os lançamentos futuros.
Novas estratégias para o mercado
A entrada da BMG marca um novo momento para o legado de Sabotage. O plano inclui a ampliação da presença digital do catálogo, garantindo maior acessibilidade ao público e novas formas de monetização.
A distribuidora já trabalha na reformulação da estratégia de licenciamento das músicas, explorando parcerias com diferentes plataformas e selos especializados em hip-hop. A iniciativa busca otimizar o alcance comercial da obra do rapper, respeitando sua identidade artística.
A gestão do catálogo também envolve a curadoria de novas edições e compilações. A equipe responsável pelo espólio avalia a possibilidade de lançar materiais inéditos e registros remasterizados, alinhados com as expectativas do público e do mercado musical.
Os próximos anos devem consolidar Sabotage como uma referência ainda mais forte na indústria fonográfica. O rapper continua sendo um dos nomes mais influentes do hip-hop nacional, e a preservação de sua obra segue como prioridade para a família e os envolvidos na gestão de seu legado.