Balanço 2025: Thiago Hiroshi, da SoundOn, analisa força do repertório brasileiro e novas rotas de descoberta

A série de entrevistas traz a visão da SoundOn sobre crescimento do streaming em 2025, papel do TikTok e estratégias para ampliar alcance de artistas brasileiros.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Thiago Hiroshi, da SoundOn
Thiago Hiroshi, da SoundOn (Crédito: Divulgação)

Dando continuidade à série de entrevistas do “Balanço 2025”, o Mundo da Música conversa com executivos que atuam diretamente na construção de estratégias para artistas, selos e plataformas em um mercado cada vez mais competitivo. A proposta segue a mesma: ouvir quem está na operação, com foco em números, comportamento do público e decisões que ajudam a entender como a indústria brasileira se movimentou ao longo do ano.

Nesta edição, o olhar se volta para o papel das distribuidoras, das estratégias multiplataforma e das novas dinâmicas de descoberta musical. Em um cenário marcado pela fragmentação da atenção, pela força do TikTok e pelo protagonismo do repertório nacional, o desafio passou a ser menos sobre volume e mais sobre impacto, relevância e construção de jornadas consistentes para o público.

O entrevistado é Thiago Hiroshi, Gerente de Parcerias Musicais da SoundOn. Com mais de 16 anos de experiência em marketing e desenvolvimento de negócios, Thiago analisa como foi 2025 para o mercado brasileiro, os indicadores acompanhados pela empresa, os desafios do ano e as oportunidades que se desenham para artistas independentes e gêneros emergentes.

Balanço 2025 com Thiago Hiroshi, Gerente de Parcerias Musicais da SoundOn

Mundo da Música: Quando você olha para 2025 como um todo, quais números melhor resumem o desempenho do mercado de música no Brasil este ano? Pode incluir receita, consumo, catálogo, shows, marketing ou qualquer indicador que tenha sido decisivo, na sua visão.

Thiago Hiroshi: Acredito que 2025 foi um ano de afirmação para a música brasileira. O streaming continuou em expansão e o repertório nacional se manteve no centro da conversa, dominando playlists, paradas e eventos. Vimos artistas nacionais ocupando festivais e arenas no Brasil, enquanto no digital o consumo de conteúdo local permaneceu forte e engajado, além de penetrar em top virais em outros países. É um cenário que comprova o potencial cultural e competitivo do Brasil, criando um ambiente perfeito para que iniciativas estratégicas ampliem ainda mais a presença da nossa música no mapa global.

Mundo da Música: E olhando para dentro da sua empresa, quais métricas vocês usam como termômetro de crescimento? Quais indicadores mostram que 2025 foi (ou não foi) um ano de expansão?

Thiago Hiroshi: Dentro da SoundOn, acompanhamos métricas que vão muito além do volume: olhamos para alcance, impacto e relevância. Monitoramos desde o número de lançamentos até a presença consistente dos nossos artistas em rankings de destaque, passando pela capacidade de ampliar públicos e gerar oportunidades. Em 2025, esses números falaram por si: nos nove primeiros meses do ano, já havíamos superado o total de músicas lançadas no Brasil em todo 2024, e mais de 100 faixas distribuídas pela plataforma apareceram no Spotify Viral Charts ou Top 200. Esse resultado mostra que estamos não apenas lançando mais, mas posicionando nossos artistas em espaços de grande visibilidade e potencial de crescimento.

Mundo da Música: Quais áreas da operação cresceram mais em 2025 e quais ficaram estáveis ou em queda? Que leitura esses movimentos geram sobre o momento do mercado?

Thiago Hiroshi: Ao decorrer do ano vimos uma consolidação das áreas que concentram o maior valor para os artistas: distribuição multiplataforma, presença digital e curadoria estratégica. Nesse contexto, SoundOn teve um papel ativo, conectando talentos a oportunidades de alto impacto. Um dos destaques do ano foi assinar a curadoria musical do segundo jogo oficial da NFL no Brasil, um evento de escala global e enorme relevância cultural, realizado pela segunda vez em São Paulo. Tivemos o prazer de levar o DJ e produtor KVSH para o show de aquecimento, colocando a música eletrônica brasileira no centro de uma vitrine internacional, e a cantora Ana Castela para interpretar o Hino Nacional Brasileiro na abertura, representando nossa música sertaneja em um momento de simbolismo nacional. Além de celebrar gêneros diferentes, essa ação reforçou o nosso compromisso de criar pontes entre artistas brasileiros e públicos diversos, mostrando que, com uma estratégia bem pensada, é possível levar nossa música a novos territórios.

Foram essas frentes que reforçaram nossa presença em grandes eventos e que nos permitiram ampliar o alcance do catálogo. Um grande exemplo deste ano foi o DJ Samir, que em um trabalho em conjunto com o nosso time, focado em uma distribuição e promoção multiplataforma, fortaleceu sua presença digital e, com isso, atingiu a marca de 16 milhões de ouvintes mensais no Spotify com um alcance que ultrapassou as fronteiras brasileiras.

É natural que, em qualquer operação, haja áreas em ritmo de maturação mais estável, porque o mercado muda rápido e nem tudo cresce na mesma proporção, e isso também é positivo, pois garante equilíbrio e sustentabilidade. O que importa é que continuamos direcionando energia para onde conseguimos gerar mais impacto para o artista e para o público.

Mundo da Música: Como evoluiu o consumo de música no Brasil em 2025 na sua perspectiva? O que mudou nos números de streams, catálogo, repertório local, superfãs, descoberta ou formatos?

Thiago Hiroshi: Notamos que o público brasileiro consome música de forma cada vez mais diversa e integrada. O repertório nacional segue muito forte, ocupando as primeiras posições das paradas e movimentando fãs fiéis, mas o que vem mudando é a maneira como as pessoas descobrem e interagem com os artistas.

Hoje percebemos que a descoberta de música passa por uma nova jornada: ela começa no TikTok e em outras plataformas e não mais no streaming. O caminho que o fã percorre é do TikTok para a playlist e quase não mais da playlist para o TikTok. Vemos também os superfãs ganhando um papel central na carreira dos artistas, porque eles extrapolam o consumo compartilhando, criando conteúdo, e influenciando outros ouvintes. Esse comportamento reforça a importância de pensar cada lançamento como parte de uma narrativa multiplataforma que vai muito além do áudio.

Mundo da Música: Há algum dado interno de comportamento do público em 2025 que você acredita ser relevante para o mercado conhecer? Algo que tenha alterado decisões ou estratégias, por exemplo.

Thiago Hiroshi: Um fator que influenciou muito nossas estratégias em 2025 foi o efeito dos lançamentos já pensados para circular de forma integrada entre plataformas e formatos. Quando o artista entra no mercado com um planejamento 360º que conecta áudio, vídeo curto, conteúdo nas redes, atuação dos fãs, e até presença em eventos quando fizer sentido para o lançamento, o resultado tende a ser mais consistente e duradouro. Esse tipo de abordagem aumenta o potencial de descoberta e também a retenção, porque o público encontra a música em diferentes momentos e contextos. Para nós, isso reforça que não basta distribuir, é preciso criar uma jornada para o ouvinte, e isso está no centro da forma como trabalhamos com nossos artistas.

SoundOn 2025
Parcerias na SoundOn ligam artistas a marcas (Crédito: Divulgação)

Mundo da Música: O ano teve desafios importantes. Quais números deixaram evidente que o setor precisou ajustar expectativas ou revisar projeções?

Thiago Hiroshi: A competição pela atenção do público nunca foi tão intensa, e isso obriga todo o mercado a revisar formatos, reavaliar campanhas e buscar cada vez mais precisão no direcionamento. Não é apenas uma questão de orçamento, e sim entender que, com tanta oferta de conteúdo, a disputa não é só musical, é de relevância.

Para nós na SoundOn, esse cenário reforça a importância das nossas estratégias integradas, personalizadas e guiadas por dados para potencializar o crescimento e alcance de cada lançamento, garantindo que cada investimento de tempo e recurso tenha o máximo de retorno para o artista.

Mundo da Música: Falando em artistas, que tipo de crescimento vocês observaram no desempenho de lançamentos, marketing, turnês ou retenção de público em 2025? Há métricas concretas que ilustram essa evolução?

Thiago Hiroshi: Em 2025, percebemos avanços importantes no alcance e na diversificação de público para os nossos artistas. Muitos passaram a ser ouvidos e acompanhados fora do país, seja pelo streaming, seja pela presença em eventos de alto impacto. O caso da NFL no Brasil mostra bem isso: colocar o KVSH e a Ana Castela em um palco global foi uma vitrine poderosa para artistas que já se destacam localmente, mas puderam se conectar com novas audiências internacionais.

Também vimos um crescimento no engajamento contínuo. Artistas que investiram em lançamentos acompanhados de conteúdo e presença em múltiplos canais conseguiram manter a audiência ativa por mais tempo. Um gênero que aproveita muito essas estratégias quase de forma orgânica é o phonk. Muitos artistas conseguem se conectar com os fãs puramente por meio do conteúdo digital, como Dj Samir, Rodricci, Motty, DJ FKU, Fennecxx, entre outros. Isso mostra que, mais do que conquistar plays na estreia, hoje é preciso sustentar a atenção e construir relação – e essa é uma das frentes que trabalhamos muito próximo dos artistas.

Mundo da Música: Se você tivesse que escolher um único indicador que mostra onde a indústria brasileira está indo, qual seria? E como esse número evoluiu em 2025?

Thiago Hiroshi: Se eu tivesse que escolher um único indicador, seria a participação do repertório brasileiro no consumo total de música. Esse dado conta a nossa história de forma muito clara, pois o público brasileiro é um dos mais engajados e relevantes nas plataformas e quer ouvir música feita aqui, e, por isso, essa conexão só cresce.

O repertório nacional ao longo deste ano manteve protagonismo absoluto, dominando paradas e playlists, o que reforça duas mensagens: estamos criando conteúdo com identidade e qualidade.

Mundo da Música: Que oportunidade de 2025 apareceu de forma mais clara quando vocês analisaram os dados internos? Pode ser um comportamento, um formato, um tipo de artista ou uma dinâmica de mercado.

Thiago Hiroshi: Artistas de gêneros emergentes e nichos que se conectam fortemente com comunidades específicas tiveram muitas oportunidades de expansão neste ano. O phonk e o trap, por exemplo, cresceram sua base de ouvintes e ganharam espaço nas plataformas, impulsionados por artistas como Chefin, Dj Duarte e a o selo Lunar Media.

Comportamentos como esse mostram que há um público altamente engajado em busca de sons originais e estéticas próprias, e que investir em diversidade de catálogo e em estratégias específicas para cada gênero é uma maneira poderosa de abrir novas frentes de atuação para artistas brasileiros no cenário global.

Mundo da Música: Para 2026, quais projeções numéricas vocês já conseguem antecipar? Não precisam ser números exatos, mas tendências ou estimativas que indiquem o que esperar do próximo ciclo.

Thiago Hiroshi: Vemos um cenário muito promissor. A tendência é que a música brasileira continue ganhando força fora do país, impulsionada pelo crescimento das comunidades de fãs. Esperamos ampliar o número de artistas do nosso catálogo presentes em eventos e festivais e aumentar a presença de faixas brasileiras em playlists e paradas globais. Também projetamos um crescimento consistente na participação de artistas independentes e selos, que hoje já representam uma parcela significativa da nossa base. Nosso principal foco será aprofundar o trabalho de curadoria e marketing estratégico, para que cada lançamento tenha o máximo de alcance e relevância – dentro e fora do Brasil.

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