A indústria da música em 2025 manteve um ritmo intenso de transformações. O streaming seguiu como principal motor de receita, o repertório local consolidou sua liderança nos charts e a música brasileira avançou de forma consistente no consumo internacional. Ao mesmo tempo, novas métricas de engajamento passaram a ganhar peso, com os superfãs assumindo um papel cada vez mais central na descoberta, na viralização e na sustentação de carreiras no ambiente digital.
É nesse contexto que o Mundo da Música dá continuidade à série Balanço 2025, ouvindo executivos que acompanham o mercado a partir de dados concretos e decisões estratégicas. A proposta é analisar o ano, identificando onde houve crescimento, quais áreas se mantiveram estáveis, quais sinais de alerta surgiram e que oportunidades começam a se desenhar para 2026, a partir do comportamento real do público e da evolução das plataformas.
A convidada desta entrevista é Carolina Alzuguir, Diretora de Música do Spotify Brasil e uma das principais referências da indústria de entretenimento no país. Com mais de 23 anos de experiência, Carolina construiu uma trajetória sólida em marketing, projetos digitais e relacionamento artístico, atuando em campanhas, eventos ao vivo e conteúdos em áudio e vídeo para grandes marcas e talentos.
À frente da estratégia musical do Spotify no Brasil, ela analisa os números de 2025, o avanço da música brasileira no consumo global e os movimentos que ajudam a entender para onde o mercado está caminhando.
Balanço 2025 com Carolina Alzuguir, Diretora de Música do Spotify Brasil
Mundo da Música: Quando você olha para 2025 como um todo, quais números melhor resumem o desempenho do mercado de música no Brasil este ano? Pode incluir receita, consumo, catálogo, shows, marketing ou qualquer indicador que tenha sido decisivo, na sua visão.
Carolina Alzuguir: 2025 consolidou uma tendência que já observamos em anos anteriores: o Brasil é hoje um dos motores globais da música. Em 2024, artistas brasileiros geraram mais de R$ 1,6 bilhão no Spotify, um crescimento de 31% em relação ao ano anterior — ritmo superior ao próprio mercado de música gravada, que cresceu 21,7% e ultrapassou pela primeira vez a marca de R$ 3 bilhões em receita. Além disso, a música brasileira foi descoberta quase 11,8 bilhões de vezes na plataforma, mostrando que nosso repertório não só domina localmente, mas também conquista audiências internacionais. Em 2025, esse movimento se refletiu na Retrospectiva do Spotify, que trouxe uma experiência inédita e interativa, reforçando o engajamento dos fãs e a relevância cultural da música brasileira. Henrique & Juliano, por exemplo, somaram +3,5 bilhões de streams no país e lideraram novamente como os artistas mais ouvidos.
Mundo da Música: E olhando para dentro da sua empresa, quais métricas vocês usam como termômetro de crescimento? Quais indicadores mostram que 2025 foi (ou não foi) um ano de expansão?
Carolina: Nosso principal termômetro é a receita distribuída aos artistas, porque ela reflete diretamente o impacto econômico da plataforma. Também acompanhamos indicadores como o número de artistas que ultrapassaram R$ 1 milhão em ganhos, que triplicou desde 2019, e o crescimento dos streams internacionais, especialmente de mulheres, que avançaram 51% no último ano. Outro dado essencial é o engajamento em playlists: a música brasileira esteve presente em mais de 815 milhões de playlists ao redor do mundo. Em 2025, a Retrospectiva trouxe novas métricas de engajamento, como o Ranking de Fãs e os Clubes, que reforçam a importância dos superfãs na estratégia.
Mundo da Música: Quais áreas da operação cresceram mais em 2025 e quais ficaram estáveis ou em queda? Que leitura esses movimentos geram sobre o momento do mercado?
Carolina: Vimos um crescimento expressivo em descoberta global e engajamento em playlists, impulsionado por uma base de usuários cada vez maior e mais ativa. No 3º trimestre de 2025, o Spotify registrou 713 milhões de Usuários Mensais Ativos (+11% Y/Y) e 281 milhões de assinantes (+12% Y/Y), com a América Latina representando 21% dos MAUs e 23% dos assinantes globais, reforçando a relevância da região. A receita total cresceu 12% Y/Y, atingindo €4,3 bilhões, e alcançamos rentabilidade recorde com margem bruta de 31,6% e resultado operacional de €582 milhões. Esses movimentos indicam um mercado em expansão, com forte demanda por experiências digitais e maior disposição para investir em conteúdo premium.
Mundo da Música: Como evoluiu o consumo de música no Brasil em 2025 na sua perspectiva? O que mudou nos números de streams, catálogo, repertório local, superfãs, descoberta ou formatos?
Carolina: O consumo evoluiu em duas frentes: mais streams e mais superfãs. O repertório local continua dominante — 84% das faixas no Top 50 diário são de artistas brasileiros —, mas a forma de descoberta mudou. Vídeos curtos e redes sociais impulsionaram virais, refletindo em bilhões de primeiras reproduções, e a música brasileira está sendo consumida como nunca, dentro e fora do país. Além disso, o engajamento atingiu novos patamares com experiências como a Retrospectiva 2025, que já se provou a maior da história: 200 milhões de usuários engajados nas primeiras 24 horas (+19% Y/Y) e mais de 500 milhões de compartilhamentos (+41% Y/Y), mostrando que superfãs estão mais ativos e sociais do que nunca. Esse comportamento reforça uma tendência clara: consumo mais intenso, conectado e interativo.

Mundo da Música: Há algum dado interno de comportamento do público em 2025 que você acredita ser relevante para o mercado conhecer? Algo que tenha alterado decisões ou estratégias, por exemplo.
Carolina: Sim. O comportamento dos super ouvintes mudou estratégias: eles passam até 3 vezes mais tempo com seus artistas favoritos e são os primeiros a transformar descoberta em engajamento. Também vimos aumento no consumo cruzado entre música e podcasts e o uso de playlists colaborativas como ferramenta social.
Mundo da Música: Se você tivesse que escolher um único indicador que mostra onde a indústria brasileira está indo, qual seria? E como esse número evoluiu em 2025?
Carolina: Seria o número de descobertas globais: 11,8 bilhões de primeiras reproduções, pois mostra que o Brasil está se tornando um exportador cultural relevante e que a música brasileira tem apelo mundial. Esse movimento é reforçado pelo crescimento expressivo da indústria: em 2024, artistas brasileiros geraram mais de R$ 1,6 bilhão no Spotify, um aumento de 31% em relação ao ano anterior e mais que o dobro do valor distribuído em 2021. Esses números indicam uma tendência clara de internacionalização e consolidação do país como potência cultural global, impulsionada pelo consumo digital e pela expansão para novos mercados.
Mundo da Música: Que oportunidade de 2025 apareceu de forma mais clara quando vocês analisaram os dados internos? Pode ser um comportamento, um formato, um tipo de artista ou uma dinâmica de mercado.
Carolina: A internacionalização de artistas brasileiros, especialmente mulheres, que tiveram um crescimento de 51% nos streams internacionais, abre espaço para estratégias globais e colaborações que antes eram raras. Segundo a Retrospectiva desse ano, podemos melhorar no consumo da música das artistas mulheres — isso é algo que o mercado brasileiro pode evoluir. Apesar da predominância masculina entre os mais ouvidos, vimos sinais positivos com Ana Castela (11º), Simone Mendes (12º) e Marília Mendonça (13º) no ranking, além do impacto contínuo do legado de Marília. Outro ponto claro é a força das collabs, que impulsionam descobertas e conversam com hábitos multiplataforma, e o crescimento de gêneros como pagode, arrocha e da música cristã, mostrando diversidade e novas oportunidades para engajamento e monetização.
Mundo da Música: Para 2026, quais projeções numéricas vocês já conseguem antecipar? Não precisam ser números exatos, mas tendências ou estimativas que indiquem o que esperar do próximo ciclo.
Carolina: Para 2026, a expectativa é de um crescimento contínuo no consumo de música e na valorização dos artistas, especialmente aqueles que participam de programas como EQUAL, GLOW e Amplifika, que dão mais visibilidade para mulheres, artistas pretos e LGBTQIAPN+ e novos talentos. A tendência é que esses projetos ampliem ainda mais sua presença, impulsionando descobertas e aumentando a diversidade nas playlists e nos charts. Além disso, o público brasileiro deve seguir fortalecendo gêneros locais e abraçando artistas independentes, criando um cenário mais inclusivo e dinâmico para a música no próximo ciclo.
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