Bad Bunny vence Grand Prix em Cannes e vira capa da Variety – mesmo sem fazer shows nos EUA

Ação da DDB Latina com Google Street View impulsionou o novo álbum e reafirma Bad Bunny como símbolo cultural de Porto Rico.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Tracking Bad Bunny

Bad Bunny foi um dos grandes destaques do Cannes Lions 2025 ao conquistar o Grand Prix na categoria Entertainment Lions for Music com a campanha “Tracking Bad Bunny”. A ação, criada pela DDB Latina em parceria com a Rimas Music, transformou o lançamento do álbum DeBÍ TiRAR MáS FOToS em uma experiência digital de escala global: em vez de divulgar os nomes das faixas no Spotify, o artista os substituiu por coordenadas geográficas que levavam a pontos específicos de Porto Rico no Google Street View.

O resultado foi uma espécie de caça ao tesouro digital. Fãs do mundo inteiro entraram na plataforma para buscar pistas visuais (como murais, placas e objetos) que revelavam os títulos reais das músicas. A ação engajou o público e alavancou o álbum a números expressivos: 182 milhões de pessoas de 61 países participaram da experiência, que gerou US$ 40 milhões em mídia espontânea e impulsionou em 350% as buscas sobre Porto Rico no Google.

O impacto não foi meramente publicitário. “Tracking Bad Bunny” também serviu como resposta simbólica à retórica política que desvaloriza Porto Rico. Em outubro de 2024, um comediante apoiador de Donald Trump chamou o território de “ilha flutuante de lixo” durante um comício. Dois meses depois, a ação de marketing de Bad Bunny resgatava a beleza cultural da ilha, com o próprio artista atuando como co-diretor criativo da campanha.

Capa da Variety destaca ausência dos EUA na nova turnê

Enquanto celebrava a conquista em Cannes, Bad Bunny também foi destaque na Variety, ao aparecer na capa da edição de junho. Na entrevista, o cantor porto-riquenho foi direto ao ser questionado sobre a ausência de datas nos Estados Unidos em sua próxima turnê. “Não é necessário”, afirmou. Para ele, o público norte-americano já teve muitas oportunidades de vê-lo ao vivo nos últimos seis anos.

A fala provocou debates nas redes sociais e no mercado, especialmente em um momento em que outros artistas latino-americanos vêm enfrentando dificuldades para realizar shows nos Estados Unidos. Embora Bad Bunny não tenha cancelado datas, a opção por não incluir o país na rota parece refletir uma postura crítica e estratégica.

Tensão política e barreiras migratórias impactam o mercado

O posicionamento de Bad Bunny acontece em meio à intensificação das discussões sobre imigração nos Estados Unidos. O presidente Donald Trump voltou a defender políticas rígidas contra imigrantes, incluindo medidas que afetam diretamente artistas estrangeiros. Em 2025, diversos músicos latino-americanos relataram dificuldades para obter vistos ou tiveram suas autorizações de entrada revogadas, levando ao cancelamento de turnês ou shows pontuais.

Esse cenário tem causado preocupação no setor. Agências de turnê e produtores independentes relatam maior burocracia e aumento nos custos para garantir a entrada de artistas nos EUA. A falta de previsibilidade impacta não apenas o planejamento logístico, mas também as negociações com patrocinadores e plataformas de streaming.

Embora Bad Bunny esteja em posição privilegiada e possa escolher onde se apresentar, sua decisão ganha outros contornos ao ser lida no contexto político e migratório atual. Sua ausência do mercado norte-americano pode ser vista tanto como uma declaração simbólica quanto como um reflexo das barreiras reais enfrentadas por artistas latinos.

Orgulho local como estratégia de marketing global

Campanha de Bad Bunny no Google Street View
Campanha de Bad Bunny no Google Street View (Crédito: Reprodução)

Desde o início da carreira, Bad Bunny tem utilizado sua visibilidade internacional para valorizar a cultura porto-riquenha, seja nas letras, no visual ou nas campanhas de divulgação. A ação premiada em Cannes reforça essa estratégia ao aproximar os fãs da geografia e das histórias da ilha, numa espécie de turismo musical digital.

Para o júri do festival, o trabalho representa um novo patamar para o marketing na música. Ao unir dados, interatividade, cultura local e storytelling, a campanha transformou o lançamento de um disco em um movimento global. “Trouxe orgulho não só para Porto Rico, mas para toda a América Latina”, disse Seiya Matsumiya, presidente do júri.

Escolhas que apontam para um novo modelo de carreira

A recusa de Bad Bunny em seguir os modelos tradicionais de turnês internacionais e seu envolvimento direto nas campanhas de divulgação indicam uma abordagem cada vez mais autoral e seletiva. Ele parece menos interessado em manter uma presença constante em mercados estratégicos e mais empenhado em construir experiências que dialoguem com seus valores e com sua comunidade.

Para a indústria musical, essa postura pode sinalizar uma mudança nas prioridades de artistas que já conquistaram alcance global. Em vez de atender a todas as demandas de mercado, eles passam a selecionar projetos que reforcem sua identidade e promovam conexão genuína com o público.

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